domingo, 19 de abril de 2020

QUADRAS AO DEUS DARÁ
 
Por Joaquim A. Rocha 






Abriu-se a caixa de Pandora,
Dela saiu o bem e o mal;
O bem foi-se logo embora,
Restou-nos a semente letal. 
 
*

Mata o vírus da chalaça,

Com pistola ou com a faca;

Não pode ser com fumaça,

Nem com a dura matraca.

*


O bichinho não tem olhos,


Orienta-se p’lo cheiro;

Na vida só há abrolhos,

Um parasita gaiteiro.

*

 Se ele entrar no nariz,


Atira-lhe com pimenta;


Mata o bicho de raiz,

Com bagaço e água benta. 

*

 Se ele entrar pela boca,


Cospe logo de seguida;


Fura-lhe as tripas c’a broca,

Dá-lhe banhos de amida.

*
  
Se ele entrar pelo tal,

Dá-lhe um tiro de canhão,

“Cheirinhos” de carnaval,

Desgostos de coração.

*

Se ele entrar p’los ouvidos


Bota-lhe azeite a ferver;

  E não ligues aos gemidos

Desse monstro a morrer.
 
  *
 
                         Usa a máscara do Zorro,

O longo pau de Moisés;

Na cabeça usa gorro,

Lava com sal os teus pés.

 *

Come muito, bebe bem,


                          E dorme o suficiente;

Ouve o senhor de Belém,

O tal amigo da gente.


Escuta o senhor da Costa,

Nosso anjo protetor;

Fala bem, não fala bosta,

É um deus, nosso senhor.

 *

Protege-nos a todos nós,

Com ele estamos seguros;

Dentro da casca de noz,

De muralhas, altos muros. 

 *

Estamos na vil prisão,

Por cem crimes de outrora;

Sem culpas não há perdão,

Sem noite não há aurora.

 *

Que mal fizemos ao bicho

Para sofrermos assim?

Não somos os de rabicho,

Nem anjo… ou serafim.

                                          *

 Detestamos guerras frias,


As quentes, e até mornas;


Ajudamos obras pias,

Dormimos as belas sornas.

*
  
Foge de nós, parasita,

Vai para outros universos;

Não me dês cabo da guita,

Nem dos meus humildes versos.





 

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