terça-feira, 25 de agosto de 2015

MELGAÇO E AS INVASÕES FRANCESAS

Por Augusto César Esteves



... (continuação)

«Um escudo esquartelado, no primeiro quartel as armas dos Sousa por privilégio que são escudo esquartelado, no primeiro e quarto as quinas de Portugal sem orlas de castelos, no segundo e terceiro em campo de prata um leão de púrpura, no segundo quartel as armas dos Castro, em campo de prata seis arruelas azuis postas em duas palas, no terceiro quartel as armas dos Lobato em campo sanguinho, três castelos de prata em roquete, com portas e frestas lavradas de preto, e uma orla de ouro e nela oito lobos negros a seu direito, no quarto quartel as armas dos Menezes Teles, que são esquarteladas, no primeiro e quarto, em campo de ouro, um leão de púrpura, no segundo e terceiro em campo de prata também um leão de púrpura. / Elmo de prata aberto guarnecido de ouro. / Paquife dos metais e cores das armas. / Timbre o dos Castro que é um caranguejo de prata arruelado de arruelas azuis com as duas bocas pegadas no elmo e por diferença uma brica vermelha com um trifólio de ouro

          Pondo para o lado os papéis referentes à compra do campo de Corujeiras a D. Isabel Maria da Visitação, uma senhora nascida em Prado e arrumada no Recolhimento de S. Tiago em Viana Foz do Lima, peça herdada de seu pai, o Reverendo Sebastião Soares, de Rouças, lera e levara o mesmo destino a procuração passada em 2/7/1765 constituindo procuradores a Lourenço José Gomes de Abreu e a Francisco Xavier Gomes de Abreu, filho e neto do fundador da Capela da Pastoriza, residentes naquela vila de Viana, para cobrarem do pagador geral do partido da cidade do Porto o dinheiro que se lhe estava devendo da comedoria da besta da equipagem do tempo da triste campanha de 1762, durante a qual ele foi capitão do regimento da vila banhada pelo Lima. Com gesto de enfado atirou para longe de si um outro papel, porque nele se escrevera:

       10.º- «Que o dito avô comum destas partes, Diogo António, sendo sargento-mor da dita praça de Monção, foi preso na praça de Valença à ordem do Governador das Armas desta província e na ocasião em que estava preso na dita praça donde reside e é natural o A. Gabriel P[ereir]a aí o moveram pelas sobreditas causas a não impedir o dito seu casamento o que aliás havia de fazer e justas razões

          Mas salientou, e muito bem, como tendo enviuvado de D. Escolástica Abundância Teixeira de Freitas e Faria, de Guimarães, irmã do Licenciado Miguel de Freitas Teixeira de Faria, Juiz de Fora em Vila Nova de Cerveira e depois Ouvidor de Cabo Verde, passou com o posto de capitão de infantaria aos Estados do Grão-Pará e de Mato Grosso, no Brasil, por onde desbaratou um ror de anos da sua vida. // Dali, após mil canseiras para fazer da aldeia de Santo António de Trocano a progressiva vila de Borba a Nova e nela ser o primeiro juiz ordinário e o seu governador e exercer outras funções a contento dos altos poderes da colónia, como voltou à pátria a tempo de ser incorporado naquela campanha de 1762, em que lhe morreu o primogénito e como acabou, graças ao seu valor e à sua valentia, por comandar com o posto de Sargento-Mor a praça de Caminha e, em seguida, a de Monção, onde faleceu em 1780, num quarto do «Hospital Real em que morava
          De seu trisavô, António de Castro de Sousa Lobato, também familiar do Santo Ofício, Cavaleiro da Ordem de Cristo e capitão de cavalos, descreveu como nas fraldas da Quinta do Fecho, nos terrenos herdados do pai e noutros por ele comprados, a meio caminho da vila e à margem da primitiva estrada, fez o vínculo do morgado de Galvão à custa dos terços dos bens seus, de sua esposa, D. Joana Maria de Menezes Cardoso, oriunda de Guimarães e das seis irmãs dele, D. Madalena Felgueiras, D. Francisca de Cavedo Araque, D. Jacinta Osores de Castro, D. Maria Lobato de Castro, D. Antónia Soares e D. Juliana Felgueiras, todas sem noivo, no dia 16/12/1703 e os encargos impostos aos sucessores e administradores, nada menos que treze missas, rezadas no decurso do ano na capelinha de Santo António, construída pertinho do solar, e a obrigação de tomarem «sempre os apelidos dos Castro, Sousa e Menezes, em memória dos primeiros instituidores donde descenderam

          E contando como seu trisavô, em 1706, sob o comando do Marquês de Minas fez as campanhas da Guerra da Sucessão ao trono de Espanha, batendo-se contra as tropas franco-espanholas comandadas pelo duque de Bervick, expôs a sua acção na conquista e destruição da vila de Brozas, no cerco e tomada de Alcântara, na entrada em Moraleja, em Coria, Plassença, Almorás, Ciudad Rodrigo, Salamanca e, de vitória em vitória, disse como se ocupou Madrid e se fez aclamar rei de Espanha a Carlos III. // E terminou lembrando como em 1707 o exército português, deixando os quartéis de inverno e indo procurar o inimigo, o encontrou em Almansa e com ele travou no dia 25 de Abril uma batalha funesta para as nossas armas. Obraram prodígios de valor os portugueses, ninguém o contesta; mas isoladamente, sem qualquer unidade de orientação e, por isso, perderam a batalha, deixando a juncar o campo milhares de mortos e nas mãos do inimigo milhares e milhares de prisioneiros. Entre estes ficou o filho do seu trisavô materno, o João, o primeiro administrador do Morgado do Pombal e, entre os mortos, o seu trisavô paterno, aquele que deu lustre e grandeza à nobre Casa das Sete Donas. // (continua)...

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