sexta-feira, 31 de março de 2017

POEMAS DO VENTO
 
Por Joaquim A. Rocha



desenho de Rui Nunes


FIM E PRINCÍPIO 
 

Já ao longe vislumbro o teu exército.

O malvado, qual fera, vem-me atacar!

Os infantes apontam-me as suas

metralhadoras de cano negro;

são portadoras da fria morte!

Os teus aviões preparam-se para me bombardear.

Bombas gigantes estão a ser lançadas do espaço!

Os «drones» já descobriram o meu frágil corpo.

Os teu navios, vorazes monstros de guerra,

começam a vomitar a sua cólera incontida;

e as árvores, minhas protetoras,

caem como bebés: desamparadas e impotentes!

O teu juízo está feito. A tua sentença foi lida: 

condenação à fogueira!

Devo morrer, desaparecer da tua vida.

Devo mergulhar no esquecimento

como coisa, ou objeto coisificado!

As primeiras balas atingem-me.

As bombas começam a explodir.

O meu pobre corpo já não existe.

Está destroçado. Está reduzido

a pequenas partículas que as botas dos infantes

enterram na areia do deserto.

O oásis desapareceu. A vida pereceu.

Sobreveio-lhe a cruel lembrança…

O silêncio! Mas eis que a memória prevalece.

Existem as imagens retidas no armazém

do Tempo.

 Agora já não mais poderás destruir-me!

Nem com as tuas balas,

 nem com as tuas bombas,

nem com a tua indiferença.

Agora eu já poderei viver contigo!

Não podes afastar-me.

Não poderás fragmentar-me segunda vez!

O teu poderoso exército já nada

pode contra mim.

O teu príncipe sentirá ciúmes

da minha sombra invisível.

As tuas horas supremas de prazer, serei eu,

e não ele, quem tas proporcionará!

Em todas as tuas aflições, serei eu,

e não ele, quem tas ajudará a superar.

Eu sou uma ideia!

Eu sou uma não existência!

Não poderás, doravante, ignorar-me!

 

 

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