sexta-feira, 19 de março de 2021

OS MEUS SONETOS, E OS DO FRADE

Por Joaquim A. Rocha 


// continuação...


REVOLTADO


 

Não quero dar-te a alegria de voltar

Para os teus braços sujos e rugosos,

Teus cabelos compridos e sebosos,

Teu corpo já sem forma e sem altar!

 

No sujo labirinto vou ficar…

Com cheiros de mil gases venenosos,

Com ratos, cobras, sapos tenebrosos,

Comendo sonhos antes de eu sonhar!

 

Dou-te sementes de cinza sem cor,

Fragmentos dum eu que não existiu,

Orvalhos de manhãs que não vivi…

 

Dou-te, vil, um milésimo da dor,

Uma pedra do castelo que ruiu,

Uma lágrima que correu e eu não vi!

 

 

   INTERROGAÇÕES

 

Dentro de mim existe a tempestade,

O mar bravo, o forte vento do norte;

Coabitam, como irmãos, azar e sorte,

A mentira soez, mais a verdade!

 

Dizem que há em mim generosidade,

Um terror grosseiro à dura morte,

Que sou íntimo amigo de Mavorte,

Menino arisco, triste, sem maldade!

 

Como é possível tudo isso existir

Dentro deste meu corpo tão franzino,

Desta minha alma de frágil criança?

 

Se verdade for, como resistir

A este mundo feio, vil, cretino,

Sem me tornar Quixote ou Sancho Pança?!


// continua...

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