domingo, 16 de junho de 2019

AGORA COMO DANTES
 
Por Joaquim A. Rocha




BALTAZAR. // Nasceu no século XIX. // Morou no lugar de Crastos, freguesia de Paderne, concelho de Melgaço. // Constava que depois da sua morte se apurou ficar este a dever à Confraria dos Clérigos de Paderne, da qual fora tesoureiro colado, oitocentos e tal escudos «mas que esta quantia ainda se não acha em cofre porque os herdeiros daquele Baltazar têm sido sempre acobertados pela Mesa de então, e por todas as que se lhe seguiram, devido a terem-se ali colado também não só mesários, como também o tesoureiro Rafael» (Correio de Melgaço n.º 104, de 23/6/1914). // Comentário: se ficou a dever à Confraria é porque se serviu de dinheiros dela para os seus próprios fins. Os clérigos de Paderne, frades agostinhos, confiaram cegamente nele, atribuíram-lhe a colação, mas pelos vistos o Baltazar não era de confiança. Consequências: ficaram certamente sem esse dinheiro, e provavelmente sem outros que não foram detetados. Estávamos no século XIX mas no século XXI é diferente? Julgo que não. A corrupção alastrou como a produção dos morangos e dos cogumelos. É doce, é bom, e por isso todos gostam. Quem resiste à entrada de dinheiro na sua conta bancária? Quase ninguém. Ganhar dinheiro fácil é aquilo que a maioria procura. A honestidade, a honradez, é somente para alguns, sobretudo para os “parvos”. Em nossos dias não há praticamente ninguém que não esteja sob suspeita: presidentes de Câmara, secretários de Estado, ministros, administradores, diretores gerais, gestores, de grandes ou médias empresas, presidentes de clubes de futebol, banqueiros, etc., todos são alvo de investigações pelas polícias judiciárias, mas até estas por vezes são acusadas pelo Ministério Público de crimes de peculato e outros. Há pessoas que me perguntam: - onde isto irá parar? Eu respondo-lhes: - a lado nenhum! Temos de nos habituar a viver neste ambiente corrupto, neste lodo. As cadeias já nada resolvem. São universidades do crime. Ali toda a malandrice se aprende. Todos os truques, todas as perversidades, todo o mal, ali se adquire, gratuitamente, sem pagar propinas a ninguém. Não haja quaisquer ilusões: o mal, a baixeza, a falta de escrúpulos, impera em todas as prisões do planeta terra. As leis, os tribunais, as polícias, não conseguem resolver este problema. Todos os anos o crime aumenta. É uma praga. Quanto a mim, incrédulo como Tomé, só há um caminho a seguir: esperar pacientemente, aprender a sobriver no meio do caos.        

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