GENTES DE MELGAÇO
(Micro biografias)
Por Joaquim A. Rocha
Por Joaquim A. Rocha
PRADO
O meu amigo e conterrâneo Dr. Valter Alves, no seu blogue «Melgaço, entre o Minho e a Serra», do dia 29/12/2017, sexta-feira, escreve sobre um cerco à fortaleza de Melgaço na década de quarenta do século XIX. Fala no seu governador (militar e civil) mas não menciona, talvez por esquecimento, o seu nome. A sua fonte principal foi o jornal espanhol El Católico, de 13/5/1846. O Dr. Augusto César Esteves, num dos seus ensaios históricos, também aborda esse tema. Eu, não desejando ser indelicado, vou colmatar essa omissão, pois esse tal governador era padrinho da minha avó materna, Maria Libânia Alves (1869-1947). Eis então o nome do dito senhor e das suas duas filhas:
GAMA,
Luís. Filho de Luís Caetano de Sousa Gama, viúvo, capitão-mor do termo de
Melgaço, natural de Prado, e de Maria Antónia da Ribera de Peina, solteira, natural
de Alveios, Galiza, moradores na Casa e Quinta da Serra, Prado. Neto paterno de
Pedro de Sousa Gama e de Maria Teresa de Sousa Salgado; neto materno de Domingos
António Lourenço de Peina e de Maria Ventura da Ribera Geraldes. Nasceu em Prado a --/--/1790.
// Assentou praça no Regimento de Artilharia de Viana em 1808. // Em princípios
de 1809 foi admitido no número dos cadetes do seu regimento (artilharia). // A 16/10/1809, na
situação de cadete de artilharia, entrou nas campanhas da Guerra Peninsular. //
Depois embarcou para o Rio de Janeiro onde, a 14/5/1818, foi promovido a
alferes da 2.ª Companhia de Caçadores, e em Outubro do mesmo ano a tenente. //
A 26/2/1821, com mais dez cabecilhas, arrancou para o Rocio as forças do seu
comando, com as quais, e com outras, se exigiu de D. João VI o juramento da
Constituição. // Por decreto de 13/5/1821 foi nomeado capitão de infantaria e
adido do Estado Maior do Rio de Janeiro. // A 26/6/1821 foi agraciado com o
hábito de Cristo, cujas insígnias usou desde esse dia até à morte. // Regressou
a Portugal, fazendo a sua apresentação no Quartel de São Julião da Torre. //
Casou em Lisboa em 1826 com Maria Delfina, filha do “brasileiro” José Correia
da Silva, de Vermoim, Famalicão, e de Rosa Grangel do Amaral, brasileira, do
Rio de Janeiro, a qual foi dotada pelos pais em oito contos de réis. // Veio
com a esposa para Melgaço, mas aqui viveu em sobressalto, devido à guerra
civil. A maior parte dos fidalgos melgacences abraçavam a causa de D. Miguel I,
estando assim em campos opostos ao dele, que defendia a Carta Constitucional mandada
elaborar por D. Pedro IV. Os anos passaram, e a 19/4/1834 pôde enfim aclamar D.
Maria II como legítima herdeira ao trono português. // Foi provedor da Santa Casa
da Misericórdia de Melgaço em 1838 e 1839. // Reformou-se em 1843 com a patente
de major, passando a adido da Companhia de Veteranos de Valença, sendo então
nomeado Governador Militar da Praça de Melgaço, cargo que desempenhou enquanto
foi vivo, extinguindo-se com ele. // Morreu a 31/12/1870. // Filhas:
GAMA, Alexandrina Augusta. Filha de
Luís de Sousa Gama e de Maria Delfina do Amaral Correia da Silva. Neta paterna
de Luís Caetano de Sousa Gama e de Maria Antónia da Ribera e Peina; neta
materna de José Correia da Silva, natural de Vermoim, Famalicão, emigrante no
Brasil, e de Rosa Granjel do Amaral, nascida na cidade do Rio de Janeiro. Nasceu
na Casa da Serra, Prado de Melgaço, a 22/3/1825, e foi batizada na igreja de Prado a 25 desse mês e
ano. Padrinhos: Alexandre José Picaluga (conselheiro)
e sua esposa, Ana Rosa de Abreu, de Lisboa, representados por António de Sousa
Gama e por Maria Benedita de Sousa Gama, tios da batizanda. // É provável que
tenha feito a 4.ª classe da instrução primária e tenha aprendido na sua
adolescência a costurar e a dirigir uma casa. // Casou a 13/2/1848 com Luís
Vicente, nascido em 1829, filho de Manuel Inácio Gomes Pinheiro e de Maria
Angélica de Araújo Cunha, da Casa da Gaia, tendo ido viver com seu marido para
o lugar do Barral. Passados seis anos mudaram a residência para a Quinta da Serra, sita
em Prado. // Em 1881 já estavam cansados um do outro: Luís Vicente parte para o
Barral de Paderne e ela apresenta no tribunal uma petição pedindo a separação
de bens, acusando o marido de fazer vida à parte, gastar o dinheiro mal gasto,
e não lhe dar a ela e aos filhos o suficiente para viverem com dignidade. Mais
tarde pede a separação de pessoas e bens, alegando ter ele uma amante, já com
filhos dele, além disso filha adulterina de seu próprio marido, Luís Vicente!
Apesar deste estendal de acusações, em 1882 reconciliaram-se! Era seu advogado
José António de Abreu Cunha Araújo. // Alexandrina Augusta faleceu na Casa da
Serra a 31/3/1897 e foi sepultada no cemitério da Vila, em jazigo de família.
// O seu viúvo passou a morar na Quinta do Barral, onde morreu a 23/5/1902,
sendo sepultado ao lado da sua mulher!
GAMA, Carolina Augusta. Filha de Luís
de Sousa Gama, melgacense, e de Maria Delfina do Amaral Correia da Silva, brasileira,
moradores na Casa e Quinta da Serra, Prado. Neta paterna de Luís Caetano de
Sousa Gama e de Maria Antónia da Ribera, da dita Casa; neta materna de José
Correia da Silva, de Vermoim, Vila Nova de Famalicão, e de Rosa Gragel de
Amaral, do Rio de Janeiro. Nasceu na Casa da Serra a 22/12/1829 e foi batizada na
igreja dois dias depois. Padrinhos: António Augusto Picaluga, de Lisboa (representado por António de Sousa Gama, da Quinta da Serra),
e Mafalda Augusta Picaluga, de Lisboa (representada
por Maria Benedita de Sousa Gama, da Casa da Serra).
// Casou na igreja de Prado a 6/1/1867 com o seu conterrâneo Dr. João Luís de
Sousa Palhares, de 33 anos de idade, bacharel formado em Medicina, viúvo de Teresa
da Conceição Araújo Cunha. // Moraram no lugar de Ferreiros, Prado, onde ela
faleceu a 25/2/1868, grávida de sete meses.