domingo, 16 de julho de 2023

SONETOS DO SOL E DA LUA

Por Joaquim A. Rocha



// continuação de 16/06/2023. 

DIA NÃO

(145)

 

Nasci numa manhã triste, cinzenta,

Entre pinheiros, rios e regatos…

Aspergiram na mona água benta,

Dormi entre pintos, porcos e gatos.

 

Nunca tive uma vida ternurenta,

Só já em adulto usei sapatos…

Ameaçaram-me com prisão nojenta,

Por roubar dez pinhas, lenha e matos.

 

Aos vinte mandaram-me para a guerra,

Como se eu fora carne pra canhão…

Levaram-me pra bem longe da terra,

 

Alimentado só a caldo e pão.

Pagaram com moeda chica perra,

 Três anos de sangue e solidão.

 

 

  HOSPITAL

(146)

  

Naquela cama triste de hospital,

Esperando uma milagrosa cura,

Fugindo da parca, da sepultura,

O doente espera vencer o mal.

 

O esforço da medicina é colossal,

Médicos não se cansam na procura…

Querem evitar o fim, a rutura,

Matar a besta, seu olhar letal. 

 

Jorra pelos brancos lençóis o sangue,

Litros de soro percorrem as veias;

O pobre paciente está exangue…

 

Ao longe já cantam belas sereias,

Embriagadas com haxixe, bangue, 

Esperando, sedentas, lautas ceias.




// continua... 

Sem comentários:

Enviar um comentário