sexta-feira, 16 de junho de 2023

SONETOS DO SOL E DA LUA

Por Joaquim A. Rocha 



ESCULTOR DE MIM

(143)

 

Esculpi minha efígie em granito,

Ficou feia, horrível, quase esfinge;

Não se nota a boca, nem laringe,

É semelhante a Seth do Egito.

 

É um eco longínquo, maldito,

Que a minha débil mente atinge,

O meu frágil corpo e alma cinge,

Num abraço de morte, letal grito.

 

Queria desfaze-la, mas não posso,

Tornou-se verdadeira, ganhou vida;

 Apesar de estática, tem poder…

 

À sua volta nasceu lago ou poço,

Que lhe serve de forte, de guarida,

E de espelho d’água para se ver.

 

 

 

REGRESSO DA DOENÇA

(144)

 

Regresso da doença crua, vil,

Como quem regressa da tempestade,

Dum fogo eterno, que sempre arde,

Com início no belo mês de Abril.

 

A malvada, sem nome nem perfil, 

Aumentou dez anos à minha idade,

Apagou em mim toda a mocidade,

Roubou-me imensa seiva e ceitil.

 

Não quero ouvir falar da tal ranhosa,

Mais soez do que fera enraivecida;

Mais satânica do que cão raivoso…

 

Tudo farei pra matar a tinhosa,

Pisá-la, mesmo depois de vencida,

Como se fora lacrau venenoso.

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