quarta-feira, 14 de junho de 2017

DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MELGAÇO
 
Por Joaquim A. Rocha
 
 
 
 
Escritores Melgacenses

Dr. Ricardo Manuel Ferreira Gonçalves. Nasceu no lugar de Ferreiros, freguesia de Paderne, a 13/9/1957. Tirou o curso de filosofia, deu aulas no ensino secundário durante algum tempo, depois aderiu ao Partido Socialista e foi deputado na Assembleia da República até 2011, salvo erro. Na sua juventude escreveu um livro, ao qual deu o título de «Carneiros em Transumância – emigrantes clandestinos», editado pela Perspectivas & Realidades, com o patrocínio da Associação Cultural Inês Negra. Aborda o problema do “salto” para o estrangeiro, sobretudo para França, a miséria no mundo rural, etc. Embora o tema seja socialmente interessante, peca pela sua qualidade textual. Espera-se que numa segunda edição o texto seja mais cuidado, e se mude de título e de desenho, pois a palavra “carneiros”, em lugar de homens, ou pessoas, é demasiado forte, até agressiva, apesar de retratar uma certa realidade daquela época, anos sessenta do século XX. Manuel Igrejas, emigrante no Brasil, leu o livro e comentou: «O tema é aliciante, bem desenvolvido, (…) em narração envolvente e linguagem agradável e primorosa com termos das nossas aldeias… É realista, mas exagerado, muito pessoal no conceito ideológico. Esta intenção do autor… é desculpável, uma vez que na apresentação da sua pessoa se confessa militante socialista. Todavia, o rancor ao anterior regime … diminui um pouco o valor literário. Ele poderia contar a história sem marcar os conceitos políticos, apenas dá-los a entender subjectivamente. Como expõe abertamente o seu idealismo, dá-me o direito de dizer que não concordo totalmente com esses conceitos. No entanto, àparte o exposto, o livro é bom…. Um grande mérito, além do valor intrínseco, é provocar na consciência dos leitores, pessoas daquele tempo, uma análise, profunda meditação do sacrificado modus vivendi daquela época. Nalguns trechos tive de reler várias vezes para apreender o sentido devido a pontuação confusa. Isso será motivo para uma apurada revisão na próxima edição. O livro é interessantíssimo com passagens de bom humor subtil e inteligente e a segunda parte de terrível dramaticidade. Recomendo a sua leitura a toda a gente, especialmente aos melgacenses. Aqueles emigrantes que deram o “salto” nos anos 60 e 70 vão-se achar retratados. O livro focaliza muitas verdades, algumas bem terríveis que não deveriam ser ditas, porém, nem sempre devidas às circunstâncias a que se refere. O autor, na ânsia de expor seu ponto de vista ideológico, atribue todos os males ao regime a que era avesso. O livro foi escrito há onze anos e neste lapso de tempo muitas das assertivas assacadas contra o regime de então estão sendo vistas doutra maneira. Se aos 24 anos o Ricardo foi capaz de escrever uma obra destas, muito há a esperar de sua inteligência e amadurecimento...» (VM 972, de 15/10/1992).           

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