sábado, 29 de abril de 2023

 QUADRAS AO DEUS DARÁ

Por Joaquim A. Rocha



// continuação de 17/03/2023


216

 

Não sei o que a Lena tem,

Que cativa toda a gente;

É ave, voa tão bem!

Lagarto, de sangue quente.

 

217

 

Não sei se há alguém no mundo

Com tantos dons, tais virtudes;

Inteligência serena,

Pairando nas altitudes.

 

218

 

Juntamos bola e política,

Escuros e marginais;

Falamos de tudo e todos,

Acabou: já não há mais.

 

219

 

Santo António anda perdido,

Nos arraiais de Lisboa;

Anda a fugir de Cupido,

Da seta que não perdoa.

  

220

 

Santo António anda perdido,

Nos arraiais de Lisboa;

Quer passar despercebido,

Correr a cidade à toa.

 

221

 

Santo António anda perdido,

Nos arraiais de Lisboa;

Sempre audaz e divertido,

Vai comendo febra e broa.

 

222

 

Santo António anda perdido,

Nos arraiais de Lisboa;

Anda à sorte, sem sentido,

Nos braços da Madragoa.

 

223

 

Santo António anda perdido,

Nos arraiais de Lisboa;

Veio de Pádua fugido,

A bordo de uma canoa.

 

 224

 

Santo António anda perdido,

Nos arraiais de Lisboa;

Já traz o peito dorido

De tanta canção que entoa.

 

225

 

Santo António anda perdido,

Nos arraiais de Lisboa;

Com seu amigo Cupido

Vai curtindo numa boa.

 

226

 

Santo António anda perdido,

Nos arraiais de Lisboa;

Não quer ser reconhecido,

Mas a fama não perdoa.

 

227

 

São João pediu-me um dia

Que esquecesse a tristeza;

Brincasse com a Iria,

Saísse com a Teresa.

 

 228

 

São Pedro nasceu cansado,

Não gosta de trabalhar;

É bailarino alado,

Não se farta de dançar.

 

229

 

Santo António faz milagres,

Faz milagres aos milhares;

De vinhos dá-nos vinagres,

Do barro faz alguidares.

 

230

 

Há três santos populares

Adorados pelo povo;

São Pedro e São João,

Santo António, o mais novo.

 

231

 

O santinho português

Saiu-me bom malandrão;

De inverno ninguém o vê,

Só vem à rua no verão.

 

 

 

232

 

São João mudou de cara

Para enganar as mocinhas;

Todas servem para ele,

Sejam magras ou gordinhas.

 

233

 

São João pra namorar

Põe cabeleira postiça;

Usa bengala de prata,

E veste roupa castiça.

 

234

 

São João pra disfarçar

Mascara-se de carriça;

Usa calça muito larga

Pra esconder a linguiça.

 

235

 

Na noite de São João

Esqueço meu sofrimento;

O santinho dá-me forças,

Rodopio como o vento.

 

 

 

236

 

Na noite de Santo António

Eu sou como um homem forro;

Grito, bailo, tal demónio,

Levo e dou com alho-porro.

 

237

 

No dia de Santo António

Fui ao baile e chorei;

Tinha ali mesmo a meu lado

A mulher que abandonei.

 

238

 

Na noite de São João

Ninguém pode descansar;

Todo o mundo é folião,

Toda a gente quer bailar.

 

239

 

Viva a festa, viva a farra,

Os santinhos populares;

Muito vinho, pouca parra,

Sardinhas, outros manjares.

 

 

 

240

 

Santo António de Lisboa,

Saiu-me um tipo matreiro;

Diz aos outros pra casar,

E ele fica solteiro.

 

241

 

Por causa do São João

Passei a noite ao relento;

Parecia um gavião,

Com suas asas ao vento.

 

242

 

Santo António, meu padrinho,

Meu santinho milagreiro;

Dá-me uma pipa de vinho,

Um alforje com dinheiro.

 

243

 

Tu és verdadeiro sismo,

Arrasas por onde passas;

Lanças-nos para o abismo,

Causando-nos mil desgraças.

 

 

 

244

 

A quadra popular

Tem muito que se lhe conte;

Anda alegre no seu lar,

Felicíssima no monte.

 

245

 

Fui ontem ao cemitério

Visitar os sem-abrigo:

O João, Luís, Rogério…

Só falta lá o Rodrigo.

 

246

 

A vida é como o comboio:

Para em cada estação;

Um aqui, outro acolá…

Restos de pura ilusão.

 

247

 

A vida é um carrossel:

Gira, gira, sem parar;

Chega a ceifeira do fel,

Parte com ela a bailar.

 

 

 

248

 

A vida dá-me de tudo:

Tristezas e alegrias;

Deu-me um repolho taludo

Que me causa mil azias.

 

249

 

A vida é como a sorte:

Muda logo num rompante;

Às vezes anda no norte,

Por norma está distante.

 

250

 

A vida é como a sorte,

Como ela, intermitente…

Anda à cega, perde o norte,

Abre os olhos, vai em frente.

 

251

 

Tive um soneto na mão

Para o dar ao meu amor;

Mostrava-lhe o coração,

Minha alegria e dor.

 


252

 

Eu sou como o esquilo,

Salto de ramo em ramo;

Sou livre, sem espartilho,

Não tenho dona nem amo.


// continua...

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