terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

SONETOS DO SOL E DA LUA 

Por Joaquim A. Rocha



// continuação de 7/01/2023.


ALMA DE HERÓI

(139)


 

Tenho alma de herói e de poeta,

Trago Camões metido no meu bojo;

Por ele ainda hoje ando de nojo,

Na sua obra tracei a minha meta.

 

Cupido alvejou-me com sua seta,

Comi carqueja, feno, muito tojo;

Por ele andei de cócaras, de rojo,

Segui às curvas numa longa reta.

 

Tudo isto que escrevi era mentira

Se eu vivesse em pura ilusão,

Chamasse pechisbeque à safira,

 

À urtiga rainha do sertão.

Eu não confundo cores com olfato,

Em tudo tem de haver luz e recato. 

 

 

O MEU LAR

(140)

 

Residi numa selva de betão,

Ali para os lados de Odivelas…

Tudo se assemelhava a favelas,

Do Rio de Janeiro ou Paquistão.

 

Pereceu ali minha ilusão,

A minha crença em coisas belas;

As serenatas à luz das mil velas,

O meu amor, minha religião! 

 

Fiquei vazio, isolado, sozinho,

Zangado com o mundo, com as gentes,

Bebi jeropiga, litros de vinho,

 

Afoguei a dor em aguardentes.

Regressei cansado ao velho Minho,

Onde jazo ao lado de descrentes.


// continua...

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