sábado, 9 de setembro de 2023

SONETOS DO SOL E DA LUA

Por Joaquim A. Rocha 


// continuação de 16/07/2023.



O RAPAZ DAS PINHAS


(147)

 

Trepava aos pinheiros com destreza,

Selecionava as melhores pinhas,

Esquecia aquelas dores mesquinhas,

Respirava no monte sã beleza.

 

De coisa alguma tinha a certeza,

Crenças dos outros não eram minhas;

Para todos os males havia mezinhas,

Ria-me da morte, da vil tristeza.

 

O tempo passou e eu fui crescendo,

  Entre oficinas, rios e serras,

A minha agilidade foi morrendo…

 

Meus olhos viram outras gentes, terras,

Minha juventude fui esquecendo,

No peito tenho punhais, salvaterras!


 

 A GRAÇOLA

(148)

 

Naquela minúscula oficina

Vê-se um rapaz a endireitar tacha,

Aos sapatos e botas põe-lhe graxa,

Cumprindo ordens, a sua rotina.

 

Na rua passa uma linda menina,

Levando à boca uma bolacha;

O moço atira-lhe uma chalaça,

Mas a ela não agrada, e afina:

 

«Seu maroto, atrevido, canalha,

Eu sou descendente de gente bem,

Não sou como tu, escumalha…

 

Tu, coitado, um pobre Zé-Ninguém, 

Jamais serás da minha igualha…

Vales menos do que reles vintém

 


 

O MEU LUGAR É AQUI

(149)

  

Ó deuses, dai-me a imortalidade,

Não me leveis deste mundo tão cedo;

Revelai, por favor, vosso segredo,

Dai-me novamente a mocidade.

 

Quero viver no tempo sem idade,

Sempre jovem, eternamente ledo;

Despojar do meu cérebro o medo,

A raiva, o ódio e a vaidade.

 

Não quero esquecer o que vivi,

Partir para longe, jamais voltar…

Meu corpo e espírito é daqui,

 

Este planeta é o meu lugar,

Nele, numa primavera, nasci…

Deixai-me neste cantinho ficar. 




// continua...

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