terça-feira, 11 de agosto de 2015


GENTES DE MELGAÇO

Por Joaquim A. Rocha




FIÃES

RODRIGUES, Manuel José. Filho de António Rodrigues e de Esperança Augusta Domingues. Neto paterno de Manuel Joaquim Rodrigues e de Marcelina Rosa Quintela; neto materno de Joaquim Domingues (Arrogante) e de Maria Joaquina Vaz. Nasceu em Adavelha, Fiães, a 9 de Outubro (!) de 1915 (ver Correio de Melgaço n.º 144, de 11/4/1915). // Em 1935 regressava a casa de férias, após ter concluído o 2.º ano do liceu; obtivera doze valores (NM 278, de 21/7/1935). // Em 1937 era estudante na cidade de Braga. // Foi professor do ensino primário em Monção e depois, a partir de 1951 ou 1952, na escola Conde de Ferreira, na Vila de Melgaço (3.ª e 4.ª classes). Recebia os alunos da 2.ª classe das mãos do professor Abílio Domingues quase todos sem saber ainda ler! Ficava furioso, e com razão. O professor Abílio nessa altura era um medíocre, um apagado, não sabia ensinar. Contudo, quem sofria as consequências dessa raiva eram os pobres miúdos, sem terem qualquer culpa. A cana-da-índia, perfilada junto ao quadro negro, entrava em ação constantemente; assim como uma palmatória enorme, pousada na secretária do mestre. // Tinha que começar do zero; dava então início a um trabalho tenaz, sério, obcecado! Prometia a ele próprio que aqueles rapazes tinham que sair da escola a saber alguma coisa. Em muitos casos conseguiu essa proeza; noutros, porém, foi chover no molhado – nem coças, nem ralhos, nem castigos de toda a espécie resultaram! Esses alunos fugiam, choravam, não queriam regressar às aulas. Os pais tentaram tudo, mas alguns ficaram pelo caminho. // A 12/9/1959 foi nomeado presidente da Câmara Municipal, tendo sido deposto em 1970, aquando da morte de Salazar, acusado de peculato, salvo erro (ver Notícias de Melgaço n.º 1834, de 10/5/1974). Claro que ninguém acreditou em tal coisa, pois sempre foi considerado um homem justo e honesto. // Foi legionário convicto e ativo. O regime corporativista (1933-1974), austero e autoritário, agradava-lhe. // Bom professor, mas severo para com aqueles alunos que tinham dificuldade em aprender. // Também foi razoável presidente – se mais não fez foi porque não teve dinheiro suficiente para fazer obra. Mesmo assim, foi no seu tempo que se rasgou a estrada para Fiães e se distribuiu água potável a algumas freguesias do concelho, além de energia elétrica, denunciando o contrato que existia com a produtora galega desde a década de trinta. Quis construir a ponte no Peso, sobre o rio Minho, mas esse projeto abortou devido à falta crónica de verba. Um dos seus erros maiores, com consequências duradouras, foi o ter permitido que se construísse um edifício, destinado a Grémio da Lavoura, junto às muralhas da Avenida (Alameda Inês Negra). É obra de mau gosto e um verdadeiro crime contra o património concelhio. // Nunca casou, mas consta que foi o eterno namorado de uma sua parente, divorciada, ou separada do marido. // Aposentou-se em 1986, com 42 anos e dez meses de serviço. // Faleceu na Corredoura, Paderne, em casa da irmã, professora Aurora, a 3/10/2008, mas foi sepultado no cemitério de Fiães no dia seguinte. // Era irmão do padre António, do engenheiro Joaquim da Ascensão (mais conhecido por Abel), do Dr. José (advogado), de Armando (guarda florestal), de Abílio (faleceu estava no último ano de Direito), de Maria, de Rosa, e da dita professora Aurora. // O professor Rodrigues representa uma época, um período triste da história de Portugal, mas pessoalmente desempenhou em Melgaço um papel importante como mestre-escola e como presidente da Câmara Municipal. Viveu os primeiros onze anos de vida na primeira república, mas no meio rural, entre campos e gado. A sua ideologia adquiriu-a na cidade, quando para ali foi estudar, no convívio com outros jovens da sua idade. Aceitou o Estado Novo como uma espécie de tábua de salvação para o país, pobre e atrasado, à mercê de lutas partidárias constantes. A paz, a ordem, a autoridade, predominariam sobre o caos, sobre a deriva. À sombra destes pilares do corporativismo o chefe manda e os súbditos obedecem. A liberdade individual deixa de ter sentido, o importante é Deus, Pátria, Família, isto é: igreja católica, Salazar, e os obedientes.     

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