sábado, 12 de setembro de 2020


 
// continuação... 
 
 
 
50
 
Manda construir os belos Jerónimos,
A lindíssima Torre de Belém;
Artistas conhecidos e anónimos
Trabalham por cruzado e um vintém,
Tornando os monumentos sinónimos
De um Portugal rico, gente de bem.
E pra que dos cristãos receba louros
Expulsa do país judeus e mouros.
 
51
 
Os que se converteram a Jesus
Serão designados de cristãos novos; 
Carregarão nos ombros outra cruz,
Ficam presos, tal galinhas nos covos.
Os seus olhos jamais verão a luz,
Tudo parecerá negro de corvos.
Esquecerão o Alá e Javé,
Agora têm novo credo e fé.
 
52
 
Ai que coisa esta das religiões
Que transforma os humanos em reféns;
Ficam cegos, entram em mil prisões,
  Em busca de céus, de divinos bens;
Perdem-se em miríades de ilusões,
Tornam-se vis escravos, zés-ninguém!
Buscam para os seus males uma cura,
Para os tormentos dor menos dura.
 
53
 
Seguem - na senda do desconhecido -
Caminhando além, de olhos vendados;
Buscando milagres, algo parecido,
E no fim todos se sentem frustrados…
Na pia o menino é benzido,
Levado pelos trilhos já traçados.
Prometem-lhe a cura da sua alma
Lugar no doce céu, com paz e calma!
 
54
 
Grande farsa, conversa de crianças,
Tudo que há está dentro do universo;
Fora existe nada, falsas esperanças,
Cabendo tudo num vazio verso…
Os deuses executam lindas danças
Mostrando, da medalha, o anverso.
Humanos devem crer na natureza,
Nossa madre, que nos serve à mesa.
 
55
 
Voltemos a esses reis prepotentes,
Beis do mundo, senhores absolutos,
Donos de mil burgos, das suas gentes,
Ágeis, cruéis, velhacos e astutos;
Sempre irritadiços, descontentes,
Horríveis, sanguinários, brutos.
Deram-lhes bons cognomes os cronistas
A fim de iludir o povo, suas vistas.
 
56
 
Dom João, inspirado, genial,
Olhando as mil riquezas da terra,
Subido tesouro, manancial,
Abandona o mar, deixa a guerra,
Torna o casto Brasil colossal,
Uma fase da história encerra.
Divide tudo  em capitanias,
Tomé Sousa foi David e Golias.
 
57
 
Distribuiu as terras por colonos,
Todos eles de origem portuguesa,
Tornando-se assim verdadeiros donos,
Descobrindo ouro, criando riqueza;
Vendo belos pássaros, feios monos,
Esquecendo os mares da incerteza.
Ganhando à terra terno amor,
Cultivando-a com ganas e suor.
 
58
 
Pagavam à coroa certos direitos,
Dinheiro que enchia cofres do Estado,
Fazendo crescer os fortes peitos
De fidalgos e do rei endeusado;
Erros crassos e enganos desfeitos,
Tudo pertencia agora ao passado.
Fundou-se a cidade São Salvador
Em honra do Santíssimo Senhor.
 
59
 
O Brasil cresceu como um gigante,
Transformando-se quase continente;
E se para o rei era inconstante,
 Era querido de imensa gente.
Por isso, de repente, num instante,
Criou asas, tornou-se independente.
Pulmão do mundo, mil rios, floresta,
Alimenta todo um povo em festa.
 
60
 
Vai para Coimbra a Universidade,
Contrataram distintos professores,
Pois o saber não tem tempo, idade,
Apenas curiosos e cultores...
Nascem por mercê novas faculdades,
Estatutos novos, muitos doutores.
Para que nas urbes não surja inveja
Prometem-se outras para  Faro e Beja.
 
61
 
Vêm do estrangeiro sábios mestres,
Ensinar aos lusos novas ciências;
Não vêm doutro planeta, são terrestres,
Mas no lauto saber são excelências,
E no comportamento são pedestres,
As vaidades neles são excrescências.
Ensinam também novas técnicas e artes
Para que aqui conste e noutras partes.
 
62
 
E pra que nada falte a este país
Vem de Roma a Companhia de Jesus;
Trazem na bagagem projetos de raiz,
O ensino gratuito, muita cruz;
Pregam na capela, igreja matriz,
Onde haja pouca ou muita luz.
Destaca-se São Francisco Xavier,
Divulga o seu credo a quem quiser.
 
// continua...

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