terça-feira, 28 de julho de 2015

MELGAÇO E AS INVASÕES FRANCESAS

Por Augusto César Esteves



... (continuação - ver 30/6/2015)

     Dos bancos da escola veio relacionado com Freitas Machado e Alexandre Garcia, nascido em Oliveira do Hospital, no termo de Ceia, que uma vez havia de ser o Juiz de Fora de Melgaço, para em Melgaço ficar a dormir o sono eterno na igreja da Misericórdia, numa campa para sempre assinalada pelo letreiro seguinte:
  
     «Aqui jaz Alexandre Luiz Garcia, Juiz de Fora em Melgaço. Este sepulcro lhe mandou fazer seu colega António de Castro Sousa Menezes, Morgado de Galvão neste reino e de outros na Espanha, descendente dos Castros de Melgaço, alcaides-mores de Melgaço. / Seja-te a terra leve
  
          Efectivamente, o Dr. António de Castro, que em 1792 leu no Desembargo do Paço a sua lição e em 11/2/1795 foi despachado Juiz de Fora da vila da Praia, na ilha Terceira, arquipélago dos Açores, mas para onde só partiu em 12/11/1797, conhecia bem a sua ascendência. Ele tinha ouvido ler, era já criança espigada, no seu solar, em longos serões de inverno, os autos de justificação de nobreza requeridos em 1601 por um velho capitão-mor de Melgaço, escudeiro de linhagem, quase no fim da vida eleito provedor da Santa Casa, homem enérgico e atrevido, fundador de morgados, Lopo de Castro, o moço, seu quinto avô paterno.
          Depois, mais tarde, homem já feito e com muitas luzes de direito, lera ele mesmo na letra encadeada dos processos do século XVI o depoimento de «Estêvão de Amorim, sargento-mor nesta Vila de Melgaço, e nela morador, testemunha a quem ele, Juiz, deu juramento dos Santos Evangelhos que tomou sobre um livro deles e perguntado sobre os costumes disse nada, e de idade de cinquenta e quatro anos, pouco mais ou menos. Perguntado pelo conteúdo na petição do suplicante disse ele, testemunha, que era verdade que o suplicante é morador na sua Quinta e Morgado do Fecho, termo desta vila, o qual Lopo de Castro é capitão-mor desta vila e sabe que o dito Lopo de Castro é filho legítimo de legítimo matrimónio de Lopo de Castro, seu pai, e sabe que o pai do suplicante, Lopo de Castro, era filho de António de Castro, avô do suplicante, todos moradores que foram na Quinta do Fecho, onde ora vive o suplicante, e António de Castro, avô do suplicante, era filho de Lopo de Castro, o velho, e sempre ele, testemunha, ouviu dizer a seu pai, Álvaro Afonso de Amorim, que é falecido a vinte e cinco anos de idade de cem anos, que este Lopo de Castro, bisavô do suplicante, era irmão de Pêro de Castro, o velho, alcaide-mor que foi desta vila de Melgaço e da vila de Castro Laboreiro, e assim da descendência pelo dito Pêro de Castro sabe vir de antigos alcaides-mores desta vila, como foram Fernando de Castro, o velho, e Pêro de Castro, e Fernão de Castro...»

          E acabada a leitura deste depoimento, virava depressa algumas folhas do processo para ler o testemunho de D. Catarina Esteves, mulher do dito Estevão de Amorim: «...que indo desta terra Pêro de Castro, alcaide-mor desta vila, para África na jornada de El-Rei Dom Sebastião, deixou o carrego de capitão-mor e sargento-mor e alcaidarias-mores a Belchior de Castro, tio do suplicante Lopo de Castro, o qual serviu os ditos carregos até à hora de sua morte, até entregar esta vila a Sua Majestade, por mandado do duque nosso Senhor, por ser o dito Belchior de Castro seu parente, primos segundos, e do dito Pêro de Castro ficara um filho, Fernando de Castro, que hoje serve nos ditos carregos e alcaide-mor desta vila e de Castro Laboreiro e portais...»
  
          Ora este Lopo de Castro, capitão-mor e senhor da Quinta do Fecho, era o pai do fundador da Casa com Torre de Galvão, Dom António Lobato de Castro e Sousa. O Dr. António de Castro sabia isto, como sabia muitas outras coisas; porque, nos fins de 1793, quando ainda estava na capital a fazer a aprendizagem da vida dos tribunais, recebeu das mãos dum recoveiro um maço de papéis enviados de Melgaço. Essa papelada fazia a história da Casa de Galvão e era capeada por uma procuração de seu pai, passada em Melgaço em 2 de Setembro desse ano, dando-lhe os precisos poderes para pedir a Sua Majestade o despacho dos serviços do pai de seu pai, Joaquim António de Castro Sousa Teles e Menezes, do bisavô Diogo António Castro e Menezes, e dos trisavós, paterno e materno, António de Castro Lobato e Matias de Sousa e Castro. E com base nos documentos recebidos redigiu ele a petição para ser presente a Sua Majestade.
          De seu avô, Joaquim António, familiar do Santo Ofício, contou como ele assentara praça em Lisboa e como, muito antes de haver cadetes em Portugal, foi autorizado a instruir-se praticamente nos serviços dos postos inferiores das milícias e, assim, veio para Viana Foz do Lima como tenente da companhia de Ordenanças daquela vila e, sobretudo, como na Guerra dos Sete Anos, no reinado de D. José, quando mandava no país o senhor Marquês de Pombal, e o Conde de Ó Reilli sitiava Almeida, em 1762, num daqueles combates travados nas Beiras com as forças espanholas, ele ficou mortalmente ferido e veio a acabar os seus dias na notável vila da Covilhã, ficando a dormir o sono eterno no Convento de Santo António, longe dos seus e da sua terra.
          Do bisavô, Diogo António, familiar do Santo Ofício e Cavaleiro da Ordem de Cristo, disse ter assentado praça, como voluntário, em 1727, e logo no ano seguinte pelos irmãos da Misericórdia ter sido eleito provedor da Santa Casa, levando-o a costumeira da terra e o seu espírito religioso a pagar do bolso particular, nas festas da quaresma daquele ano, os sermões dos Passos e os da Semana Santa.
          Contou como fora levado a fazer a justificação da sua nobreza e como, afinal, em Agosto de 1740, lhe fora entregue a carta de brasão de armas: (continua)...

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