terça-feira, 23 de junho de 2015


GENTES DE MELGAÇO 

Freguesia da Vila (SMP)

                                                         Por Joaquim A. Rocha




ESTEVES, Augusto César (Dr.) Filho de Francisco António Esteves, emigrante no Brasil e proprietário, de Chaviães, e de Belarmina Cândida Esteves, proprietária, da Vila. Neto paterno de Diogo Manuel Esteves e de Maria Rita Esteves, lavradores, chavianenses; neto materno de Manuel José Esteves “Melgaço” e de Maria Rita Alves, proprietários, moradores em Eiró, Rouças. Nasceu na Rua Nova de Melo a 19/9/1889, na casa que seu pai comprara ao Dr. João Luís de Sousa Palhares, de Prado, e foi batizado a 3 de Outubro desse ano. Padrinhos: José de Jesus Esteves, solteiro, proprietário, morador em SMP, e a avó materna do batizando, viúva. // Ficou órfão de mãe a 17/10/1889. // Aprendeu as primeiras letras com o padre João Nepomuceno Vaz, teve como professor de caligrafia o escrivão de Direito, Miguel Ângelo Barros Ferreira, frequentou em seguida, na cidade de Braga, o Colégio do Espírito Santo, e depois a Universidade. // Foi padrinho de Zoé Augusta Rodrigues, batizada na igreja de Rouças a 14 de Fevereiro de 1898; não assinou, por ainda não saber! A madrinha era a sua madrasta. // A 30/8/1904 foi padrinho de Manuel Augusto Esteves, nascido na Fonte da Vila a 28 de Julho desse ano. // A 18/6/1912 fez direito internacional, 5.º ano, 19.ª cadeira; nesse mesmo ano fez exame da 18.ª cadeira, 5.º ano, medicina legal, obtendo 14 valores; em Julho desse ano fez a 13.ª cadeira, direito colonial, 4.º ano, 14.ª cadeira, processo penal, 4.º ano, e 17.ª cadeira, prática extra judicial, 5.º ano; nesse dito ano de 1912, no mês de Julho, concluiu o curso de Ciências Jurídicas, na Universidade de Coimbra. // Nos primeiros dias de Dezembro desse mesmo ano participou como ator não profissional, juntamente com o Dr. António Augusto Durães e Maker Pinto, na comédia designada “Anedota” (Correio de Melgaço n.º 27, de 8/12/1912). // Foi nomeado notário interino para a comarca de Monção, tomando posse perante o tribunal desse concelho a 10/12/1912, terça-feira; em 1914 passou a ser efetivo (Correio de Melgaço n.º 88, de 22/2/1914); ocupou esse cargo até 19/8/1915. // Ainda em 1912 foi autorizado superiormente a exercer a advocacia (Correio de Melgaço n.º 29, de 22/12/1912). // Fez a sua estreia como advogado no tribunal de Monção, defendendo Manuel Alves (o Fará), acusado de crimes de burla e roubo (Correio de Melgaço n.º 47, de 27/4/1913). // No concurso para notários, realizado em Lisboa nos inícios de 1914, obteve a classificação de 1 MB e 4 BB (Correio de Melgaço n.º 85, de 1/2/1914). // Tomou posse a uma segunda-feira, 2/3/1914, perante o juiz de direito, de notário efetivo em Monção (Correio de Melgaço n.º 90, de 8/3/1914). // Casou a 25/10/1914, na Conservatória do Registo Civil, e a 16 de Dezembro desse ano na igreja católica, com Esmeralda da Ascensão, de 24 anos de idade, filha de Justiniano António Esteves e de Lina Rosa Lourenço. Testemunhas: Justiniano António Esteves e Maria de Nazaré dos Santos Lima. // Em 1915 pediu a exoneração de notário na comarca de Monção, aceitando ser nomeado escrivão de Direito para a comarca de Melgaço. Fez as malas e veio para a terra natal, onde foi Secretário do Tribunal Judicial e Ajudante do Conservador do Registo Predial. // A 3/3/1919 tomou posse como presidente da Comissão Camarária, composta por sete elementos, desempenhando esse cargo até Agosto desse ano. // A 4/8/1919 o seu moinho, denominado o “Grande”, foi pasto de chamas; desconfiava-se que foram mãos criminosas a incendiá-lo (JM 1258, de 17/8/1919). Em 1920 deu-se ali uma tentativa de assalto (JM 1293, de 20/6/1920). // Foi presidente da Assembleia Geral do Grémio da Lavoura e administrador do concelho de Melgaço nos anos de 1922 e 1923. // A 11/1/1928 desempenhava as funções de tesoureiro da SCMM, ascendendo à provedoria a 27/12/1942, lugar que deixou em 1945. // A 30/4/1936 tomou posse do lugar de chefe da Secretaria Judicial do Tribunal de Melgaço, aposentando-se na 1.ª classe em Maio de 1958; antes exercera o cargo de chefe da 2.ª Secção do mesmo tribunal. // Pode, e deve ser, considerado o principal fundador dos BVM, de cuja direção foi presidente durante vários anos. Em 1937, em reunião da Assembleia Geral, foi aprovada por unanimidade uma proposta do corpo ativo, elegendo-o seu comandante honorário «pelos relevantes serviços prestados à corporação desde a fundação desta tão útil e benemérita instituição» (NM 346). // // Era republicano convicto, mas teve de calar e consentir muita coisa durante a ditadura corporativista, que infelizmente não viu desaparecer. // Polemicou com o padre Júlio Vaz e com o “Mário de Prado”, mas sempre com educação e respeito devidos. // Escreveu vários livros sobre Melgaço, que editou à sua custa. Postumamente (1989 e 1991) foi publicada a sua obra “As Minhas Gerações Melgacenses”, e ainda Obras Completas, Volume I, Tomo I e II (2003) com artigos por si publicados no Notícias de Melgaço. // Os seus livros abriram sem quaisquer dúvidas as portas a outros investigadores, e vão tornar possível escrever-se uma história relativamente bem documentada sobre o concelho. // Possuía uma boa biblioteca, a qual foi vendida pelo filho, depois da sua morte, a um alfarrabista do Porto, por cinquenta contos de réis! // Augusto e Esmeralda faleceram na Vila: a esposa a 4/12/1956 e ele a 26/3/1964; o seu funeral realizou-se no dia seguinte, sexta-feira. // (sobre ele ver ainda o Jornal de Melgaço n.º 1057, de 29/10/1914, Correio de Melgaço n.º 124, de 10/11/1914, Notícias de Melgaço n.º 18 e Notícias de Melgaço n.º 1413).


Nota: a rua que vai da Calçada à Loja Nova tem o seu ilustre nome.








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