DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MELGAÇO
(LAR PEREIRA DE SOUSA)
Por Joaquim A. Rocha
Para se perceber a origem deste lar é necessário conhecer as duas pessoas que lhe deram origem, ou seja, os dois irmãos nascidos no concelho de Ponte de Lima, província do Minho. Comecemos pelo Dr. António Pereira de Sousa. Era filho de Custódio Manuel de Sousa, de
Labrujó, e de Rosa Pereira, de Vascões, Paredes de Coura, proprietários. Nasceu
em Labrujó, Ponte de Lima, por volta de 1850. // Veio para Melgaço em 1877, ano
em que terminara o curso de Medicina e Cirurgia na Universidade de Coimbra, a
fim de assumir o cargo de facultativo municipal. Em 1896 esteve em Castro
Laboreiro e declarou que era urgente tomar providências com o objetivo de
extinguir a doença chamada «influenza», que ali grassava. // Em 1897 tornou-se
administrador efetivo do concelho de Melgaço, tendo como substituto o Dr.
Durães (pai). // Em 1898 pediu a exoneração de cirurgião-ajudante do exército
(Valenciano n.º 1835, de 27/2/1898). // Em Junho de 1907 era de novo
administrador do concelho, mas logo pediu a demissão (JM 693, de 25/7/1907). //
Em 1908 deslocou-se a Viana do Castelo a fim de prestar juramento como administrador do
concelho de Melgaço; era na altura Governador Civil do distrito o Dr. Luís
Augusto de Amorim, cuja posse lhe tinha sido dada recentemente (Jornal de Melgaço n.º 724). //
Tomou posse de administrador a 10/3/1908. // Nesse ano de 1908 era ele o chefe
do Partido Progressista em Melgaço e diretor clínico da Empresa das Águas
Minerais do Peso (JM 732, de 7/5/1908). // A 19/4/1909 foi padrinho de António
Rodrigues, nascido na Vila de Melgaço a 13 desse mês e ano; a madrinha era Maria Joaquina
Pires, solteira, proprietária. // Depois de Outubro de 1910 o regime mudou,
vieram os republicanos tomar conta do poder, foi demitido de médico municipal
pelo presidente da Comissão Administrativa, João Pires Teixeira; ele interpôs
recurso à Comissão Distrital, que o reintegrou, recebendo todos os vencimentos
em atraso (Correio de Melgaço n.º 74, de 9/11/1913); a partir daí abandonou a
política ativa. // No jornal citado, n.º 74, alguém lhe dedicou um poema. // A
1/12/1912 foi nomeado diretor clínico, interino, do hospital da Santa Casa da Misericórdia de Melgaço. // Morreu
na sua casa de Eiró de Baixo, freguesia de Rouças, a 17/5/1914, domingo, no estado de solteiro, com 64
anos de idade, e foi sepultado na terça-feira no cemitério público, no jazigo
de Emília de Barros Durães (ver Correio de Melgaço n.º 101, de 24/5/1914). // O
Dr. António Fânzeres, médico em Paredes de Coura, candidatou-se ao seu lugar,
mas não foi escolhido (Correio de Melgaço n.º 106 e 108). O escolhido pela
Câmara a 16/7/1914 foi o Dr. Miguel Pereira da Silva Fonseca, de Barcelos, mas
penso que não chegou a vir para Melgaço. Finalmente foi substituído, como
facultativo, pelo Dr. Germano Augusto Fernandes, de Monção, tomando posse a
23/1/1915; mas, apesar de ter recebido dinheiro da Câmara Municipal, não apareceu
ao serviço, deixando-se ficar por Famalicão. Veio depois o Dr. Manuel Pinto de
Magalhães, médico em Lousada, o qual foi nomeado pela Câmara Municipal em
reunião extraordinária de 24/5/1915. // A Casa e Quinta de Eiró foram por ele e
seu irmão Francisco, contador do juízo, casado com Maria Pia Pereira de Castro,
da Casa de Galvão, doados à Santa Casa da Misericórdia de Melgaço a fim dali
ser instalado um Asilo para pobres, o que veio a acontecer depois de 20/9/1936.
Daí chamar-se Lar Pereira de Sousa, em homenagem aos dois irmãos. // Além do
Francisco, tinha outro irmão: José António Pereira de Sousa, casado, advogado,
residente na Vila dos Arcos de Valdevez. // Nota: embora no seu assento de óbito se diga que morreu solteiro e
sem filhos, consta que gerou em Maria Pires, sua empregada, uma criança do sexo
masculino, à qual deram o nome de António, mais tarde comerciante na Vila,
conhecido por “António Xinto”. Verdade? Mentira?
*
SOUSA, Francisco. Filho de Custódio Manuel de Sousa, de
Labrujó, Ponte de Lima, e de Rosa Pereira, de Vascões, Parede de Coura. Nasceu
na dita freguesia de Labrujó por volta de 1854. // Veio para Melgaço como
contador do juízo de direito. Como tinha aqui o seu irmão médico, Dr. António
Pereira de Sousa, por aqui se deixou ficar. // Casou em 1916 (pelo civil na freguesia de Rouças, onde residia, e pelo
religioso nos Arcos de Valdevez – ver Correio de Melgaço n.º 210, de 6/8/1916,
e n.º 211, de 13/8/1916) com Maria Pia Pereira de Castro, fidalga, da
Casa de Galvão. // Morreu a 14/2/1919. // A sua viúva finou-se a 24/11/1935.
// Sem geração. // Por terem doado a Casa e Quinta de Eiró de Baixo à SCMM esta,
em sua homenagem, deu ao Asilo o nome de “Lar Pereira de Sousa”.
Este tema carece de mais investigação. Ainda não sei, por exemplo, quando estes dois irmãos adquiriram a Casa e Quinta de Eiró, Rouças, e a quem. Suponho que pertencia a uma das famílias fidalgas do concelho.
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