domingo, 1 de maio de 2016

DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MELGAÇO

de Joaquim A. Rocha

desenho de Rui Nunes


  António Maria Guerreiro Ranhada, natural de Vilar de Mouros, Caminha, foi na sua juventude emigrante no Brasil. Devido a uma doença grave, regressou a Portugal a fim de se tratar. "Descobriu" as águas de Melgaço em finais do século XIX, que o curaram. Casou na freguesia de Paderne, concelho de Melgaço, teve filhos, e aí morreu já com bastante idade. Com o pouco dinheiro que lhe restava comprou terreno e mandou construir um hotel, no início modesto, mas a pouco e pouco foi-o melhorando. Os clientes foram aparecendo, cada ano mais numerosos, alguns deles figuras importantes no panorama nacional, surgiram outros hotéis, mas o seu foi sempre uma referência.  
       
    Nos hotéis também se morre. Em 1898 faleceu aí um hóspede: «SOUSA, Francisco. Filho de Gregório Ferreira de Sousa, proprietário. Nasceu no sítio da Levada de Santa Luzia, Funchal, Ilha da Madeira, por volta de 1836. // Proprietário. // Faleceu a 17/6/1898, às três horas da tarde, no Hotel do Peso, freguesia de Paderne, Melgaço, apenas com o sacramento da extrema-unção, com 62 anos de idade, no estado de casado com Luciana Martins Ferreira de Sousa, sem testamento, com filhos, e foi «depositado» no cemitério público da vila de Melgaço.»

      No ano seguinte morre outro hóspede: [AZEVEDO, Tristão. Filho de Álvaro Rodrigues de Azevedo e de Maria Justina de Azevedo, proprietários. Nasceu por volta de 1855. // Era capitão de Infantaria n.º 25 quando faleceu a 10/10/1899, pelas nove horas da noite, no Hotel do Peso, Paderne, sem quaisquer sacramentos, por ter morrido repentinamente, com 44 anos de idade, no estado de casado com Helena de Azevedo, morador na Rua de São Bento, Lisboa, sem testamento, com filhos, e foi depositado na capela do cemitério público da vila de Melgaço «com a intenção de ser conduzido para o cemitério dos Prazeres da cidade de Lisboa]

     Outra morte: «SÁ, Mário Arantes de Seabra. Filho de Adriano da Costa Carvalho e Sá e de Rita Arantes de Seabra e Sá, proprietários. Nasceu em Miragaia, Porto, por volta de 1889. // Faleceu a 9/6/1903, pelas três horas da manhã, no Hotel da Quinta do Peso, sito na freguesia de Paderne, Melgaço, sem sacramentos, com apenas catorze anos de idade, e foi depositado na capela do cemitério da vila de Melgaço para posteriormente ser levado para o Porto.» 
    
     A causa da morte era quase sempre a mesma: a maldita diabetes. As águas de Melgaço ajudavam o doente a melhorar, até conseguia milagres, mas alguns já estavam numa fase avançada da doença, e assim as hipóteses de cura eram praticamente zero. 


     Como a maioria dos hóspedes era católica, o proprietário do Hotel Ranhada mandou construir em terreno próprio uma pequena capela; o professor Ribeiro da Silva dedicou-lhe uma das suas gazetilhas (ver Notícias de Melgaço n.º 371, de 10/10/1937).

   Em 1919 tinha imensos hóspedes (Jornal de Melgaço número 1260, de 31/8/1919). // Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 237, de 24/6/1934: «Pelo Conselho Nacional de Turismo foi atribuída a categoria de hotel de 3.ª classe ao antigo Hotel Ranhada, da estância termal do Peso, Melgaço.» 

     Em 1937 esteve ali hospedado o bispo de Meliapor, com o objetivo de fazer tratamento nas termas.  

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