quarta-feira, 10 de novembro de 2021

POEMAS DO VENTO

Por Joaquim A. Rocha 

desenho de Rui Nunes


// continuação de 1/08/2021.

24

 

SAUDADE

 

Essa palavra saudade,

de raiz bem portuguesa,

não tem tempo, nem idade:

nasceu com a humanidade,

cresceu com a natureza.

 

Essa palavra saudade,

que revela nosso sentir,

não tem tempo, nem idade:

é velhice, é mocidade…

exprime o passado, o devir!

  

Essa palavra saudade,

que trago sempre no peito,

não tem tempo, nem idade:

diz tristeza, felicidade…

todos lhe prestamos preito!

 

Essa palavra saudade,

que sempre nos acompanha,

não tem tempo, nem idade:

fala angústia, ansiedade…

vive na paz, na campanha!

 

7/2/1978

desenho de Rui Nunes


25

 

O vento fala comigo…

 e eu não sei o que ele diz:

«trago novas de um amigo,

lamentos de uma infeliz

 

Açoita meu rosto pálido,

afaga meus brancos cabelos;

nivela meu olhar cálido,

 aviva e agita meus desvelos.

 

Traz-me à ideia a infância,

onde a pobreza reinava,

e, sem fé, nem esperança,

os tristes dias passava!

 

Vento! – Que novas são

as que trazes no teu bojo?

Diz-me, que meu coração

está já a pedir, de rojo!

 

Diz-me onde estão meus amigos,

Se vivem bem no outro mundo;

Se têm por lá inimigos,

Um novo amor profundo.

 

Diz-me que comidas comem,

Se são servidos por anjos;

Se em macias camas dormem,

Se têm asas como arcanjos.

 

Diz-me tudo o que lá se passa,

Tudo eu quero saber;

Diz-me se por lá há desgraça,

Se há ódio e malquerer.

 

Diz-me tudo, que eu não sei

O que por lá acontece;

Diz-me se há rainha ou rei,

Se a aranha ainda tece.

 

Diz-me tudo, tudo, tudo,

Neste tão longo e triste dia;

Eu, para te ouvir, fico mudo,

 Indiferente à ventania.

// continua...

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