terça-feira, 30 de novembro de 2021

FERREIRA DA SILVA 

(Bracarense de nascimento, melgacense de coração)

Por Joaquim A. Rocha



// continuação de 12/08/2021.


   Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1430, de 25/3/1962: «Completamente restabelecido da doença de que foi acometido, há pouco tempo tivemos já o prazer de ver numa das ruas desta vila o nosso prezado amigo senhor Ernesto Viriato dos Passos Ferreira da Silva. Com os seus muitos amigos se congratula Notícias de Melgaço pois este nosso amigo é dos tais que ainda faz muita falta à nossa terra

 

     «O abaixo-assinado, na impossibilidade de o fazer pessoalmente e, ainda, no bom desejo de suprir faltas inevitáveis, usa deste meio para exprimir o seu profundo e indelével agradecimento às inúmeras pessoas e amigos que se dignaram significar-lhe a sua amizade e estima, informando-se, visitando-o, ou interessando-se, de qualquer modo, pelo seu estado de saúde durante o período evolutivo da sua doença. Melgaço, 23/3/1962.» EVPFS

 

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     A partir do número 1460, de 3/2/1963, torna-se diretor do “Notícias de Melgaço”. Escreveu então o artigo, ao qual deu o nome de APRESENTAÇÃO: «É de uso no exercício de qualquer cargo ou função diretiva pronunciar ou escrever algumas palavras ao jeito de apresentação. Ao assumir a direção do Notícias de Melgaço, missão para a qual fomos solicitados, insistentemente, por amigo muito querido (*), quase irmão, dedicado e fanático defensor dos interesses desta linda terra, cultor e cantor autorizado das suas belezas e fastos notáveis, não deixaremos de seguir a tradição: dizer aos nossos estimados e amáveis assinantes e leitores quem somos e ao que vimos. // Não nos parece descabido, neste momento, lembrar a uns e informar a outros que, durante largo período de tempo, orientamos e dirigimos o semanário Melgacense, antecessor de Notícias de Melgaço, ao qual imprimimos um aspeto gráfico moderno e nas suas colunas tratamos, o melhor que soubemos, dos problemas e das questões mais urgentes ligadas a este concelho. // De entre outros recordamos a campanha sobre a extensão da linha do Minho e consequente ligação ferroviária a Melgaço, libertando o nosso concelho da dependência vexatória e intolerável do vizinho concelho de Monção. Vão passados cerca de trinta e oito anos! Valerá a pena recordar?! Por agora diremos simplesmente que estamos satisfeitos, cumprimos o nosso dever; tratamos com firmeza, emoção e bairrismo dos assuntos de atualidade e interesse melgacense. Com paixão ou fria determinação e sempre com elegância e boa educação. As questões gerais ou locais, mesmo quando levadas ao terreiro da polémica, tratam-se com boas razões e inteligente argumentação; no fim e ao cabo todos temos o dever de pugnar, obstinadamente, pela grandeza material e moral da terra a que estamos ligados pelo nascimento ou pelo coração. «A missão é de paz e união.» Isto não significa renúncia, vistas as coisas sob qualquer ângulo e em todas as dimensões. Todos os que nos conhecem sabem que por temperamento e por dignidade, nunca viramos a cara a quem quer que seja; somos dotados de espírito combativo e ânimo de lutador. Porém, só compreendemos a luta quando servida pelo mais puro idealismo, por tudo quanto é digno, por tudo quanto é nobre, por tudo quanto de direito e de justiça nos cabe reclamar e defender. Todos juntos somos poucos para desenraizar a nossa terra do entorpecimento, do marasmo e do atraso em que vive, e para a encaminhar na senda do progresso e do engrandecimento a que tem direito incontestável. Ninguém se ofenda com a crítica que reputamos indispensável na campanha que se impõe; crítica construtiva, evidentemente, ao que está mal, aos que não sirvam com honestidade, acerto e dedicação, a tudo o que por preguiça, incompetência, imprevidência ou por medo deixe de fazer-se. // Somos contra o comodismo, a imoralidade, o devorismo, o não te rales, os avanços e recuos de caracol, as inversões de caranguejo; somos contra os interesses particulares quando lesem ou prejudiquem o bom andamento do interesse geral e contra as manifestações da vaidade, da teimosia e da inconsciência criminosa dos que não fazem nem deixam fazer. Nisto somos um inconformista. Um inconformista sem medo. Por outro lado, não regatearemos aplausos a toda a atuação útil, venha de que setor vier, a toda a obra generosa de humanidade, de beneficência e de caridade, a todas as iniciativas ponderadas e detidamente estudadas em prol do progresso material e do bem-estar dos melgacenses. E ficamos por aqui; para apresentação o que deixamos dito, basta. Resta-nos saudar muito fraternalmente todos os melgacenses, sem distinção, a imprensa de todo país e sobretudo a do nosso concelho.» // F.S. /// (*) Trata-se do Dr. Augusto César Esteves

 

     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1460, de 3/2/1963: «Está de parabéns a redação do Notícias de Melgaço por haver escolhido para diretor do semanário o senhor Ernesto Viriato P. Ferreira da Silva, esse homem que é melgacense pelo coração e já ganhou as esporas de ouro do jornalismo local à frente do “Melgacense”. Isso é garantia do programa do Notícias ainda hoje se cifrar nas poucas palavras escritas em 1961, razão bastante para as não recordar aqui

                                     

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1460, de 3/2/1963, página 4, o seguinte artigo do professor Ascensão Afonso: «NOVO DIRETOR. Apresenta hoje “Notícias de Melgaço” novo nome no seu cabeçalho. É o nome prestigioso de um homem a quem sobra a experiência e em quem abundam a inteligência e todas as outras qualidades capazes de darem prestígio a uma instituição ou a um jornal. Não comungamos de todas as ideias do novo Diretor do “Notícias” mas nem por isso deixamos de tributar-lhe toda a estima e toda a admiração que nos merece uma pessoa que, sem abdicar dos seus sentimentos, sabe respeitar os dos outros. A tolerância e a compreensão são qualidades que muito se apreciam e que distinguem as pessoas superiores. A nova etapa que “Notícias de Melgaço” hoje inicia haverá de ser, sem dúvida, benéfica para esta terra, tão falha de valores e tão rica de maldizentes. Confiamos no amor bairrista do Senhor Ernesto Viriato dos Passos Ferreira da Silva e felicitamos “Notícias de Melgaço” pela feliz escolha do novo Diretor. Ao querido Amigo desejamos os maiores triunfos e que estes redundem também em benefício da terra.» // Ascensão Afonso.

 

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     Notícias de Melgaço n.º 1462, de 17/2/1963: «NA ALVORADA DE UM NOVO ANO. // Com o presente número o Notícias de Melgaço entra festivamente no 35.º ano da sua existência. Mais um ano se inicia com este número; de harmonia com a praxe estabelecida, aqui vimos saudar os nossos queridos conterrâneos e prezados assinantes em especial, os leitores em geral, os dedicados colaboradores, enfim, todos quantos têm auxiliado desinteressadamente a regular publicação deste semanário que, de cabeça erguida, progride e vive honradamente dos seus próprios meios. Ao acolhimento e simpatia do público melgacense, sobretudo dos nossos assinantes, se deve, apesar de todas as dificuldades, o triunfo da sobrevivência do nosso jornal. É pois com grande júbilo que saudamos a alvorada de mais um ano de existência e, com o mesmo entusiasmo, a mesma confiança e a mesma fé de sempre prosseguiremos na rota vitoriosa de converter o Notícias de Melgaço em elo da cadeia que une o passado ao presente e ao futuro deste lindo rincão, em ordem a fomentar o amor que todos os melgacenses têm à sua terra – segredo e fonte do nosso sadio bairrismo. Neste dia de aniversário, sem reclamos, sem barulho, modesta mas devotadamente, cumprimos com alegria o dever que nos cabe de exprimir os mais ardentes votos para que aqui se continue a enaltecer e a honrar a terra de Santa Maria, prezando a sua história, prestando homenagem e culto aos seus homens ilustres, e dando o devido valor aos bens superiores do espírito. Manteremos, pois, acesa em nossas mãos este FACHO de amor bairrista melgacense e esperamos um dia transmiti-lo, assim bem vivo, a quem mais exaltada e firmemente possa e queira empunha-lo. // F.S.       

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1465, de 17/3/1963: «INÉRCIA. // De entre as obras de grande utilidade social realizadas a expensas do legado testamentário do capitalista, proprietário e filantropo Conde de Ferreira nunca é demais destacar a construção de [várias] escolas primárias para ambos os sexos em vilas, cabeças de concelho, incluindo habitação para os professores. Uma dessas escolas, com duas salas de aula para ambos os sexos, foi construída num dos locais centrais desta vila, com frente à Praça da República e marginando a Rua Nova de Melo que da praça se prolonga até à Calçada. Nela aprenderam as primeiras letras e cursaram os vários graus de ensino primário ilustres melgacenses, do melhor nascimento, oriundos de famílias de todas as categorias sociais, uns ainda vivos, felizmente, e outros ultrapassados pela hora da “grande aventura, nunca experimentada pelos vivos e não relatada pelos mortos.” // Ali lecionou uma plêiade distinta de professores devotada, inteiramente, à sua nobre e alta missão, que do ensino fizeram verdadeiro sacerdócio e que muitas gerações de antigos alunos recordam com a maior saudade. // A escola Conde de Ferreira, mercê da incúria de quem tinha o dever e obrigação de conservá-la e da ação destruidora do tempo, atingiu o estádio de inadaptável às condições pedagógicas e às mais elementares exigências do ensino. Em sua substituição foi iniciada e encontra-se em fase de pleno desenvolvimento a construção do edifício das novas escolas para ambos os sexos que, salvo reparo quanto ao local escolhido e destinado à sua implantação, dentro em breve poderá abrigar, vantajosamente, a população escolar da vila e seu termo. O edifício da velha escola foi vendido em hasta pública pela Junta de Freguesia e adjudicado à CGDCP para no local ser construída uma agência da adjudicatária, vai isto há um ror de anos e entretanto, o ensino primário tem sido ministrado em autênticas espeluncas onde falta tudo, inclusive a luz, higiene e limpeza. Porque será que a CGDCP ainda não apresentou à Câmara o projeto e planta do edifício destinado aos seus serviços e não iniciou os trabalhos da construção?! Tenha-se em vista que isto dura há muitos anos e constitui a vergonha da nossa terra! Não há em Melgaço quem tome a iniciativa de lavrar o mais veemente protesto contra o imobilismo que conduz a este estado de inércia, revelador do atraso a que chegamos e teimamos em manter?! Pois à falta de quem mais autorizadamente invista contra esta vergonhosa inércia aqui lavramos aberta e indignadamente o nosso protesto. Se a CGDCP se arrependeu de instalar os seus serviços no local onde as ruinas da velha escola gritam a vergonha da incúria melgacense, à Câmara compete, mas já, esclarecer o assunto e, no caso de não serem iniciados os trabalhos de construção, dentro de curto prazo, o seu dever é expropriar o terreno e pô-lo, novamente, em hasta pública, certa de que, aqui, não falta quem lhe pegue e nele erga edifício moderno digno da nossa vila. O nosso protesto não deixará de ouvir-se enquanto providências não forem tomadas; providências drásticas se preciso for.» // F.S.

  

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     Lê-se no dito Notícias de Melgaço n.º 1465, de 17/3/1963: «JANTAR DE HOMENAGEM. // Completando e retificando o texto da notícia que, sob o título acima, foi publicado em Notícias de Melgaço de 3 do corrente, esclarecemos que, além dos oradores nela mencionados falaram, também, com muito brilho e sinceridade, os senhores reverendos padre Justino Domingues, virtuoso pároco desta vila, e doutores José Joaquim de Abreu e Henrique Ferreira Alves, distintos advogados na vizinha comarca de Monção. Não há que fazer comparações, como é evidente, pois que todos, indistintamente, procuraram interpretar, junto do homenageado, a mais alta consideração pela sua pessoa, como homem de sociedade, a muita admiração pelo seu saber, inteligência e humanidade, como magistrado integérrimo e a funda saudade com que o viam afastar-se desta comarca, onde serviu durante mais de cinco anos. O noticiarista, que não assistiu à homenagem prestada ao Meritíssimo Juiz Dr. José Gonçalves Ambrósio foi insuficientemente informado sobre o que se passou no jantar de despedida oferecido ao ilustre magistrado, no qual tomou parte numerosa e selecionada assistência, e não teve qualquer propósito insidioso, podemos garanti-lo, no destaque de alguns dos oradores e na omissão de outros. Quanto ao signatário, lembra-se do comentário feito pelo falecido Dr. Aníbal de Morais, que foi diretor de o Jornal de Notícias, do Porto, a propósito de qualquer notícia publicada no seu jornal, na qual um seu amigo se sentiu atingido: “Ah sim?!… Olhe, meu amigo: faça como eu, não o leia… // Pois é, mas esse desinteresse pode determinar omissões, como aquela que aqui deixamos referida e pela qual confessamos “Mea culpa”.» // F.S.         

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1466, de 31/3/1963: «SANEAMENTO. // «Em todos os centros urbanos do país os representantes da sua administração vêm prestando escrupulosa e constante atenção aos problemas da salubridade pública pelo seu reflexo direto na defesa e valorização (física?) das populações. As instalações sanitárias da nossa vila, construídas sem prévio estudo e total desconhecimento da técnica aplicável, com as canalizações ligadas, por via de regra, à rede dos esgotos das águas pluviais, e (ou) mesmo sem qualquer saída, constituem um grave atentado às mais elementares condições sanitárias e um autêntico e permanente perigo para a saúde pública. Constitui já um lugar-comum a afirmação de que os problemas de saneamento, como o das águas potáveis, assumem fundamental importância, pois da sua boa solução depende em grande parte a vida, o desenvolvimento e o progresso dos aglomerados populacionais. No nosso caso particular esses problemas estão extraordinariamente facilitados, em virtude da vila se encontrar muito bem situada, com declives naturais, que permitem a implantação das condutas centrais de descarga, quase sem necessidade de tubos de queda e de fácil escoamento através do coletor para a fossa de recolha de todos os esgotos. Na rede geral de esgotos está naturalmente indicado o sistema unitário, constituído por uma única rede, onde são admitidas conjuntamente as águas residuais domésticas e industriais e as águas pluviais da respetiva bacia hidrográfica. Com a realização deste importante e indispensável empreendimento deixariam de ouvir-se os queixumes e protestos contra a fedentina pestilencial que infeta as ruas do nosso burgo, em especial na rua do Rio do Porto, de arranjo e pavimentação mais recentes, na qual, em certos períodos do ano, só é possível passar-se de lenço bem apertado ao nariz, a fim de diminuir a irritação da pituitária e a agonia gástrica daqueles que, por necessidade da vida quotidiana, são obrigados diariamente a percorrê-la. O mau cheiro evola-se das bocas ou boieiros abertos nas valetas da via pública, destinados a receber as águas pluviais e a lança-las na conduta que transporta essas águas ao local do despejo; a essa conduta estão ligadas as canalizações das fossas dos prédios urbanos, construídas na maioria sem atenção e sem respeito pelos conceitos sanitários e da técnica ou, o que é pior, onde desembocam os canos ou simples aberturas de saída das escorrências, detritos e dejetos do arcaico, anti-higiénico e condenado sistema de cortes e estrumeiras. O caso empestou de tal modo a atmosfera que (não sabemos se a Câmara se alguns moradores da rua) resolveram adotar a mirabolante solução de vedar a cimento os boieiros o que, não pondo termo às incómodas emanações mefíticas, criou o não menos grave problema de deixar as valetas sem aberturas para através delas se efetuar o esgoto das águas pluviais. Como era de esperar as águas das últimas chuvas correram pela declivosa rua em verdadeiras torrentes a ponto de, em certos trechos do percurso, atingirem o volume de um riacho ou (como sucedeu na desembocadura da praça) formarem um lago intransponível, tornando a rua intransitável! Pode isto continuar?! Bem sabemos que a execução do saneamento das povoações não constitui uma obra de fachada, daquelas que se prestam a inaugurações festivas, com música, foguetes, cortes de fitas, sessões solenes, discursatas, visitas oficiais e jantaradas; é uma obra do subsolo, obra de toupeira, que se não vê, mas que supera as obras de superfície e é indispensável à higiene e à saúde da população. Dir-se-á: mas é uma obra vultuosa, que custa muito dinheiro, que não cabe no modestíssimo orçamento municipal. Será assim? Este problema será objeto de estudo em outro artigo – este vai longo – e esperamos demonstrar que, apesar da deficiência dos réditos do município é possível, com o auxílio do Estado, meter ombros à meritória tarefa de dotar a vila com uma rede de esgotos e saneamento que lhe dê um ar de civilização e valorize fisicamente os seus habitantes.» // F.S.

 


 

     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1467, de 7/4/1963: «SANEAMENTO. // No artigo de Apresentação, publicado em 3 de Fevereiro último, prometemos fazer crítica construtiva em ordem a comentar o que nos parece mal sem regatear aplausos ao que nos parece bem. É evidente que, esta nossa orientação, visa a encaminhar o nosso burgo na senda do progresso, do engrandecimento e da civilização. Não há nesta atitude interesse pessoal nem vaidade mas, tão-somente, a defesa dos direitos e das aspirações legítimas de Melgaço e dos melgacenses, sem nos preocuparem os latidos de rafeiros fraldiqueiros ou o coaxar das rãs que, do fundo do pântano, gritam a sua raiva incontida, de animal rasteiro contra o ruminante volumoso e pacífico que deles se avizinha. No último artigo, publicado sob o título acima, prometemos contribuir com algumas sugestões destinadas ao nosso município a fim de, com o auxílio do Estado, resolver o magno problema do saneamento e valorização física da população. O estudo dos esgotos da nossa vila parece ter sido feito há muito tempo e a memória descritiva e respetivas plantas, segundo nos dizem, encontram-se na Câmara Municipal, à espera de apreciação superior e oportunidade de realização. Sendo assim, não será magnífica oportunidade a visita de Sua Excelência o senhor Ministro das Obras Públicas a este concelho para lhe apresentar esse estudo e solicitar o seu alto patrocínio, no sentido de realizar a grande aspiração melgacense de resolver os problemas da salubridade pública e defesa do aglomerado populacional?! Convencidos estamos de que essa visita pode equiparar-se a um favor do céu, uma ocasião única de colocar, frente ao técnico, ao urbanista, ao Ministro, a quem o país, de norte a sul, deve tantas e tão importantes realizações, um melhoramento que podem situá-lo, sem favor, no plano do mais alto nível e de maior projeção local. Porém, não devemos apresentar-nos em posição de miserável pedinte e revelar que o assunto não foi objeto de estudo demorado e sobre ele não nos temos debruçado, atentamente, em busca de uma solução realizável; de mostrar que, a despeito de toda a boa vontade e interesse, esbarramos sempre com a pobreza da situação financeira do município e dos seus magros rendimentos, quase insuficientes para superar as suas despesas obrigatórias. Temos o dever de levar a Sua Excelência alguma coisa mais do que os planos e o pedido de um subsídio substancial para a execução do vultoso: o patrocínio da sugestão de um empréstimo na CGDCP, a longo prazo, com base no produto dos rendimentos destinados ao fim em vista. Quais seriam esses rendimentos? Não nos deteremos numa busca minuciosa das possibilidades que ainda restam ao município, nem na avaliação dos réditos que concretamente poderão ser apurados – esse trabalho cabe de facto e de direito ao senhor Presidente da Câmara e ao pessoal da secretaria municipal. Sugerimos, apenas, que a Câmara poderia hipotecar ao pagamento do empréstimo destinado à grande realização que preconizamos, os rendimentos das proveniências seguintes: a) Derrama sobre as contribuições gerais do Estado nos termos do decreto n.º 31.448, de 1/8/1947; b) Impostos referidos nos artigos 707 e 708 do Código Administrativo; c) Taxa de licença liquidada de harmonia com o disposto no parágrafo segundo do artigo 712 do Código Administrativo; d) Taxas de ligação e de conservação anual, nos termos dos números 101 e 102 da Portaria n.º 11.338 de 8/5/1946; e) Quaisquer outros rendimentos a criar e a rever, entre eles as taxas sobre barraqueiros e vendedores ambulantes que tantos prejuízos causam ao comércio local. // Em nossa modesta opinião é possível consignar ao pagamento de juros e capital do empréstimo destinado ao saneamento da vila um volume de rendimentos que permita à Câmara contrair um empréstimo de montante elevado. O resto virá da comparticipação do Estado e… da generosidade de Sua Excelência o senhor Ministro das Obras Públicas das sobras do plano de fomento e dotações invisíveis ou não de que dispõe o seu Ministério. Tem a palavra o senhor Presidente da Câmara. Tem a palavra Sua Excelência o senhor Ministro das Obras Públicas. Quanto a nós, apresentamos, modestamente, algumas sugestões que nos parecem viáveis e daremos leal e firmemente a melhor colaboração, dentro do nosso âmbito, em ordem a auxiliar a realização do empreendimento de maior tomo de que carece o nosso concelho. Mãos à obra! // F.S.         

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1468, de 21/4/1963: «O Problema da Emigração da Gente do Minho e uma Nota da Junta de Emigração. // No passado dia 15, 0 Diário Popular publicou uma local subordinada ao título “A emigração está a privar de homens válidos muitas povoações minhotas. Por intermédio do S.N.I. recebeu da Junta de Emigração os esclarecimentos que a seguir publicamos, os quais, no entanto, sem desmentir ou contradizer os factos apontados contribuem para essa elucidação. Esclarece a referida Junta: “ A emigração que se vem verificando para França processa-se por duas formas: a) Por chamamento familiar; b) Por recrutamentos efetuados pela Junta. Quanto à primeira não nos parece justo nem humano impedir o chamamento de familiares; quanto à segunda, a emigração que se vem objetivando através de recrutamentos da Junta de Emigração faz-se por acordo, ou a pedido (solicitação) das autoridades locais. Se num ou noutro dos concelhos do Minho tem sido mais volumosa, contribuindo para certa rarefação da mão-de-obra, não é menos certo que, em outros concelhos, também do Minho ou limítrofes, essa mão-de-obra existe em excesso, a julgar pelas insistências das autoridades locais nos pedidos à Junta de novos recrutamentos. Se a falta de mão-de-obra assume, em algumas regiões, aspetos graves, tal se deve, essencialmente, à emigração clandestina, que as autoridades procuram combater numa ação que se tem intensificado nos últimos tempos com apreciáveis resultados.” // Na citada local referia que “estão várias povoações minhotas a atravessar um período de autêntica crise, lutando com falta de homens válidos, a maior parte dos quais se ausentou, sobretudo para França.” E registou também, como duro exemplo de uma situação nada brilhante, que em Castro Laboreiro se apresentou à inspeção militar um único mancebo – e era coxo! Estes são os factos indesmentíveis, com os comícios dos setenta que vieram passar o Natal a Deão, Ribeira Lima. // Quanto à emigração por “chamamento familiar”, permitiu-se admitir que ela poderá contribuir para transformar uma emigração, que eventualmente poderia ter caráter provisório, em “emigração definitiva”, se assim se pode chamar, pois anulará os laços sentimentais que seguram o português residente em qualquer parte do Mundo à Mãe Pátria. Não será assim? E, uma vez registados os esclarecimentos da Junta de Emigração, continua a insistir: “Há que assegurar, na medida em que tal depende das autoridades, a permanência mínima de determinados habitantes em cada povoação, evitando assim que a emigração se transforme em um êxodo, o benefício individual em um prejuízo para a coletividade o chamamento de outros países em um abandono do nosso.” // Diário Popular, de 21/01/1963. // NOTA DA REDAÇÃO: - Na verdade, pelo que temos notado no nosso concelho, a emigração por chamamento familiar contribui largamente para o êxodo que vimos observando. Famílias inteiras têm emigrado não só para a França mas para outras bem longínquas partes do globo terrestre, chegando a desfazer-se dos seus patrimónios e, pelo exemplo e por meio de notícias exageradas de bem-estar e de fáceis meios de fortuna, a tentar os parentes que cá ficaram para que os sigam na bela aventura e por sua vez abandonem também a sua terra. A emigração dos melgacenses vem de longa data. Porém, nos últimos anos, assumiu uma gravidade tal que, quando não é total, nas famílias ficam apenas os velhos incapacitados para o trabalho, as mulheres e as crianças. Não é o caso referido de Castro Laboreiro e a laracha (graça) do inspecionando coxo, pois que o castrejo, desde tempos imemoriais, militarmente é um faltoso, fundado talvez nas regalias do seu velho foral… Impele-os a miséria em que vivem na sua terra, nesta terra de insignificantes áreas cultiváveis, encravadas no dorso das montanhas, praticando uma agricultura economicamente deficitária, em que o húmus é fatidicamente afastado para o mar pelas torrentes, através das linhas de água que alimentam a sua voracidade. É evidente que a perspetiva de uma vida melhor atrai, com razão, aqueles que vivem do esforço muscular dos seus braços. A emigração é tentadora quanto à angariação normal dos meios de vida e das regalias de caráter social que o emigrante aufere. Em boa verdade, após o termo da “frota”, Melgaço vive praticamente do dinheiro do emigrante. Sem ele o comércio estiolaria e morreria à míngua; as aldeias não apresentariam o ar lavado do casario coberto a telha marselha e as terras não teriam a cerca-las latadas em ferro e arame e outros benefícios mais. No aspeto geral a emigração é um mal. Desgraçado do país que vive da exportação dos seus habitantes; localmente, porém, tem as suas vantagens e os seus inconvenientes. Quanto a Melgaço é um caso irremediável. Todos os que tinham saúde e ânimo, ou quase todos, se foram a tentar a ventura… As terras estão na eminência de ficarem sem ser cultivadas? Pois procure-se o remédio para curar ou, pelo menos, atenuar o mal. Sem pretensões a santo milagreiro, sempre diremos que a situação gravíssima em que se encontra o nosso concelho, pelo abandono dos seus naturais, pode ser encarada do ponto de vista do repovoamento. Há no Baixo Minho muitas famílias de agricultores que não desdenhariam mudar-se para cá, sob o regime de contrato de arrendamento por seis anos, nos termos da lei n.º 2114 ultimamente promulgada e desde que os proprietários rurais lhes ofereçam as necessárias condições de vida que lhes são negadas nas terras das suas naturalidades. O Grémio da Lavoura poderia tomar a iniciativa junto dos seus congéneres dos outros concelhos, das Juntas de Colonização Interna e de Emigração. É uma utopia o que se sugere? Experimentemos: talvez o caso se apresente viável e realizável. // F.S. // continua...   

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