segunda-feira, 15 de março de 2021

 DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MELGAÇO

Por Joaquim A. Rocha


// continuação...


ROUBOS


  Melgaço, ao longo dos séculos, foi considerado um concelho de gente pacífica, ordeira, trabalhadora. É verdade e ao mesmo tempo mentira, pois, tal como nos outros concelhos, aí se encontrava um pouco de tudo: gente boa, gente má, gente assim, assim. Até meados do século XIX Melgaço era composto somente por oito freguesias: Cristóval, Paços, Chaviães, Vila, Rouças, Prado, São Paio e Remoães. Devido à grande reforma administrativa, este concelho raiano, no dito século XIX, cresceu imenso. Passou a ter mais dez freguesias: Alvaredo, Castro Laboreiro, Cousso, Cubalhão, Fiães, Gave, Lamas de Mouro, Paderne, Parada do Monte e Penso. // É óbvio que o número de crimes duplicou. A Guarda Nacional Republicana foi criada em 1911, mas não foi fácil levá-la para Melgaço. A administração do concelho, nas mãos de alguns senhores, não admitia rivais. Existia a guarda-fiscal, mas essa não desempenhava o papel de polícia, apenas se preocupava com o comércio ilegal. O regedor era por vezes um pobre diabo, quase analfabeto, personagem de uma comédia à italiana. Por conseguinte, os ladrões, do concelho ou de fora, navegavam em águas calmas, sem quaisquer ondas, quase sempre o seu crime ficava impune, rindo-se dos poderes instituídos. As coisas foram mudando lentamente, no entanto os crimes de roubo continuam, com técnicas sofisticadas, por vezes aplaudidos por mentes perversas. // Eis mais alguns roubos:      

(1962) – Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1430, de 25/3/1962: «A MALTA SAIU DE NOITE. No sábado de manhã, mal se começaram a abrir as portas das casas, percorreram a vila com rapidez rumores consistentes de ladrões atrevidos terem tentado assaltar o estabelecimento comercial do senhor José Maria Pereira, na Rua da Calçada. Felizmente, porém, como alguém da família estivesse acordado àquela hora, pressentisse os ratoneiros no seu trabalhinho e gritasse contra eles, logo os da malta abandonaram o servicinho e fugiram. Soube-se depois que um pequeno estabelecimento do Rio do Porto pagou as forças gastas na corrida, pois foi a vítima sacrificada à sede do ouro por a malta aí ter feito das suas já que se não pôde locupletar na Calçada. Ora aqui está um serviço que a Guarda Nacional Republicana deve tomar a seu cargo: vigiar a área da Vila até se restaurar a confiança do burgo pelo menos.    

 

(1962) – Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1444, de 19/8/1962: «Assaltos noturnos. A Guarda Nacional Republicana do posto da Vila de Melgaço já tomou conhecimento dos assaltos que atrevidos "gatunoides" fizeram ao estabelecimento comercial do senhor José Domingues Baptista, no lugar da Costa, freguesia de São Paio, e um pouco mais acima, à casa do senhor Augusto Meixeiro, onde procuraram entrar por uma janela. Àquele furtaram fazendas, mercearias e presuntos, tudo no valor aproximado a treze contos de réis; e a este, por ter acordado no momento preciso do assalto, e os haver interpelado, nada roubaram, mas mimosearam-no com uns quatro tiros de arma de guerra. Aguarda-se e espera-se o bom resultado das diligências já encetadas pela autoridade

 

     No dito número do “Notícias de Melgaço” podemos ler: «Declaração: José Domingues Baptista, do lugar da Costa, da freguesia de São Paio, declara que em virtude de sua casa ter sido assaltada por atrevidos meliantes, de onde lhe furtaram diversos artigos, bem como o carimbo da sua casa comercial, não se responsabiliza por qualquer documento que tenha o seu carimbo. São Paio, 13/8/1962// continua...






Sem comentários:

Enviar um comentário