segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

FERREIRA DA SILVA

(Bracarense pelo nascimento, melgacense pelo coração) 


// continuação de 4/11/2022)

 

     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1498, de 19/1/1964: «EM BENEFÍCIO DO HOSPITAL. // Está definitivamente marcada a data de 1 de fevereiro próximo para a realização do Cortejo de Oferendas em benefício do nosso hospital. A poucos dias dessa importante e benemérita realização – que bem merece o apoio e o auxílio de todos os melgacenses – renovamos os nossos melhores e mais sinceros votos de simpatia e incitamento a todos quantos podem contribuir para o triunfo e completo êxito da benemérita cruzada de Bem-Fazer em perspetiva. Os estabelecimentos hospitalares têm dado prestígio e lustre à atuação piedosa e caritativa das misericórdias as quais, desde a sua remota fundação, mereceram e merecem o mais devotado e carinhoso amor dos seus irmãos e colaboradores. Em tempos idos a ação destas prestantes instituições em benefício da assistência gratuita aos doentes e necessitados resultou, quase exclusivamente, de frequentes e valiosos legados, esmolas e deixas de benfeitores. Os rendimentos dos bens de mão morta, dos que, obrigatoriamente, foram convertidos em obrigações do tesouro, dos capitais mutuados, foros, censos, pensões e laudémios de prazos constituídos a seu favor e de alguns bens imobiliários livres, foram a principal e quase única fonte de receita, durante muitas décadas, das instituições de caridade deste género. Era bem precária a atuação beneficente das misericórdias, nessa época, por falta de rendimentos e porque os doentes e necessitados quase podiam ser assistidos nas consultas, bancos e nas limitadíssimas instalações internas; a assistência foi-se fazendo, melhor ou pior, devido à generosidade de benfeitores – que sempre os houve – e da bondade e sacrifício dos provedores. Atualmente as misericórdias passam um dos seus mais graves períodos de crise e é com extrema dificuldade que exercem a sua atuação piedosa e benemérita, sabe-se lá como, em muitos casos, devido à falta de meios. Certo é que conversão obrigatória das Obrigações do Tesouro – Dívida Interna Consolidada – reduziu grandemente os rendimentos normais das misericórdias e, não obstante a descoberta de muitos produtos químico-farmacêuticos eficazes em determinadas doenças, o número dos que sofrem é cada vez maior e não encontram toda a assistência médico-farmacêutica de que carecem. Nos velhos e nos novos hospitais escolas, nas Caixas de Previdência e outros serviços sociais a cargo do Estado, Corporações de Assistência e Caridade e outros organismos corporativos. O problema da assistência deve ser encarado e resolvido em globo pelo Estado, em nossa opinião, criando o número indispensável de clínicas, hospitais, casas de repouso e outros estabelecimentos afins e obrigando todos os naturais e residentes no país a contribuírem e a pagarem proporcionalmente o custo dos respetivos serviços, pela criação de um seguro social obrigatório geral, por meio do qual o necessitado usufrui de um direito coletivo e não de uma esmola. Como nos países nórdicos, assistência em todas as modalidades, igual para ricos e pobres, nobres e plebeus, nas várias clínicas, em perfeitas condições de funcionamento e de igualdade, sem distinção de cor, de raça ou de religião. Perante a assistência todos devem ser iguais, todos devem usufruir os mesmos direitos; não há regalias, há apenas doentes e necessitados. Na Inglaterra, o governo conservador manteve a socialização da medicina decretada pelo governo trabalhista e ministro Bevan e todos, ingleses e estrangeiros residentes, permanentes ou acidentalmente, no país têm direito a receber tratamento gratuito, clínico e cirúrgico. Não esperamos tanto, mas é bom que pensemos seriamente em instituir a obrigatoriedade coletiva do seguro social e no pagamento com o produto do seu rendimento dos encargos que comporta a assistência em todas suas modalidades, certos de que um povo saudável, forte e instruído, é um grande capital nacional. Contribuamos generosamente e colaboremos na cruzada benemérita em prol do nosso hospital já que, por agora, não temos outro instrumento melhor e mais eficaz para levar aos doentes e necessitados a saúde, a cura das suas enfermidades e o fortalecimento dos seus organismos depauperados. Assim ficaremos de bem com as nossas consciências e com Deus.» // F.S.  

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1499, de 26/1/1964: «SERVIÇO POSTAL. // Parece estar averiguado que o serviço de transporte de notícias escritas teve o seu início quando aos grandes impérios da Antiguidade se tornou necessário estabelecer comunicações rápidas e frequentes, entre o governo central desses impérios e os generais dos seus exércitos em operações. O sistema começou por uma espécie de “postos” distantes uns dos outros por um dia de marcha e onde homens e cavalos se mantinham prontos a receber o emissário procedente do “posto” anterior. Para a correspondência do Estado e perfeição dos serviços dos correios, determinou o imperador Augusto o estabelecimento de estações de muda ao longo de todas as estradas militares para levar os despachos a outra “positi” mais afastada. Cabe a Carlos Magno a criação de um corpo de correios e de quatro grandes linhas de mudas e mais tarde, no advento da Renascença e no período das Descobertas, todas as nações tomaram a seu cargo o serviço dos correios e vigilância de correspondência de caráter internacional. Entraram em cena os postilhões e as malas-postas; nestes serviços acharam os Estados novas fontes de receita. No nosso país, para não se alterar o hábito da criação das boas conezias criou-se o cargo, nomeou-se um “Correio-Mor” e estabeleceu-se uma organização similar à dos outros Estados europeus. // Ao escrevermos este ligeiro introito não pretendemos alardear erudição, aliás colhida sem esforço em qualquer enciclopédia mas, tão-somente, salientar que o serviço dos correios é indispensável às comunicações e relações entre os povos e será tanto mais perfeito quanto mais rápido e regular. Atualmente as comunicações postais constituem em Portugal uma das mais importantes organizações industriais comparticipadas pelo Estado e uma das mais frutuosas fontes de receita dos respetivos serviços autónomos. Em virtude de convenções postais e acordos internacionais, os serviços dos correios sempre têm mantido uma organização impecável, e os quadros do seu pessoal especializado bem merecem o apreço em são tidos por todos quantos os utilizam. É evidente que os correios ou constituem um serviço rápido e ininterrupto, de modo a proporcionar às populações as regalias e as vantagens correspondentes à era atual, de velocidade e de impulso civilizador, ou perdem em muito o interesse na intensificação da concentração administrativa e da vida económica, social e política. // Nas povoações que não são ligadas à rede ferroviária o transporte do correio faz-se por meio de serviços combinados de camionagem ou, diariamente, por auto ambulâncias postais. Durante muitos anos, o chamado comboio-correio – por trazer atrelada uma ambulância postal - seguia direto de São Bento, Porto, até Monção, sem outras demoras além das paragens horárias para embarque e desembarque de passageiros, malas postais, cruzamentos e abastecimento de água; na estação de Monção, as malas transportadas por este comboio e as da vila de Deuladeu Martins eram entregues à caminheta de passageiros que em serviço combinado ligava Monção a Melgaço – o correio era então distribuído a boas horas e por uma só vez. Atualmente o comboio-correio estaciona em Viana do Castelo, fazendo de comboio direto, semi rápido, de Viana a Monção, e transportando, apenas, as malas da correspondência expedida do sul da capital do nosso distrito; a restante correspondência e encomendas, são transportadas noutro comboio que faz de correio de Viana até Monção. // Resultado de todas estas andanças: o correio é distribuído em Melgaço às dezasseis horas e trinta minutos e dezassete horas o que equivale a dizer que, uma carta expedida do Porto, leva cerca de dez horas para chegar a Melgaço! Por outro lado, o camionista da carreira que contratou o transporte das malas do correio obriga a manter duas caminhetas em vez de uma, para esperar os dois comboios que trazem correio! Pode isto continuar assim?! Entendemos que não. Contra este estado de coisas compete à Câmara e à população melgacense manifestar-se e protestar junto das administrações da C.P. e dos C.T.T., certas de que o caso será visto com inteligência e justiça. Esta estranha falta de consideração e de respeito por tudo quanto é oriundo ou do interesse de Melgaço deve acabar; tem de acabar. No caso vertente seria fácil resolve-lo e nós, que conhecemos o assunto só pela rama, indicamos nada menos de três soluções: a) Confiar o transporte da nossa correspondência à Auto ambulância que parte de Barroselas, passa por Ponte de Lima, Ponte da Barca, Arcos de Valdevez, prolongando-lhe o percurso até Melgaço; b) restabelecer o antigo comboio-correio Porto-Monção; c) Dentro do atual esquema, o transporte das malas entregues em Viana seria imediatamente feito pelo camionista, que poderia adotar o horário de chegada às treze horas e trinta minutos e não às quinze horas, como agora, o que permitiria distribuir o correio às catorze horas e trinta minutos. Ou não será assim?» // F.S.     

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1500, de 9/2/1964: «SIM, VALERÁ A PENA. De França recebemos a carta que a seguir se publica: “li e apreciei imenso o artigo do mui ilustre Diretor do Notícias de Melgaço, do jornal n.º 1497, de 12/1/1964, cujo título VALERÁ A PENA? Dava começo a tão justa crítica, que já há muito deveria ser iniciada. A Câmara Municipal, que é a responsável, a zeladora do brio concelhio, é que deve tomar a iniciativa desta campanha em que todos os melgacenses, por certo, terão a honra de cooperar. Ninguém deverá ser acusado de negligência, pois todos gostamos do «ninho» e quer estejamos na nossa terra ou no estrangeiro, todos trabalham para o mesmo objetivo. Senhor Diretor do Notícias de Melgaço: sim, valerá a pena, que a vossa mão guie a caneta, muitas vezes, em artigos como este a que acima me refiro, pois que em Melgaço, a «TERRA MORTA» como lhe chamam, deve mostrar que não está morta e que poderá singrar sob todos os pontos de vista. É do conhecimento de toda a gente de Melgaço (refiro-me ao concelho em geral) de que tudo aquilo que V. Excelência diz no seu brilhante artigo é puramente verdade e que Melgaço tem necessidade de tudo isso o mais breve possível. A nossa Vila carece das coisas mais importantes e que são indispensáveis hoje em dia. Pois que todos aspiramos um Melgaço melhor. Realmente, são algumas as reparações a fazer, mas não impossíveis de fazer; a questão é que se façam. Eis tudo. Todos esperamos e estamos completamente convencidos de que a Excelentíssima Câmara e os seus competentíssimos dirigentes saberão encaminhar com [dedo] firme aquilo que todos os melgacenses esperam – O PROGRESSO DE MELGAÇO! Bem sabemos que todos os corações melgacenses amam a sua terra e a aspiração é unânime – AVANTE POR MELGAÇO! AVANTE PELO PROGRESSO! // A. (Adolfo Igrejas?)

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1500, de 9/2/1964: «SERVIÇO POSTAL. // Em continuação do que escrevemos sob este título, chegou até nós a cópia da exposição que a seguir se transcreve: Melgaço, 1/2/1964. Excelentíssimo Senhor Correio-Mor. LISBOA. Ao meu apelo, acerca de não deverem ser encaminhadas para o Peso as correspondências destinadas a Prado, daí resultando os inconvenientes apontados nos jornais O Século de 1 de Novembro do ano passado e O Comércio do Porto de 1 de Janeiro findo, procura a Excelentíssima Direção Geral dar explicações numa carta que recebi e em comunicados àqueles importantes órgãos da imprensa. As explicações resumem-se: 1.º - Que se trata “de uma resultante do novo sistema de entrega da correspondência em Prado, que passou a ser servida por um giro rural com sede em o Peso”; 2.º - Que “os prejuízos que o novo sistema acarretou, resultantes da demora na distribuição e a sua falta aos domingos e feriados, são amplamente compensados com o facto de se ter proporcionado a distribuição a quase toda a freguesia; e 3.º - Que tem sido adotado o sistema da substituição gradual das conduções de malas pela distribuição domiciliária que proporciona maior número de benefícios, traduzidos em quase todos os serviços duma estação telégrafo-postal que o carteiro rural executa e permite servir diretamente um grande número de interessados que por dispersos por vários locais distantes dos postos de correio, ou se deslocavam ali para levantar as suas correspondências, ou renunciavam a elas. Posto isto assim, parece, à primeira vista, que tudo está muitíssimo bem. Quem leia, não pode ficar melhor impressionado; porém, na realidade, na prática, tudo está pior, muito pior, e vejamos: as informações do pessoal dos correios, por mais sérias que sejam, não o são mais do que as prestadas no abaixo-assinado que em 30/8/1963 foi endereçado a V. Excelência // E digo que não são mais sérias porque as pessoas que o assinaram e as autoridades locais – pároco, junta e regedor – com o apoio também do Excelentíssimo Presidente da Câmara Municipal, não procuram aumentar o quadro dos funcionários nem o número de estações inúteis. Ora, todas estas pessoas disseram a V. Excelência que o sistema é prejudicial e absurdo por trazer consequências piores que o serviço existente já há mais de quarenta anos. Assim, a correspondência que se recebia todos os dias, incluindo domingos e feriados, só se recebe na segunda-feira de tarde em parte da freguesia e na terça-feira de manhã na maior parte. Esta distribuição é feita de forma tal que os lugares mais distantes – únicos que dela necessitavam – continuam sem ela! Se os benefícios resultantes do novo sistema são tantos, não sei com explicar as reclamações da população que os não quer e de tais benefícios prescinde, mesmo que o carteiro seja como que uma espécie de estação ambulante?! Mas é que nem os chamados “interessados”, que de interessados nada têm, estão dispostos a aguardar em suas casas o dispensável carteiro, sabendo como se sabe que a vida rural é no campo, onde todos trabalham, salvo ligeiras exceções. E o carteiro passa… e a correspondência vai no saco, porque não é permitido dá-la aos vizinhos, mesmo que os haja. Mas como os lugares não são tão distantes como se diz, os destinatários vêm depois quando podem, procurar as cartas ao posto… Prado, Excelentíssimo Senhor Correio Mor, quer continuar a estar nas condições em que estava antes desta (…) judicial inovação que só se compreende como retrocesso. De resto, em devido tempo, eu mostrarei envelopes, que tenho em meu poder, de cartas registadas que, para chegarem a Prado, estiveram na Vila, no Peso e em Prado, no posto, isto porque sendo para o [lugar do] Arrochal, para lá não há o tal carteiro. Quer dizer: andaram do caco para o caquinho. E que importa ao povo de Prado que a estação do Peso só tenha relativo movimento durante a época termal, no verão, e não se justifique ali, como em São Gregório, Pomares, ou até Castro Laboreiro, pessoal do quadro permanente? Isso não nos pertence conhecer, se bem não ignoremos que, com exceção de Melgaço-Vila, é o posto de Prado que tem maior número de registos entrados e saídos?! E aqui está apenas um encarregado e chega! Para Prado não há propositada condução de malas. Estas passam ali à porta vindas de Monção para Melgaço e ali deixam ficar a de Monção, a da Ambulância Minho II e de manhã a de Melgaço. Mas estas malas não trazem correspondência, só a levam! O sistema imposto agora ninguém o pediu, porque não beneficia, ninguém o quer. Nós temos a certeza de que se Vossa Excelência conhecesse isto tal qual é, dar-lhe-ia pronto e imediato remédio, por forma, a que esta gente de Melgaço ficasse satisfeita, como sempre esteve. Creio poder afirmar a Vossa Excelência que mesmo com (!) carteiro tudo ficaria bem impressionado com a solução que parece viável para ambas as partes: - as correspondências de Prado não seriam introduzidas nas malas do Peso, mas sim nas malas de Prado, como sempre, porque a estação do Peso não tem por que receber correspondências de Prado. O dispensável carteiro que vem ao posto de Prado continuaria a vir para ali levantar a correspondência que houvesse para ser distribuída. De outra forma reclama-se, pois, tal como está, o serviço não satisfaz. Reclama-se, sim, e com razão, pois os serviços inventaram-se para servir o público e não para imporem sistemas, contra tudo e contra todos, com prejuízo para o dito público. Apelamos para Vossa Excelência, porque estamos absolutamente cientes de que se Vossa Excelência tivesse inteiro conhecimento da indignação desta gente, já teria mandado remediar o mal, acabando com aborrecimentos que por vezes se refletem, injustamente, nas autoridades locais, que o povo, na sua ignorância, julga culpadas de tudo. Confiado no alto critério e espírito de justiça de Vossa Excelência, subscrevo-me respeitosamente.» // Herculano Arsénio Gomes Pinheiro.           

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1500, de 9/2/1964: «FINAL SATISFATÓRIO. // Terminou com um resultado satisfatório a cruzada de bem-fazer em benefício do nosso hospital. Em primeiro apuramento verificou-se que a importância dos donativos em favor do nosso hospital totalizou a importante cifra de cento e sessenta e quatro contos, números redondos, em dinheiro. Nesta importância há que destacar as verbas individualmente maciças de doze e dez contos oferecidos respetivamente pelo Governo Civil do nosso distrito e pela Direção Geral de Assistência Pública. Atendendo à posição económica e às possibilidades financeiras do nosso concelho, o resultado global deste 4.º Cortejo de Oferendas não é muito nem é pouco: foi o que se tornou possível em tão curto período de tempo, sem a preparação entusiástica que seria de esperar. Nesta santa cruzada, ao contrário do que é normal e pode ser apontado como regra por esse país além, não se realizou propriamente um cortejo de oferendas. Os donativos, praticamente, todos em dinheiro, foram entregues à Comissão Executiva pelas subcomissões das freguesias, das quais fizeram parte o reverendo pároco e gente das juntas de freguesia, e todos, animados da melhor boa vontade e compreensão, acorreram ao edifício do nosso hospital a fim de se desempenharem da simpática missão de ali deixarem os óvulos dos seus conterrâneos. Somos de opinião que, aliás, manifestamos aberta, sincera e lealmente de que, a organização de cortejos parcelares das freguesias com os seus carros e descantes regionais, elevaria grandemente o produto apurado e integrar-se-ia num movimento de alegria acentuadamente popular e carateristicamente minhoto. O povo do Minho é generoso e gosta de dar, porém, não oculta os seus costumes tradicionais de revestir nas suas dádivas de trajes e descantes típicos e garridos, em festas euforicamente pagãs. // É sabido que o minhoto é avaramente apegado ao dinheiro que amealha lentamente e com grande dificuldade entesoura e conta e reconta com infinito prazer. O lavrador, em geral, é capaz de oferecer, com largueza, valiosos géneros e produtos da sua colheita mas, não é homem para dar, em dinheiro, o correspondente a metade do valor vendável dos géneros e produtos oferecidos. Por isso entendemos que a realização de um autêntico cortejo de oferendas não só traria ao nosso burgo o clima agradável e colorido dos alegres dias de festa mas também em valor um substancial acrescento ao resultado apurado. A nossa estimativa revela a elevação para duzentos contos, do total do produto das oferendas, na hipótese de se ter organizado um cortejo constituído pelas representações parcelares das freguesias. Adiante; o caso não merece mais referências e não tendo remédio, remediado está. // É interessante registar as verbas parcelares por freguesias, sendo certo que algumas delas fizeram um belo e grandioso esforço benemerente, atendendo à fraca densidade populacional e ao seu valor económico-agrícola. // Cortejo de Oferendas de 1/2/1964. 1.º Apuramento: Alvaredo 6.225$00; Castro Laboreiro 6.644$50; Chaviães 13.630$00; Cousso, 3.915$00; Cristóval 5.525$00; Cubalhão 1.300$00; Fiães 6.575$00; Gave 1.000$00; Lamas de Mouro 2.480$00; Paços 4.472$50; Paderne 11.211$00; Parada do Monte 4.078$00; Penso (?); Prado 8.277$50; Remoães 2.575$00; Rouças 15.000$00; São Paio 4.854$10; Vila 30.000$00 = 127.762$60. // Governo Civil 12.000$00; Direção Geral de Assistência 10.000$00; do Brasil 10.000$00; do professorado 2.300$00; de diversos 2.660$00 = 164.722$60. // À entrega das oferendas presidiu o Excelentíssimo Sr. Governador Civil do Distrito, a Comissão Executiva e muitos e destacados melgacenses e amigos do hospital. No final o provedor proferiu da varanda do edifício breves palavras de agradecimento ao Dr. Alfredo Pinto, ilustre 1.º magistrado do distrito, a todos quanto contribuíram para o bom êxito do cortejo de oferendas e salientou o valor da campanha realizada no Notícias de Melgaço pelo seu diretor. O signatário destas rápidas notas teve a honra e o prazer de trocar demoradas impressões com o Excelentíssimo Sr. Governador Civil sobre os problemas neste jornal ventilados, dos quais Melgaço espera urgente solução a saber: o caminho-de-ferro, o saneamento e rede de esgotos, a eletrificação da freguesias, o mercado municipal, a pousada, etc., reivindicações estas que terão o seu patrocínio e serão apresentadas, brevemente, por ocasião da sua visita, a Sua Excelência o Senhor Ministro das Obras Públicas. Nos problemas de interesse local todos precisamos de estar unidos, ligados pelo mesmo pensamento e sincero desejo de defender e Bem Servir esta linda terra de Melgaço. // F.S.    

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1501, de 17/2/1964: «35.º ANIVERSÁRIO. Reflexões. // Diz-se que a mão do criador traçou no livro do destino a trajetória do ciclo evolutivo da vida humana. Nos velhos códices do monumental arquivo divino miríades de escribas alados registam, afanosamente, a evolução física e moral dos ínfimos seres pensantes que, neste atribulado orbe terráqueo nascem, crescem e morrem. Na última coluna de cada página individual é anotado o terrível registo da data limite da vida, da destruição do invólucro material que serve de cobertura ao núcleo motriz onde se polarizam e ativam as faculdades do espírito. Durante os três principais ciclos da existência os anos correm, incessantemente, e a nossa ansiedade alarma-se na medida em que na ampulheta veloz do tempo, passa da redoma superior para a inferior, o ténue pó da vida. O primeiro ciclo é o período dos sonhos cor-de-rosa, em que o tempo corre alegre e descuidado; em que nos sentiríamos felizes se pudéssemos acelerar a sua marcha… No período seguinte apuramos o gosto de viver; o mundo torna-se pequeno para abarcar as paixões que nos dominam, afeiçoa as nossas tendências e, por vezes, guia e comanda os nossos anelos. Depois… depois, segue-se a fase da reflexão; os olhos deslocam-se para a nuca para melhor recordarem o passado ou então, mudam a câmara focal, invertem os raios visuais em convergência interior para examinarem, mais criteriosamente, e quase sempre com tristeza, o longo caminho percorrido: é o período da autocrítica, do exame de consciência, de contrição dos erros praticados… Rememoramos, então, a lenda do livro do destino assimilada na infância e o registo fatal que decidirá a misteriosa viagem da qual jamais alguém regressou. A passagem do 35.º aniversário do Notícias de Melgaço sugeriu-nos um mundo de reflexões!... // Na vida humana, trinta e cinco anos não é pouco, nem é muito; pode ser a posse plena da vontade, o fortalecimento do querer, a fase da aplicação prática dos conhecimentos adquiridos… Porém, na vida de um jornal não é nada. Os jornais, como expressão concreta das ideias, não têm registo no livro do destino. Quando são úteis e fieis aos objetivos e princípios patrióticos, regionalistas, morais e sociais que estão na raiz da sua génese, perpetuam-se em reações sucessivas de continuidade; é dentro delas que se congregam esforços, que se cimentam boas vontades, que se equacionam os problemas, que se estabelecem normas e se dita a lei reguladora dos seus objetivos e fins. Os homens foram criados para se ajudarem mutuamente, disse Séneca. Os esforços e as atividades filantrópicas do homem, considerados isoladamente, perdem-se e morrem com eles; jamais assimilam a sua alma ou realizam a ansiedade de os remir dos erros de uma vida egoísta e da sua discutível utilidade na peregrinação pelo mundo… A análise retrospetiva destes trinta e cinco anos revela os fervorosos e sãos sentimentos de amizade, de tolerância, de correção, de lealdade, de altruísmo e de solidariedade dos que nos precederam na direção deste semanário e lançaram os fundamentos dos elevados ideais de paz entre os melgacenses e de concórdia e justiça universal. Comemoramos hoje, festivamente, a data do aniversário do Notícias de Melgaço e saudamos desta tribuna os nossos queridos leitores e prezados assinantes e prestamos sincera homenagem aos que, antes de nós, lutaram pelo engrandecimento e prestígio desta nossa linda terra, que continuarão a viver, hoje, amanhã e sempre na nossa memória e no nosso coração. Ao invés da vida humana, os anos vitalizam e remoçam o nosso jornal e, se lealmente o servirmos e nos esforçarmos pela manutenção dos seus objetivos, teremos prestado um bom serviço a Melgaço e concluiremos que vale a pena viver ao serviço da nobre causa, da sagrada causa, da terra melgacense. // F.S.   

 

 

 

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        Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1502, de 23/2/1964: «ECOS DE UMA VISITA. «Como estava anunciado, Sua Excelência o Sr. Ministro das Obras Públicas efetuou no passado sábado, 15 do corrente mês, a sua visita oficial a Melgaço. À entrada do concelho, na freguesia de Penso, foi recebido e cumprimentado por numerosa e seleta representação concelhia que, acompanhada do senhor Presidente da Câmara, ali compareceu e formou luzido cortejo de automóveis. A vila vestiu as suas melhores galas, ornamentando as varandas e janelas das casas com vistosas e coloridas colgaduras e à entrada dos Paços do Concelho a banda dos bombeiros voluntários, representações da Guarda-Fiscal, Guarda Nacional Republicana e muito povo, dispensou a Sua Excelência calorosa e entusiástica receção. No átrio do edifício e ao longo das escadarias formaram longas filas de crianças das escolas primárias, uma das quais, Maria Carolina Ribeiro Lima Almeida, filha dileta do nosso amigo e colaborador Vasco da Gama Almeida, acompanhada de uma outra sua colega, dirigiu ao Senhor Ministro singelas mas expressivas palavras de boas vindas e de saudação, entregando-lhe um bonito ramo de cravos encarnados. No salão nobre realizou-se uma sessão solene, presidida pelo engenheiro Arantes e Oliveira, ilustre titular da pasta das Obras Públicas, fazendo parte da mesa, além de Sua Excelência, os senhores Governador Civil do Distrito, Presidente da Câmara, Diretores Gerais da Urbanização e dos Monumentos Nacionais, Arcipreste, Juiz de Direito, representantes da União Nacional e Legião Portuguesa, e Presidente dos Bombeiros Voluntários. Tomando a palavra, o senhor Presidente do Município, professor Manuel José Rodrigues, leu uma saudação vibrante e entusiástica de boas vindas e cumprimentos, e testemunhou a Sua Excelência a sua convicção e confiança de que nesta honrosa visita Melgaço seria ouvido e atendido nos seus justos e legítimos anseios, em ordem a enfileirar entre as terras progressivas que ilustram e marcam, eloquentemente, a passagem feliz de tão alta individualidade pelo Governo da Nação. Em resposta Sua Excelência revelou o seu propósito de estudar e resolver os problemas mais instantes do concelho, enumerados e apresentados em memorial do senhor Presidente da Câmara, dentro de uma escala de prioridades e desde que a população melgacense se una em volta das autoridades em um esforço comum. // Seguidamente realizou-se uma sessão de estudo e de trabalhos, na qual foram apreciadas as reivindicações concelhias, a sua oportunidade, custo e possibilidades de realização imediata e a prazo. Tivemos a satisfação de verificar que grande parte dos problemas concelhios ventilados e defendidos neste semanário foram presentes à referida sessão de estudo e aprovados, sem reserva, pelo ilustre visitante. Destacaremos de entre esses problemas o abastecimento de água potável à vila pelo aumento do respetivo caudal, tendo ficado assente a prospeção de novas fontes como solução provisória, cujo custo aproximado da rede e pesquisas foi estimado em cento e cinquenta contos, deixando-se para mais tarde a solução definitiva, da captação, elevação e tratamento das águas do rio Minho; estudou-se o problema da rede de esgotos para a qual se estabeleceu a contribuição de duzentos e cinquenta contos, devendo a Câmara contrair um empréstimo para o efeito, com base na receita resultante das taxas de ligação, custo dos ramais e outras de que, em tempo, demos notícia e demonstramos a viabilidade; considerou-se a urgente apresentação do projeto do edifício onde ficarão instalados os serviços da CGDCP, no local onde as ruínas da escola Conde de Ferreira se apresentam qual monstro de olhos escancarados, a mostrar a miséria do interior; não se esqueceu a pavimentação das ruas intramuralhas, muito embora o seu arranjo definitivo deva aguardar a colocação das tubagens do abastecimento de água e as condutas da rede do saneamento; tratou-se da construção da casa dos magistrados, da via de acesso às novas escolas, alinhamento e ampliação do largo da Igreja, cimeiro à Praça da República, do largo da Calçada, adaptação dos antigos Paços do Concelho a biblioteca e outras repartições: construção do novo hospital, pousada, abertura de novas artérias há muito programadas, ponte sobre o Minho, para ligar São Marcos a Arbo, custeada por Portugal e Espanha em partes iguais, vários caminhos e estradas camarárias e nacionais, como a que virá a ligar os Arcos de Valdevez a Melgaço, via Mezio - Lamas de Mouro, restauro da igreja de Fiães e muitas outras obras de interesse local e nacional enumeradas na longa lista de reclamações elaborada com acerto e salutar bairrismo pelo senhor presidente do município. É justo dizer-se que o professor Manuel José Rodrigues se houve na preparação do seu memorial e na orientação da visita do ilustre visitante através dos pontos nevrálgicos da nossa vila, com clarividência e verdadeiro sentido de oportunidade, motivo pelo qual lhe endereçamos as nossas felicitações. Porém, senhor professor; porém, senhor Presidente da Câmara, é necessário que não durma sobre este sucesso inicial, e não deixe perder a ocasião magnífica que se lhe deparou. É preciso insistir, mas com entusiasmo as reclamações melgacenses, sem deixar arrefecer o rescaldo da visita, em suma preparar uma visita à capital e sossegadamente tratar sem demora, os problemas ventilados e dos que ficaram por discutir.» // F.S. // N.R. – A gravura que ilustra a nossa primeira página foi-nos gentilmente cedida pelo nosso prezado colega Jornal de Notícias, do Porto. // continua...             

 

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