quinta-feira, 29 de setembro de 2022

QUADRAS AO DEUS DARÁ 

Por Joaquim A. Rocha



// continuação de 16/07/2022...

131

 

Nada é como era dantes,

O amor desapareceu

Na barca dos navegantes,

À procura de Nereu.

 

132

 

Vejo ao longe a imagem

De uma deusa sorridente;

Talvez seja uma miragem,

O sonho de um demente.

 

133

 

As figueiras da Peneda

Dão seus figos em Agosto;

E têm uma cor tão leda…

Um sabor que nos dá gosto.

 

134

 

A figueira da Peneda

Não sei que diacho tem;

Entalada entre rochas

Dá figos que sabem bem.


135

 

Dizem que estou tapadão,

Sei que estou, e é por ti;

Perdi a minha razão

No dia em que te vi.

 

136

 

Mil carinhos pra dar tenho,

Tanto amor em mim encerro;

Mas quase nada obtenho

Daqueles a quem eu quero.

 

137

 

Não sei para que nasci,

Por que vim a este mundo;

Onde tudo é frenesi…

Onde o ódio é profundo.

 

138

 

Ando na vida perdido,

Sem carinho, sem um bem;

Ando sem rumo, sem tino,

Não sou nada, nem ninguém.

 

139

 

Transformaste minha vida,

Deste alma a um ser morto;

Diz, deusa bem-parecida,

Que te trouxe a este porto?


140

 

Para uns, a morte é vida,

Para outros a vida é morte;

Tenho a razão confundida,

Talvez seja a minha sorte.

 

141

 

Todos são filhos da morte,

Irmãos no vil sofrimento;

Nesta vida de má sorte

Só se salva o pensamento.

 

142

 

Pensamento, meu ser livre,

És suporte da existência;

Sem ti, tudo era vazio

E falho de inteligência.

 

143

 

Alma minha que traída

Pelo sonho de grandeza,

Tornando-a pequenina

E cheiinha de tristeza.

 

144

 

Neste canto sossegado,

Onde morte não me lembra,

Tenho o peito descansado

E meu cérebro não pensa.


145

 

Ela sabe que eu sei

Que em mim está pensando;

Eu sei que ela já sabe,

Meus olhos a estão fitando.

 

146

 

«Obviamente demito-o»

Disse Humberto Delgado;

Mas Salazar, repito-o,

Mandou-o para o outro lado.

 

147

 

Há quem diga que eu disse

Que te amava em segredo;

Não o creias Clarisse,

Meu coração é rochedo.

 

148

 

Ilusão por que nasceste,

A vida é horrenda e má;

Inda por cima cresceste,

A vida a morte te dá.

 

149

 

As nódoas dessa toalha

São mais limpas do que crês;

Bem mais sujas, a mortalha

Cobre: e tu não as vês!


150

 

As nódoas dessa toalha

São mais limpas do que crês;

Sujas sim – e tu não vês,

Cobre-as aquela mortalha.


// continua...

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