quinta-feira, 29 de junho de 2017


OS NOVOS LUSÍADAS
(tentativa de continuação de «Os Lusíadas» de Camões)
 
Por Joaquim A. Rocha



60

 Por essa altura, um matemático,

Pedro Nunes, assim era chamado,

Investigador, mestre catedrático,

Em Alcácer do Sal (Setúbal) nado,

Com seu espírito calmo, fleumático

Inventa o nónio, mui gabado…

Interessa-lhe também medicina,

E outras ciências que ensina.

 
61
 

Deste reino, foi cosmógrafo-mor,

Sabia lógica e metafísica;

Em tudo, ele era o maior,

Curava males, a terrível tísica.

Conhecia os mil astros de cor,

Estudava a química e física.

Na cidade de Coimbra morreu,

Até hoje ninguém o esqueceu.


62

O rei João gerara nove filhos,

Mas nenhum deles lhe sobreviveu;

Isso provocou guerras e sarilhos,

O neto não era inda corifeu;

Surgiram imensos cadilhos,

Invocou-se a virgem, o santo céu.

Sebastião tinha apenas três anos,

Era inda na idade dos enganos.

63

Regeu em seu nome Dona Catarina,

Viúva do rei Dom João Terceiro,

Que já não era nenhuma menina,

Nem sabia como governar o reino.

Portou-se como uma frágil bonina,

Sem qualquer saber, sem mínimo treino.

E pra que tudo não caísse a pique

Subiu ao poder seu tio Henrique.


64
Neste reinado tomou-se Damão

À velha Índia, cheia de mistérios;

 Rio de Janeiro nasceu da paixão,

Desse povo de honestos e galdérios;

Cresceu como a espiga no verão,

Tornou-se capital do novo império.

De longe Camões trouxe um tesouro,

Mais valioso do que prata ou ouro.

 65

Os Lusíadas, obra monumental,

São apresentados ao jovem rei,

Que os lê como se fora missal;

Ele não sabia, e nem eu sei,

Se a leitura lhe fez bem ou mal,

Se o engrandeceu perante a grei.

Meteram-lhe bichinhos na cabeça,

Louvores que eu duvido que mereça.

66

Foi crescendo assim o jovem monarca,

No meio de santinhos e padrecos,

Lendo Santo Agostinho e Petrarca;

Ouvindo sermões de sacerdotes recos.

Sonhando imprimir a sua marca,

Criando um exército de tarecos.

Ansioso por seus dotes exibir

Cai na batalha de Alcácer-Quibir.

 67

Era inda uma simples criança,

Solteirinho, sem qualquer descendente,

Um pobre seguidor, um Sancho Pança,

Deixando este país dependente.

Da Espanha um Filipe avança,

A fim de substituir o rei ausente.

E pra que se cumpra o seu desejo

Manda as suas tropas prò despejo.

68

Dom Sebastião não é o desejado,

Não voltará jamais da sua cova;

Pelo povo será sempre desprezado,

Pela terrível, monumental sova.

Do seu exemplo, outrora glorificado,

Pouco resta, ou nada sobra.

Descanse em paz onde quer que esteja,

 Pois a sua obra ninguém a inveja. 

Sem comentários:

Enviar um comentário