quinta-feira, 4 de junho de 2020

POEMAS DO VENTO
 
Por Joaquim A. Rocha


pintura de Jaime Murteira

// continuação...


Há por aí estranha «raça»…

Que leva o dia a mendigar;

Mas que gente, que desgraça,

Não querem é laborar.

 

Mas que horda sem vergonha,

Passam o dia a pedir;

Imitam bem a cegonha,

Têm crianças sem parir.

 

Pede a Dolores e a Zita,

Refesteladas no chão;

É uma malta parasita,

Não sabe ganhar o pão.

 

Seus filhos não vão à escola,

Fogem de todo o saber;

Preferem a vil esmola,

Só gostam é do lazer.

 

É gente fria, matreira,

Olham-nos com azedume;

Roubam a nossa carteira,

O cigarro e o lume.

 

Vendem mil coisas na feira,

Sem nenhuma qualidade;

Seja no Minho ou na Beira,

 Na vila ou na cidade.

 

Outrora andavam a pé,

Percorrendo mil caminhos;

Armavam sempre banzé,

Na festa de São Martinho.

 

Agora andam de popó,

Sem carta de condução;

O polícia sente dó,

Com medo da vingação.

 

Roubavam porcos, galinhas,

Ovos, roupas e fumeiro;

Jogavam nas vermelhinhas,

Fugiam do carabineiro.

 

Mentem com desfaçatez,

Brincam com a autoridade;

Se convém, é português,

E pertence à cristandade.

 

Fervem por tudo e por nada,

Andam sempre em zaragatas;

Têm sempre a faca afiada,

E garras como as gatas.

 

Têm a pele avermelhada,

Como o índio americano;

Uma língua só falada

Por esse povo marrano.

 

Cantam-lhe algumas canções,

Cantores de alta ralé;

Mas se há aproximações,

Têm a arma ali ao pé.

 

Por que existe uma tal «raça»

Ninguém o sabe em verdade;

Talvez um deus, por chalaça,

A criasse por maldade.

 

Quem os criou realmente,

Ninguém o pode dizer;

Talvez Javé, descontente,

Os criasse sem saber.

 

Porém um dia, Tu sabes,

Vão ficar iguais a nós;

Ali, no reino de Hades,

Cinzas, sementes de pós!

 

  POMBAS


Pomba brava, pomba mansa,
Onde está vossa diferença?


- «Eu vivo nas matas de França

Longe da humana presença

 

«Eu, pomba pacata, mansa,

Vivo com seres humanos;

Dou-me com gente de trança,

E até com franciscanos.

 

Moro em Braga, em Lisboa,

No Porto e Santarém;

Já morei também em Goa,

Em Damasco e Belém

 

A nossa Terra é pequena,

Vamo-nos ver certo dia;

Talvez na Serra Morena,

Ou no Mar da Fantasia.
 

 
// continua...
 
 

 

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