quinta-feira, 10 de setembro de 2020

POEMAS DO VENTO
 
Por Joaquim A. Rocha


desenho de Luís Filipe Rodrigues




// continuação...

CANTIGAS AO DESAFIO

 

Mote

 

«Cantigas ao desafio

Comigo ninguém as cante;

Eu tenho quem mas ensine,

Meu amor é estudante

 

Desenvolvimento:

 

Teu amor é estudante

O meu já é sô doutor;

Cantigas que ele me ensine

Têm a marca do rigor.

 

Gostas muito de cantar

Mas não cantas nada bem;

Cantar é um dom que nasce

No ventre de nossa mãe.

 

Só porque tu cantas mal

Julgas os outros por ti;

Eu canto qual rouxinol,

Na natureza aprendi.

 

A vaidade não te falta

E orgulho, nem falar;

Julgas-te brilhante estrela,

Linda santinha de altar.

 

Não sou brilhante estrela,

Nem um pedaço do céu;

Sou uma humilde mocinha

Que para a canção nasceu.

 

Se cantasses, como eu canto,

Com notas finas e aladas;

Julgar-te-ias princesa,

Ou a rainha das fadas.

 

Quando te ouço cantar

Sinto desejos de rir;

A boca boceja tédios,

Não sei como resistir.

 

Então eu, quando te ouço,

Penso logo em fugir;

Por vergonha não o faço,

Tenho mesmo de te ouvir.

 

Eu prefiro ouvir o galo,

O pobre gato a miar;

Até o cuco no mato,

Lobos no monte a uivar.

 

Eu prefiro ouvir trovões,

A chuva forte a cair;

A acha a arder na lareira,

O comboio a partir.

 

Marco Paulo e Abrunhosa

À tua beira, são bons;

Calvário e Quim Barreiros,

Rebuçadinhos, bombons.

 

Quem desdenha quer comprar,

Dizes mal, é porque gostas;

Se não gostasses de mim

Viravas-me logo as costas.

 

Presunção e água benta

Cada qual toma a que quer;

Tu és uma convencida,

Tens muito para aprender.

 

Deixemos isso pra lá

E dêmos um grande abraço;

Cantamos ambas mui bem,

Com nossa voz de melaço.

 

Disseste pura verdade,

Cantamos ambas mui bem;

Somos caninhas rachadas,

Uísque de Sacavém.

 

Em coro:

 

Temos maviosa voz

Pra cantar ao desafio;

Com mil peixes a escutar,

Movendo-se em rodopio.





Sem comentários:

Enviar um comentário