OS NOVOS LUSÍADAS
Continuação de 29/08/2021.
23
No
tempo do rei Dom João terceiro,
Os
lusos foram à Nova Guiné,
Queriam
conhecer o mundo inteiro,
Imbuídos
de garra e louca fé…
Buscavam
a fama, algum dinheiro,
Pimenta,
canela, o bom café.
Na
mão transportavam a dura cruz
Os
arautos do sonhador Jesus.
24
Atingiram
as costas do Japão,
Conquistaram
as ilhas Molucas…
Celebes,
Sonda, são de Dom João,
As
ondas do mar tornam-se eunucas.
Misturam
realidade e ficção,
Como
o evangelho de São Lucas.
Ai
quem nos dera a nós lá estar
Para
ver na praia o barco zarpar.
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Cada
viagem é uma aventura,
Cada
naufrágio uma desgraça;
Navegam
entre coragem… loucura,
Entre
o grave-sério e a chalaça.
Morrem
de fome, sede, de secura,
Na
conquista de Quíloa e Mombaça.
E
para prolongar a imensa dor
Combatem
por Cochim e Cananor.
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Escorbuto,
malária, mil doenças,
Atingem
nossos nautas ferozmente…
Rezam-se
missas, reforçam-se crenças,
Mas
cada dia falece mais gente...
Os
que restam já sonham gordas tenças.
O
rei, no seu trono, está contente...
E
antes que a parca a todos mate
Tocam
os grandes sinos a rebate.
27
Perderam-se
cem naus, muitas caravelas,
Os
marinheiros que as pilotavam;
Por
sua alma queimam-se tantas velas!
Choram-se
as pessoas que se amavam...
Crentes
oram nas igrejas… capelas,
Viúvas
de dor e raiva gritavam.
O
astro-luz do ar desaparece…
O
povo lança-se ao chão numa prece.
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E
assim o bei ganhou eterna fama
À
custa dessas vidas por cumprir;
Morreram
no alto mar, longe da cama,
Em
sofrimento atroz… a bramir.
E
quantos tombaram na suja lama,
Para
o anjo da morte bem nutrir.
Os
deuses assistiram à matança,
Mas
ficaram em paz, em segurança.
29
Gaspar
Real topou a Terra Nova,
João da Nova, Ascensão e Helena.
Aqui
e ali levavam dura sova,
A
tripulação ficava mais pequena.
O
mar profundo era a sua cova,
Todos
choram aquela triste cena.
Só
resta àquela gente a ilusão,
Forte
ânimo, o braço do capitão.
30
Pra
provar a redondeza da Terra
Magalhães
fez uma longa viagem.
Não
quis saber de lutas ou de guerra,
Ocupou-se
mais do tempo, da aragem.
Mas
destino, que tudo em si encerra,
Despojou-lhe
a vida, pô-lo à margem!
Pereceu
cangado pelo sucesso,
Não
permitindo assim o seu regresso.
31
Ficou
vaidoso, o rei espanhol,
Apesar
de voltar só uma nau.
Julgou-se
um deus, o próprio sol...
Os
mortos nem valiam a cruz tau.
Untou-se
com óleo de girassol,
Deixou
crescer a barba, o bisnau;
E
para esconjurar todo o mal
Fez
erguer uma bela catedral.
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Santo,
herói, Sebastião d’Elcano,
Por
completar vivo a volta ao mundo;
Recebe
propriedades, o magano,
Títulos,
uma arca de ouro, sem fundo;
Tornou-se
déspota, senhor tirano,
Espírito
altivo, corpo rotundo…
E
pra que fosse eterna sua fama
Dizia-se
igual ao nosso Gama!
33
Francisco
de Almeida fez História…
Da
“Índia” foi primeiro vice-rei;
Encheu
os pulmões de fama e glória,
Orgulho
de Portugal, sua grei…
Não
passava contudo de vanglória,
Esquecendo
moral, a própria lei.
Cochim,
Angediva, e Cananor,
São
sinónimo de morte e de dor.
34
No
reinado de Dom João terceiro
Nasce
a malquista Santa Inquisição.
O
pobre herege era o primeiro
A
cair na teia da organização.
E
no chamado dia derradeiro
Ia
à fogueira o judeu e o cristão!
Em
nome da douta igreja católica
Derribava-se
a bruxa melancólica.
35
Albuquerque,
o guerreiro temível,
Segundo
vice-rei, conquistador,
Qual
Alexandre, forte, terrível,
Torna-se
da guerra o grão senhor,
O
soldado perfeito, invencível,
Dando
ao rei título de imperador.
E
para que o mundo não o esqueça
Ergueram-lhe
estátua por promessa.
36
Malaca,
Ormuz, a formosa Goa,
Passam
a ser do reino português.
Foram
orgulho da real coroa,
Mais
importantes do que Ceuta e Fez.
Estas praças, tão longe de Lisboa,
Tornam-se
lusas como o rio Vez.
E
para que haja absoluta certeza
Semeiam
lá a língua portuguesa.
37
O
Lopo Soares de Albergaria,
Homem
de armas, terceiro vice-rei,
Devoto
da mãe de Jesus, Maria,
Em
Ceilão impõe a força, sua lei,
Feita
de espada, de vil tirania;
E
mais o que ele fez, nem eu sei.
Que
interessa Colombo conquistar
Se
logo depois a vai entregar?
38
Tomam
a fortaleza de Safim,
À
cabeça Diogo de Azambuja…
Mas
que malta tão afoita e ruim,
Que
faz que aquela boa gente fuja.
Roubaram
pimenta, ouro, marfim…
Eis
a bestial festa da maruja!
E
para que mais nada reste
Deixaram
lá escorbuto e peste.
39
E
diziam-se eles homens cristãos,
Aquelas
verdadeiras feras à solta;
Os
olhos vítreos, sujas as mãos,
Sempre
em pé de guerra, em revolta.
Matavam
por prazer, os cidadãos
Daquelas
pobres terras ali à volta.
Não
tinham pena, dó, nem consciência,
Cultivavam
no lazer a violência.
// continua...
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