sábado, 3 de dezembro de 2016


ESCRITOS SOBRE MELGAÇO
 
Por Joaquim A. Rocha






VI JOGOS FLORAIS
 

 

     Antes de mais nada quero expressar a minha solidariedade com a Ana Cristina (ver A Voz de Melgaço n.º 1013, de 1/9/1994, página 8). Ela tem razão: há crianças com muito jeito para o desenho (e para outras artes) e por vezes surpreendem-nos com a sua maturidade artística. O júri provavelmente esqueceu esse pormenor e fez um juizo precipitado – errou! Enfim, falhas que terão de ser corrigidas no futuro. Não partilho com ela a ideia de supostos «resultados pré-fabricados». Isso, não! Os prémios são tão insignificantes, os premiados tão secundarizados, que não justifica esse acto vil. A corrupção existe, ninguém o pode negar, mas não nestas coisas: seria simplesmente absurdo!

     Falemos de outros assuntos: da feira do livro, por exemplo. Das duas, uma: ou o vereador da cultura nunca assistiu a uma feira do livro, o que é gravíssimo para quem detém esse pelouro, ou então está-nos a vender gato por lebre! A feira do livro de que fala a Câmara Municipal resumiu-se a meia dúzia de livros expostos num minúsculo pavilhão; qualquer feira do livro digna desse nome tem dezenas ou mesmo centenas de pavilhões e milhares de obras! Que pobreza franciscana! Onde se encontravam os livros para vender, a variedade, a qualidade, os preços baixos?! Onde estavam as obras de autores melgacenses? Por que não se reeditaram os cadernos esgotados: «Pontes Romanas e Românicas de Castro Laboreiro»; «A Fortaleza de Melgaço: Pedras e Património»; «Manjares da Nossa Terra»? Por que não se estimularam outras edições? Por que não se convidaram as editoras a mostrar as suas novidades editoriais? Se querem dignificar o nome das festas terão de fazer melhor, de abandonar o envergonhado amadorismo.

     Tal como tinha prometido, vai iniciar-se neste número do jornal a publicação dos textos premiados (poesia e prosa). Quanto ao desenho e fotografia, esperemos que um dia a Câmara publique em livro esses trabalhos.

 

A Nau Melgaço

 
Melgaço é verde nau fora do mar.

Talvez por ter a serra como lastro!

Por bojo tem, de pedra, um velho castro,

E tem por vela um céu azul sem par!

 

Na proa, a Inês Negra, em quebra-mar;

A torre, tão altaneira, é o seu mastro;

Tomou por seu farol divino astro

E fez do Minho o cais para atracar…

 

A bordo, a Liberdade é capitão;

No próprio povo tem a guarnição

Que faz vogar a nau no seu espaço…

 

Das glórias do passado herdou o rumo,

E voga para o Futuro com aprumo,

Mostrando eterno orgulho em ser MELGAÇO!

 

(Raul Coentro – 1.º prémio)

 
*
 

Viagens anuais de e para Melgaço
 

     Sonhei com Melgaço a chamar-me de todos os seus recantos, desde o vento fresco e húmido do Gerês, à brisa, às vezes morna, de Espanha, ao espaço muito antigo do castelo, fortaleza árabe, de ilustre história, mandado povoar pelo rei conquistador, que depois lhe deu foral e o elevou a concelho. Todos nós, com certeza, atendemos a este chamamento, não só da vila, como das dezoito freguesias do concelho, ao amarmos pedra a pedra, cantinho a cantinho, a nossa terra, lá no alto, onde Portugal começou há cerca de dois mil anos (*). E pronto, lá vou. Inicio, pela décima vez, a viagem a recordar pinheiros verdes, carvalhos, castanheiros, latadas de vinhas, igrejas e capelas, ermidas e campos. E assim vou bebendo …
 

M.ª Julieta Silva (2.º prémio)

 
     Nota: o texto continua, mas devido à sua narrativa não estar enquadrada num perfil de coerência e de interesse literário ficcional, achei melhor ficar por ali, retê-lo, dando ao leitor a possibilidade de imaginar o resto.      


     /// (*) É óbvio que a afirmação está errada, pois o país chamado Portugal nasceu do condado portucalense no século XII. Melgaço, sim, terá mais de dois mil anos; de acordo com a tese que eu defendo, teriam sido os fenícios que criaram esta povoação, cujo nome deriva certamente do deus dos fenícios, conhecido por Melkart, que esse povo antigo adorava.  

 

             Artigo publicado em A Voz de Melgaço n.º 1015, de 1/10/1994.

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