sexta-feira, 17 de maio de 2019

OS NOVOS LUSÍADAS




26

 Escorbuto, malária, mil doenças,

Atingem nossos nautas ferozmente…


Rezam-se missas, reforçam-se crenças,

Mas cada dia falece mais gente...

Os que restam já sonham gordas tenças.

O rei, no seu trono, está contente... 

E antes que a parca a todos mate

Tocam os grandes sinos a rebate.

27

 

Perderam-se cem naus, muitas caravelas,

Os marinheiros que as pilotavam;

Por sua alma queimam-se tantas velas!

Choram-se as pessoas que se amavam...

Crentes oram nas igrejas… capelas,

Viúvas de dor e raiva gritavam.

O astro-luz do ar desaparece…

O povo lança-se ao chão numa prece.

 

28

 

E assim o bei ganhou eterna fama

À custa dessas vidas por cumprir;

Morreram no alto mar, longe da cama,

Em sofrimento atroz… a bramir.

E quantos tombaram na suja lama,

Para o anjo da morte bem nutrir.

Os deuses assistiram à matança,

Mas ficaram em paz, em segurança.

 

29

 

Gaspar Real topou a Terra Nova,

 João da Nova, Ascensão e Helena.

Aqui e ali levavam dura sova,

A tripulação ficava mais pequena.

O mar profundo era a sua cova,

Todos choram aquela triste cena.

Só resta àquela gente a ilusão,

Forte ânimo, o braço do capitão.

30

 

Pra provar a redondeza da Terra

Magalhães fez uma longa viagem.

Não quis saber de lutas ou de guerra,

Ocupou-se mais do tempo, da aragem.

Mas destino, que tudo em si encerra,

Despojou-lhe a vida, pô-lo à margem!

Pereceu cangado pelo sucesso,

Não permitindo assim o seu regresso.


// continua…





rosa natural
 

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