terça-feira, 8 de outubro de 2024

FERREIRA DA SILVA 

(textos sobre o concelho de Melgaço)


// continuação de 4/7/2024.


      Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1562, de 18/7/1965: «ATÉ QUANDO? // «A sala de visitas da Vila, à qual o nosso município, por deliberação, designou toponimicamente por Praça da República, em homenagem à implantação gloriosa do atual regime, continua a apresentar aos visitantes e a todos nós os que vivemos dentro da sua periferia, um triste espetáculo de abandono e de desconchavado urbanismo. Há mais de duas décadas foi arrematado pela CGDCP o edifício e terreno da velha escola Conde de Ferreira, a fim de ali ser erguida uma moderna construção, destinada aos serviços da agência daquele importante estabelecimento de crédito neste concelho. Decorreram muitos anos e não obstante a criação da referida agência de Melgaço ter sido apreciada e aprovada pelo Conselho de Administração daquele instituto de crédito oficial, os seus serviços não puderam ser ali estabelecidos por falta de edifício condigno e apropriado aos seus fins. Entretanto o velho edifício das antigas escolas da vila, fustigado pela ação corrosiva do tempo, sem portas, sem janelas, e sem cobertura, vai-se desmoronando e ruindo, e assemelha-se a uma coisa monstruosa e hedionda, qual animal anti diluviano, de fauces escancaradas e esventradas, a desafiar a paciência dos melgacenses. O mostrengo horripila e anula o aspeto da linda praça, a mais central e a mais agradável do nosso burgo, tornando-a num feio recinto de logradouro público, vigiado pelas negras e abandonadas ruínas do que foi, no passado, o templo onde ilustres filhos desta terra receberam as primeiras luzes da instrução. Nas suas míseras ruínas, a coberto das sujas paredes, o povo faz ali os seus despejos de entulho, de detritos, e do mais que se não diz, transformando-as numa infecta montureira, nojenta e nauseabunda, a empestar os ares puros e saudáveis que sopram das elevações circundantes e se filtram através do nosso lindo céu azul. Temos conhecimento dos esforços, meritórios, em alarmantes ofícios dirigidos pelo senhor Presidente da Câmara à maior e mais protegida instituição oficial de crédito portuguesa, no sentido de resolver uma situação que não deve prolongar-se e que pode levar a população ao justo protesto de revolta contra os planos de urbanização. Porém, a Caixa faz orelhas moucas e não ouve as reclamações do município, ou ilude-as com a hipotética elaboração de um famigerado projeto a cargo dos seus serviços técnicos. Passa o tempo, traduzido em sucessivos ciclos anuais, e a respeito do projeto e do início da sua execução, quartel-general em Abrantes, isto é, tudo como dantes. Não está certo, não é de tolerar e de admitir que se olhe este capítulo da urbanização da nossa vila com indiferença, para não dizermos com desprezo. Há que forçar os serviços técnicos da CGD a apresentar urgentemente o projeto e a iniciar as obras da construção do edifício da agência ou a declarar, de uma vez para sempre, se estão ou não interessados na sua execução. Se continuarem interessados, devem iniciar as obras por administração direta ou por empreitada, mas já, sem perda inútil de tempo; se estão desinteressados, digam-no francamente e cedam a terceiros o imóvel arrematado, pelo preço da aquisição ou corrigido em função da desvalorização monetária. Não faltam aqui dedicados melgacenses que licitem na venda e se prontifiquem a construir, imediatamente, um edifício que não desmereça do lindo local ao cimo da praça, e do maior valor comercial. Em última análise, a Câmara, para vencer a inércia propositada e vergonhosa da Caixa, deverá deliberar a sua expropriação e anunciar a sua venda em hasta pública, entregando-a a quem melhores condições ofereça e mais rapidamente erga a respetiva construção. Cremos que só assim o assunto ficará resolvido e nos libertaremos do tripúdio e do desprezo votado à nossa terra.» // F.S.                 

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1563, de 28/7/1965: «COISAS INEXPLICÁVEIS. // «Temos lido no noticiário dos jornais diários a atribuição de verbas aprovadas pelo governo destinadas a melhoramentos de interesse público concelhio, de há muito reclamados pela nossa Câmara e pelas populações rurais, nas mesmas interessadas. Essas verbas, em comparticipação das votadas pelo município melgacense são consignadas à abertura, pavimentação, alcatroamento, etc., de estradas camarárias para a ligação e consequente serventia das freguesias rurais à sede do concelho. A nossa Câmara, sem perda de tempo, tem anunciado e posto a concurso público nos jornais de grande circulação, a adjudicação de empreitadas, totais ou parciais, dos correspondentes trabalhos das ligações rodoviárias das populações beneficiadas, com indicação do seu custo calculado pelos serviços técnicos competentes. Sucede que as arrematações têm ficado desertas em virtude dos preços de licitação serem inferiores ao seu custo e não tentarem por esta razão os possíveis concorrentes. Como é que as licitações voltarão a ser de novo anunciadas com um aumento de 10% sobre o segundo e último concurso, no caso de continuarem desertas as respetivas praças. Resulta desta ausência de concorrentes uma perda de tempo injustificável com as publicações dos anúncios da segunda e terceira praças, tanto mais quanto é certo que os serviços técnicos ao orçarem as obras sabem muito bem que as verbas atribuídas são insuficientes para a execução dos trabalhos a realizar. Desta forma, não há possibilidade de aparecerem adjudicatários nas arrematações, visto que em quaisquer obras ou trabalhos, públicos ou particulares, ninguém concorre com a certeza de nelas perderem dinheiro ou ao menos de não serem compensados os seus esforços. Averiguadas as coisa chegamos à conclusão de que os preços base dos salários calculados na elaboração dos orçamentos pelos serviços técnicos oficiais, mesmo acrescidos de 20% (10+10), ficam muito distantes dos preços correntes na nossa região. É sabido que no nosso concelho, mais do que em qualquer outro, respeitadas as regras da proporcionalidade, o êxodo dos trabalhadores melgacenses para a França se traduz por uma carência angustiosa da falta de mão-de-obra e esta quando aparece exige uma compensação equivalente às dificuldades em obtê-la. Considerar como limite máximo os salários dos trabalhadores das regiões onde a mão-de-obra abunda ou não atravessa a crise que no nosso concelho se verifica, com uma intensidade dia a dia mais alarmante, é perder tempo e trabalho em especificações orçamentárias e condenar as licitações ao abandono total de concorrentes. O problema afigura-se-nos que poderia solucionar-se com a revisão dos preços do trabalho ora considerando, objetivamente, o custo corrente no nosso concelho, em ordem a atrair aos concursos os empreiteiros interessados na execução das obras. Parece que os serviços técnicos oficiais, ou estão longe das realidades presentes ou organizam os orçamentos para inglês ver, na certeza antecipada da sua insuficiência e consequentemente deserção de possíveis concorrentes ou adjudicatários. E isto é inexplicável, revela teimosia que nos abstemos de classificar e representa um prejuízo evidente para o nosso concelho que continuará a esperar a realização das estradas municipais para o dia de São-Nunca-à-Tarde! Por outro lado, a nossa Câmara sofre uma perda de prestígio pois que, embora injustamente, não falta quem lhe atribua culpas que a outros pertencem. Não poderá este triste caso ser levado a audiência e conhecimento de Sua Excelência o Sr. Ministro das Obras Públicas?! // F.S.     

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1564, de 8/8/1965: «GRÉMIO DA LAVOURA. // «No espírito de todos os melgacenses está, de há muito, radicada uma justa e bem delineada ambição: de transferir para sede própria, e condigna, o seu Grémio da Lavoura. As dificuldades que se antolhavam para concretizar esta legítima e inadiável pretensão são muitas e de várias ordens, a começar pela falta de terreno, em local conveniente, acessível e central, que alguns proprietários conservam avaramente, não se sabe porquê e para quê, uma vez que não constroem nem vendem os terrenos a quem pretenda construir. Esta atitude estranhamente egoísta e retrógrada inutiliza a boa vontade e o desejo daqueles que poderiam empregar as suas disponibilidades financeiras no progresso e aformoseamento da nossa vila, onde existem, nos locais apropriados e centrais, paredes ao alto de velhos prédios em ruínas ou completamente desmantelados, que de há muitos anos desafiam o camartelo municipal. Mas, adiante. Devido ao esforço e dedicação do seu presidente, o Grémio da Lavoura do nosso concelho conseguiu, finalmente, o terreno destinado à implantação do edifício da sua sede social. Poderá entender-se que a configuração e declive do terreno comprometido para a realização bem importante e necessária da construção não é ideal. Porém, a sua situação, frente à Avenida da Circunvalação, compensa bem o custo dos aterros e fundações da obra a erigir. Resolvido, como está, o problema do terreno e convencionada a sua aquisição, certos estamos de que o edifício da sede social do nosso Grémio da Lavoura vai ter breve concretização e nele serão instalados condignamente os seus serviços administrativos e de armazéns gerais, destinados à guarda e a acondicionamento das mercadorias e produtos de que a lavoura necessita, de expediente, de tesouraria, de gabinete da direção, de sala de reuniões e do mais que no projeto não deixará de considerar-se. Para tanto, a Federação dos Grémios da Lavoura contribuirá com vultuosa verba de comparticipação, em ordem a possibilitar ao nosso Grémio a realização deste objetivo, que constitui a grande aspiração do nosso concelho. O movimento comercial do nosso Grémio, os seus serviços de informação e de direção técnica, e os relevantes apoios e vantagens prestados aos lavradores da nossa região, justificam a instalação em edifício arejado, limpo e vasto, da sua secretaria, do seu armazém e, de uma forma geral, dos seus serviços gremiais. Tudo se prepara e conduz no sentido de, com a possível brevidade, se elaborar o projeto do edifício social e se fixarem as comparticipações indispensáveis à sua construção. Foi dado o grande passo para a corporização desta velha aspiração, que se deve única e exclusivamente ao seu presidente da direção, ao qual endereçamos os nossos maiores louvores; está assegurada a colaboração das entidades oficiais competentes e os corpos diretivos do nosso Grémio vão iniciar os seus trabalhos de congregação de esforços e de reunião dos elementos necessários à realização desta importantíssima e útil obra, na qual todos os melgacenses devem mostrar-se devotada e totalmente interessados. Na qualidade de corresponsáveis pelo engrandecimento do nosso Grémio da Lavoura e de interessados no bem-estar e defesa regional, aqui deixamos o nosso expressivo apreço pelo êxito da promessa de venda do terreno a partir do qual se torna possível e realizável o começo das obras de construção do edifício. Desta vez o caso não ficará de letra morta e convencidos estamos de que o contributo para a efetivação de tão bela realização será acarinhado por todos os melgacenses e dele partilhamos e a ele nos associamos do coração.» // F.S.

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1568, de 12/9/1965: «DE REGRESSO. // «Depois de gozadas umas bem merecidas férias em que o período de indispensável descanso, na linda e pitoresca Vila Praia de Âncora, nem sempre nos proporcionou um estado físico de saúde perfeito ou ao menos razoável, eis-nos de regresso às lides deste semanário dispostos a continuar a orientação que lhe imprimimos desde os primeiros números e iniciamos a sua publicação sob a nossa égide. Só por razões de saúde interrompemos a nossa habitual colaboração, tratando de assuntos respeitantes aos interesses locais, merecedores de uma anotação objetiva e construtiva sobre a terra em que vivemos e à qual tanto queremos e amamos. Vamos pois recomeçar, serena e firmemente, a missão a que nos devotamos e que, aparte as apreciações de alguns zoilos invejosos ou maldizentes por índole própria ou por vício de formação moral, tem merecido o aplauso dos bons melgacenses ou daqueles que, oriundos de outras terras, aqui lidam e vivem à sombra frondosa da hospitalidade e da consideração dos seus naturais e olham com seriedade e com dedicação pelas coisas de Melgaço. Entendemos sempre, e isto está no nosso modo de ser e de sentir, e até na nossa inteligência, que a crítica deve ser feita com a máxima liberdade, observada a justa e conveniente limitação imposta pelos preceitos morais e pelos princípios de educação e de urbanidade que todos devemos manter na vida de relação e na ligação em que cimentamos as nossas amizades. Por sistema e por princípios defendemos a doutrina de que a vida só merece ser vivida quando alicerçada em conceitos justos, moral e democraticamente praticados, em ordem a tornar a comunidade em alfobre de sinceras e leais dedicações e com vista a uma construção cada vez mais perfeita e melhor. É evidente que não é possível manifestar concordância em todos os atos e manifestações dia a dia revelados, até porque há que respeitar a diversidade dos padrões humanos e consequentemente as opiniões resultantes do livre arbítrio de cada ser pensante. Todas as opiniões são aceitáveis e defensáveis quando servidas por boas intenções e sinceramente apresentadas com base no estudo individual, face aos problemas que a vida nos cria e submete à nossa aprovação e exame. Neste período de interrupção processaram-se muitas e importantes questões na vida local e na preparação de soluções que importam e estão ligadas estreitamente ao engrandecimento e necessidades do nosso concelho. Muitos e variados são os problemas a examinar e a estudar sugeridos neste intervalo à nossa consideração. Alguns velhos, ou de larga data, como o fornecimento de água potável à população, agravado por este período de seca excecional, dos maus odores por carência de limpeza, e da construção de fossas, enquanto não se resolve definitivamente a questão vital do saneamento, pavimentação das ruas e estradas municipais, construção do edifício da CGD, tratamento dos jardins e outros assuntos de urgente e adequada resolução. Como novidade, teremos a compra do terreno destinado à construção de uma sede condigna do Grémio da Lavoura, da lixeira municipal e feira de porcinos. Ao rever atentamente estes problemas fundamentais e ao examinar as novas questões suscitadas procuraremos discriminar por ordem de precedência cada um deles e dizer da nossa justiça. Por agora limitamo-nos à promessa formal de os tratarmos com aquela independência e lealdade que sempre usamos de modo a contribuir com o nosso modesto subsídio para a sua solução. Dito isto, saudamos com a mais carinhosa amizade os melgacenses e ousamos esperar a sua relevância para a interrupção dos nossos artigos de crítica se bem que, como se afirmou, tivemos justa causa a justificar o longo intervalo das últimas semanas e consequente falta de notícias. Até breve, pois, caros melgacenses, e, a todos, as nossas fraternais saudações e cumprimentos de regresso. // F.S.    

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1569, de 19/9/1965: «PLANO DE ATIVIDADE PARA O ANO DE 1966. // «Em obediência ao n.º 4 do art.º 77.º do Código Administrativo foi apresentado e aprovado pelo Conselho Municipal o plano de atividade para o próximo ano de 1966. Como se verifica das bases a seguir mencionadas, aprovadas em consequência do referido plano de atividade para a elaboração do orçamento ordinário do nosso município, respeitante ao ano de 1966, espera-se executar determinado número de obras de capital importância concelhias que merecem o nosso inteiro aplauso e representam um passo em frente no progresso e engrandecimento de Melgaço e pelo qual está de parabéns a nossa Câmara. Algumas das obras previstas e orçamentadas já estão em curso e outras serão realizadas dentro das votações dotadas e constantes das bases seguintes: Base I – as despesas são calculadas em 376 contos, aproximadamente, a satisfazer por conta das receitas ordinárias, previstas em 361 contos, incluídos 110 de consignação de receitas e pelas extraordinárias, provenientes de comparticipações para obras, que se calculam em 2.900 contos. // Base II – Nas dotações para obras e melhoramentos nas freguesias seguir-se-á o critério que vem sendo adotado da sua utilização ser feita onde as obras e melhoramentos mais se justifiquem. Tais dotações aproximadas, serão: 1) continuação da estrada Melgaço-Alcobaça, por Fiães, com 735 contos; 2) idem, do caminho de Pomares a Cousso, com 40 contos; 3) idem, do caminho da Vila aos Portos, em Castro Laboreiro, com 20 contos; 4) idem, do caminho da E.N. 202-3 ao Rodeiro, em Castro Laboreiro, com 240 contos; 5) idem, do caminho de Fiães a Ervedal, com (?) contos; 6) continuação do abastecimento de água ao Maninho, Alvaredo, com 10 contos; 7) idem, a Aldeia de Cima, Paderne, com 10 contos; 8) reparação e beneficiação da estrada de Paderne, com 8 contos; 9) idem, da estrada de Chaviães, 8 contos; 10) idem, de outras estradas e caminhos, com 6 contos; 11) idem, de fontes e tanques, com 255 contos; 12) construção das casas dos magistrados, com 191 contos; 13) idem, da estrada de São Paio, com 160 contos; 14) idem, do cemitério de Rouças, com 100 contos; 15) idem, do caminho de acesso às escolas desta Vila, com 100 contos. Às importâncias aqui inscritas serão abatidas as de comparticipações que ainda se recebam no presente ano. BASE III – As obras de interesse público a levar a efeito e suas dotações aproximadas, são as da base anterior e ainda as seguintes: 1) reforço do abastecimento de água e saneamento da Vila, com 200 contos; 2) beneficiação e reparação do Largo da Capela em São Gregório, com 23 contos; 3) idem, da casa de autópsias, no cemitério, com 12 contos; 4) pavimentação e alargamento do caminho da estrada à igreja de Cubalhão, com 30 contos; 5) idem, do caminho do cemitério em Lamas de Mouro, com 15 contos; 6) idem, do caminho da estrada 201 (!) à igreja de Paços, com 25 contos; 7) idem, do caminho do cemitério de Prado, com 20 contos; 8) idem, do caminho da igreja de Remoães, com 20 contos; 9) reparação da ponte da Cela, Gave, com 35 contos; 10) arranjo do Largo do Convento de Paderne, com 63 contos; 11) construção de uma lixeira nesta Vila, com 20 (?) contos. // As importâncias aqui inscritas serão abatidas às de comparticipações que ainda se recebem no presente ano. // BASE IV – não serão criados novos lugares. // BASE V – sem prejuízo dos serviços, procurar-se-ão realizar todas as economias possíveis. // BASE VI – não serão criadas novas receitas, nem aumentadas as existentes. BASE VII – fica a Câmara autorizada a contrair um empréstimo na CGDCP até ao montante de 450 contos, destinado à obra de abastecimento de água e conservação de esgotos nesta Vila. // As bases anunciadas dão-nos uma imagem nítida do que vai ser a atividade municipal do próximo ano, que aqui deixamos registada com o maior regozijo e sincero aplauso, certos de que teremos a nosso lado o apoio e a possível colaboração de todos os bons melgacenses. Assim o desejamos e esperamos.» // F.S.

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1570, de 26/9/1965: «CASA DOS MAGISTRADOS. // É sabido que o Ministério da Justiça luta com dificuldades, cada vez mais insuperáveis, para conseguir um recrutamento selecionado de magistrados oficiais que administrem nas comarcas permanente atividade judicial. Um dos motivos, por ventura a razão capital da falta de magistrados, reside na exiguidade dos vencimentos atribuídos a estes qualificados funcionários, aos quais são exigidas excecionais provas de competência e de saber e uma devoção total em defesa da seriedade, do prestígio e da projeção social da sua elevada função de promotores e de julgadores. Não consideramos possível um recrutamento eficaz, revestido de indispensáveis condições de garantia em matéria de competência, de integridade moral e profissional, e de execução ativa, permanente e efetiva da sua alta função, sem prévia independência económica e respeitosa consideração pela posição especialíssima que no foro ocupam os magistrados judiciais. Toda a gente de bom senso, com noção de disciplina e de justiça reconhece que, o prestígio da magistratura judicial, constitui condição essencial do equilíbrio das relações nas sociedades bem organizadas e dos seus fundamentos morais. Assim, ao Estado cabe o dever de olhar carinhosamente pela situação moral e material daqueles que administram a Justiça e nas comarcas desempenham a maior e mais salutar função de regular, criteriosamente, os direitos e obrigações legais dos cidadãos. Na realidade, ninguém poderá exigir sacrifícios, árduo trabalho, integridade e devoção total no exercício de uma função tão importante, sem que se assegure um mínimo de compensação material e de independência económica aos que moral e socialmente se sentem obrigados a aplicar com imparcialidade, justiça e humanidade, os rígidos preceitos da lei. E se a questão dos vencimentos dos magistrados constitui um problema básico quanto à seleção e ao nível social compatível da sua categoria, outro problema, também essencial, constitui o do alojamento condigno, em ordem à sua instalação e de suas famílias nas melhores condições de conforto e bem-estar visto que, só deste modo, é lícito exigir-se-lhes uma estadia permanente e ininterrupta no exercício da sua nobre função. Desde longa data nos batemos com afinco e firme decisão pela construção, na nossa comarca, da casa dos magistrados, libertando-os e possibilitando-lhes uma residência arejada, limpa e vasta, fora de pensões deficientes, onde tudo falta, compatíveis com o seu bem-estar e dignidade da sua alta missão social. Os serviços da Justiça requerem sossego, acomodações apropriadas, independência e dignidade e, as comarcas que não facilitam o seu exercício não podem pretender a sua manutenção e existência. O projeto da casa dos magistrados de Melgaço, de há muito foi elaborado e o Cofre dos Funcionários da Justiça subsidiou e pôs à disposição da Câmara Municipal valioso contributo para início da sua edificação. Porém, os Serviços de Urbanização, talvez demasiado exigentes, não concordaram e rejeitaram o projeto, tal como foi elaborado, impondo modificações várias e alterações no edifício projetado pelos serviços técnicos competentes que, inclusivamente, afetam a fachada e as suas linhas arquitetónicas. Por este motivo não foi possível iniciar, até agora, a construção do edifício e o projeto teve de ser revisto, alterado e modificado e só há poucos dias foi devolvido à Câmara e por esta devidamente apreciado e aprovado. Espera-se agora que os Serviços de Urbanização se deem por satisfeitos e autorizem o começo das obras, parecendo que finalmente esta importante realização de embelezamento e engrandecimento concelhio e de incontestável valor do prosseguimento normal da vida judicial e habitação, em boas condições, dos magistrados está em vias de execução. Pena foi que os serviços burocráticos tenham retardado e demorado tanto tempo a construção de uma obra que se impõe e é reclamada por todos os melgacenses visto que só desta forma a comarca encontrará plena justificação. Muito embora o local de implantação do edifício não seja ideal, o certo é que entre a existência deste e a sua falta não há que hesitar e por onde escolher. Vamos pois ter a Casa dos Magistrados, no Largo da antiga Feira Nova, sob a demolição do atual mercado, muito perto do “Domus Municipalis” e instalações do tribunal judicial e esta certeza enche-nos de regozijo e leva-nos a dispensar os maiores encómios aos esforços do nosso município que, assim o esperamos, não deixará de continuar a dispensar a sua boa atenção e instância para que se inicie brevemente uma obra que pertence e é motivo de orgulho da nossa terra. // F.S.          

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1572, de 17/10/1965: «ATIVIDADE ELEITORAL. // NOTA: este artigo, assinado por F. S., não aborda assuntos relacionados com o concelho de Melgaço, por isso, não se transcreveu.

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1573, de 24/10/1965: «ROMAGEM SAUDOSA. // «Continuando a tradição realiza-se neste concelho no próximo 2 de Novembro a visita aos cemitérios onde jazem os nossos queridos e saudosos mortos e pelos quais são rezados piedosos responsos. É uma romagem ungida do mais fervoroso respeito e de profunda saudade àqueles que ali descansam em paz na graça do Senhor e continuam ligados à nossa imperecível lembrança. O campo santo reveste-se nesse dia do colorido dos crisântemos e outras espécies de fanerogâmicas a emoldurar a terra fria das campas e as lajes tumulares dos mausoléus, onde repousam as ossadas dos entes queridos, familiares e amigos, que o nosso coração recorda dolorosamente e consagra no (…) da mais pungente saudade. Por toda a parte, no espaço destinado à guarda e descanso dos mortos, as flores desfolham pétalas do mais vivo pesar e a cera derrete-se nos luzeiros das velas que iluminam frouxamente os recintos sagrados, como se pretendessem chamar a atenção dos visitantes para os clarões fugazes mas intensos que durante a noite se desprendem em fogos-fátuos da própria terra onde a vida se encerrou. A perturbadora romagem neste dia de finados (…) na maior unção e respeito os espíritos dos que ali acorrem e rezam piedosamente as mais votivas orações, por alma e pelo eterno descanso dos seus chorados mortos. Desde sempre nos incorporamos na procissão que percorre o cemitério municipal, com a mais forte emoção e o mais religioso recolhimento. Não é porque diariamente esqueçamos de honrar os que perdemos do nosso convívio e a cuja presença imaterial prestamos comovida homenagem, mas porque nesta visita anual o nosso coração vibra mais intensamente o amor que nos liga aos que a parca da morte ceifou e se sente menos [só?] na prática do culto que lhes é devido. Na terra do nosso nascimento o dia de finados corresponde invariavelmente ao dia 1 de Novembro, dia de todos os santos, e como de costume ali iremos prestar a nossa triste homenagem àqueles com quem convivemos ou nos deram conforto: pais, familiares e amigos; e tantos e tantos são, e é sempre com a maior emoção que os nossos lábios e o nosso pensamento ciciam as orações que nos ensinaram em criança e que a nossa memória ainda não esqueceu. Também aqui, no dia seguinte, 2 de Novembro, nos habituamos a desfiar junto dos que por afinidade nos pertencem, o rosário das mesmas orações e da nossa mais vivas e saudosa recordação. Temos como certo que nesta triste visita a nossa mágoa e a nossa dor assume uma dimensão extraordinária que nos nivela e relega ao esquecimento – pelo perdão, as ofensas, e protérvias recebidas. Bem consideradas as coisas, nesta vida efémera em que vegetamos, nada sobreleva a beleza e a pureza do espírito perante o contacto com a imensidade e o fatalismo da morte! Por índole e por formação intelectual não somos um místico, nem sequer um crente na verdadeira aceção da palavra: somos, isso sim, um espírito desempoeirado, reto e são, que vive do pensamento, das amizades, e dos deveres que socialmente nos incumbe, dentro do racionalismo e também da espiritualidade que nos move e determina, face às conceções livremente aceites. Nas romagens aos campos santos da nossa cidade e de Melgaço não precisamos de incitamentos em matéria de fervor religioso no culto do respeito e da divinização dos que ali jazem, aureolados pela nossa indelével lembrança, pela nossa mágoa e pela nossa imensa saudade. Mais um ano na celebração do culto dos mortos; mais um estágio no religioso e respeitoso silêncio para que a nossa alma se liberte do que há material na vida e se eleve um pensamento superior e no incenso espiritual, que nos aproxima e une no mistério indefinido e incomensurável da morte. Que os nossos e os vossos mortos descansem em paz.» // F.S.     

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1574, de 7/11/1965: «IMPRENSA REGIONAL.» // NOTA: o artigo em causa não se debruça sobre temas relacionados com o concelho de Melgaço, daí não ser publicado neste livro.  

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1575, de 14/11/1965: «ARTISTAS NATOS. // De quando, em vez, a natureza dota certas, e determinadas, pessoas de um sentimento criador que as encaminha a emoções estéticas e a aplicações às suas faculdades, à realização de conceções que se encontram fora das condições normais. Estas pessoas, dotadas de sensibilidade especial, podem classificar-se de eleitos e, do sentido artístico que revelam, resultam estádios emotivos e de imaginação que os impõem aos seus semelhantes, muitas vezes, à margem do conjunto de preconceitos e das regras que regulam a aplicação da arte. Numa obra de arte nota-se, em simples exame, o muito de prazer que ao artista dá a execução da sua ideia e o propósito de transmitir aos outros a sua emoção estética e do sentimento de beleza que o determinou na sua realização. Por isso se diz que a obra de arte supõe em primeiro lugar uma emoção ou ideia de beleza no espírito do artista; em segundo lugar a concretização dessa ideia-emoção em forma sensível material, graças ao seu trabalho; em terceiro lugar a existência de contempladores da obra de arte capazes de receber desta a emoção ou ideia da beleza que nasceu no espírito do artista e que ele se propôs transmitir através da sua obra. Desta forma há uma série contínua de ação e reação entre os artistas e os apreciadores que fixa o caráter da arte em uma determinada época. Abstraindo das pinturas e gravuras murais, encontramos no velho Egipto grande desenvolvimento artístico bem como na Mesopotâmia e nas grandes escolas (!) da Caldeia, dos islamitas, dos hititas, e ou (…) que floresceram na mais remota antiguidade. Não nos propomos dar notícia do que foi e representou, desde os mais recuados tempos até ao presente, a arte e os seus cultores e a influência das suas escolas nos conjuntos gregários em que se (…) os povos com caraterísticas étnicas comuns. Se os grandes artistas nos fazem tremer de emoção perante as suas obras e nos inquinam de um sentimento de beleza quando nos demoramos na sua contemplação, o nosso espírito desligado das diversas escolas e da luz divina que dela irradia, sente-se surpreendido ao contemplar as obras de arte decorativa, saída das mãos e do pensamento criador dos artesãos que não tiveram outra escola e outra cultura que não seja a sua superior inspiração. Em muitos casos, como já dissemos em outro lugar, o artesão não é só trabalho rude, é também expressão de inteligência e de exaltado idealismo. Tenhamos em vista o que sucede com Raul Ferreira Cardoso (Cataluna) com o andor em folha-de-Flandres em foi entronizada a Virgem de Fátima, trabalho de grande inspiração e beleza, oferecido à Padroeira e que, oficialmente, se incorporou pela primeira vez na procissão que percorreu a vila no dia consagrado da 5.ª feira da Ascensão.

 

     Agora, os nossos olhos maravilhados demoraram-se longo tempo e durante vários dias, frente à montra do comerciante senhor Adriano Cerdeira, à Praça da República, embebecidos na apreciação de quatro lindas lanternas lavradas e respetivos apoios, trabalho do mesmo artista-artesão, desta vez em latão cromado, bem como de um oratório e uma miniatura sacra lindamente trabalhados e superiormente concebidos. As lanternas e respetivos apoios destinam-se à igreja matriz da Vila e constituem uma valiosíssima oferta do seu autor, avaliada em cerca de dez mil escudos; o oratório destina-o à sua casa de habitação e a miniatura à casa do comerciante expositor. O trabalho decorativo destes objetos, tanto no picotado como no rendilhado dos motivos e na conceção das colunas que os enquadram, constituem sinal de bom gosto e uma lavra finíssima em estilo renascentista, com representações de barroco de mistura, e tudo ali se desenvolve em harmoniosas linhas e intuição artística que bem merece a admiração e o apreço dos melgacenses. Na realidade, a decoração e a conceção não se confina aos moldes de um estilo escolástico mas a um idealismo, uma emoção estética e a um sentimento de beleza que revela a fina sensibilidade do artista. Executado em formas desconhecidas, de estilo próprio, natural, tudo ali é inspiração individual, expressão interior voltada para dentro da alma e requintada sensibilidade do grande artista que, alheio a escolas, a executou de imaginação. Homens destes, bafejados pelo dom da Providência, merecem ser acarinhados e benditos por toda a população, e a esse ato nos associamos.» // F.S.      

    

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1576, de 21/11/1965: «INICIATIVA MERITÓRIA. // «Já estamos fatigados de chamar a atenção de quem compete e de solicitar urgentes providências para a remoção das tristes ruínas da antiga escola primária “Conde de Ferreira” que se elevam ao cimo da Praça da República, a nossa sala de visitas, como espantoso padrão da incúria e relaxamento oficial, transformado em vazadouro do rapazio e local preferido de despejo das imundícies da população circundante. Se voltamos novamente a lembrar que se impõem uma atitude enérgica e imediata quanto à construção no referido local do edifício destinado aos serviços da CGD, move-nos o propósito de defesa do urbanismo da Vila e da eliminação do escarro nojento daquelas feias ruinas e, desta vez, a questão nascida da venda dos materiais e terrenos pela Junta de Freguesia, cujo produto foi consignado à louvável e meritória iniciativa da construção de um bairro de moradias para a instalação de classes pobres. O problema habitacional referente às casas de renda económica e das casas para famílias pobres tem sido constante preocupação do governo e generosamente auxiliada pelo Fundo do Desemprego. Animada pela concessão de subsídios, isenções tributárias, assistência técnica e económica da definição da ordem social existente e outras facilidades no sentido de possibilitar a construção de moradias, a Junta de Freguesia da Vila deliberou, muito acertadamente, investir o valor do produto da arrematação da antiga escola Conde de Ferreira num bairro de dez moradias para pobres, a construir no terreno baldio sob a sua administração, sito no lugar da Assadura, na periferia do nosso burgo. Na face direita da estrada que liga a Vila a São Gregório, o baldio paroquial eleva-se por entre tufos verdes de pinhal, como uma varanda de largo miradouro sobre os floridos socalcos que descem numa escada monumental sobre as margens do rio Minho, limitada por pano de fundo surpreendente, constituído pelas montanhas e povoações ribeirinhas da Galiza, por entre as quais serpenteia a linha férrea que liga Vigo a Ourense. Como vista panorâmica é das melhores que se disfruta nesta privilegiada região do Alto Minho. A construção do bairro neste local de sonho foi adjudicada por trezentos e setenta contos de réis e deverá ficar concluída no próximo ano de 1966. A importância da obra foi custeada pelos duzentos contos recebidos da transmissão em hasta pública da referida escola e terrenos anexos e de mais cem contos atribuídos pelos serviços oficiais a título de comparticipação. A Junta de Freguesia, no louvável desejo de realizar um melhoramento necessário e útil às classes mais desprotegidas, não hesitou em ficar a descoberto com a diferença entre o valor da adjudicação e do capital recebido, ou seja, de setenta contos de réis. Verifica-se que este défice inicial foi há muito ultrapassado, em razão do aumento constante dos salários da construção civil resultante da falta, dia a dia mais flagrante, do pessoal operário e dos materiais, que sofrem o efeito da lei da oferta e da procura, que o problema emigratório agravou constantemente e a desvalorização do poder de compra da moeda elevada em progressão contínua. A iniciativa da Junta está condenada, desta forma, a demorada estagnação se não houver da parte de todos: entidades oficiais e particulares, um esforço sério e decidido para prever ao necessário à sua efetivação. É preciso considerar que além do preço inerente à construção civil das habitações é preciso contar com a abertura de acessos convenientes e apropriados, de defesas dos desníveis do terreno, do abastecimento de água potável com as respetivas canalizações e depósitos, do fornecimento de energia elétrica e da implantação de uma rede de esgotos indispensável ao estado sanitário dos futuros utentes. É evidente que a questão dos caminhos, seus aquedutos, luz e água, constitui encargo normal da Câmara Municipal que, simultaneamente, deverá dispensar todo o seu interesse e valimento para a obtenção de novas verbas de comparticipação. O que faltar, depois de esgotados os donativos oficiais, poderá ser subsidiado pelos particulares por via das formas habituais a este género de auxílios, peditórios individuais, cortejos de oferendas, bandos (!) precatórios e outros que venham a ter-se por viáveis e possíveis. Temos de reconhecer que se trata de uma iniciativa meritória e de uma obra útil, que virá a beneficiar as classes mais desprotegidas da Vila e que, todos quantos pelo bem-estar alheio de interessam, devem acarinha-la e concorrer generosamente para a sua conclusão.» // F.S.   

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1577, de 28/11/1965: «GRÉMIO DA LAVOURA. // «Na respetiva sede realizou-se no passado dia 19 (?) de Novembro último a reunião ordinária do Conselho Geral do Grémio da Lavoura deste concelho com a seguinte ordem do dia: 1.º - apreciação e aprovação do 1.º orçamento suplementar ao ordinário para o ano em curso; 2.º - apreciação e aprovação do orçamento ordinário para 1966; 3.º - eleição da mesa do Conselho Geral; 4.º - autorização da direção para efetuar a compra do terreno destinado à sede do Grémio e respetivos armazéns; 5.º - apresentação e apreciação de qualquer assunto de utilidade para a vida do organismo. Quanto aos números 1.º e 2.º foram devidamente apreciados e estudados aqueles orçamentos, suplementar e ordinário, tendo sido aprovados por unanimidade e verificadas as verbas inseridas nas receitas e despesas, avaliadas e previstas com toda a correção; notado o seu perfeito equilíbrio fica a respetiva direção habilitada a satisfazer os encargos e a cobrar as receitas orçadas. Por proposta do presidente da direção foi reconduzida a Mesa do Conselho Geral, eleita por aclamação e por unanimidade e relativamente ao número 4.º debateu-se com o maior interesse e minúcia o problema da compra do terreno destinado à nova sede do Grémio e seus armazéns e autorizado o vogal Dr. António Cândido Esteves a outorgar e assinar em representação da direção a escritura de compra e venda do referido terreno. Vai finalmente o nosso Grémio da Lavoura ser instalado em casa própria, face à avenida de circunvalação da Vila, de modo a ficarem convenientemente acomodados os seus serviços administrativos e comerciais. Para tanto, está assegurada vultuosa comparticipação da Federação dos Grémios da Lavoura e da Comissão de Viticultura dos Vinhos Verdes o que permitirá o início imediato da construção do respetivo edifício, cujo projeto está a ser elaborado por técnicos competentes, o qual assegurará a montagem de todos os serviços com os requisitos necessários à sua boa ordem e eficiência, comodidades dos associados e corpos diretivos e constituirá uma nova unidade habitacional moderna, digna da nossa terra. Para a realização desta importante obra trabalhou com afinco e esforçado dinamismo a atual direção do nosso Grémio, a qual merece os louvores e o justo apreço de todos os agremiados e da população melgacense. Fazemos votos, os mais sinceros, para que esta meritória iniciativa sirva de exemplo à execução de tantas outras que, há muitos anos, aguardam realização e que de há muito deveriam ter vencido a inércia em que vegetam nos serviços burocráticos oficiais, em total estagnação. Por proposta do conselheiro e ilustre melgacense, Dr. António Augusto Durães, foi novamente ventilada a questão do estabelecimento da Adega Cooperativa local e apresentadas sugestões quanto às modificações tidas por úteis, aos estatutos da sociedade a constituir pelos viticultores interessados. O assunto foi apresentado e discutido com ardor e entusiasmo e dentro em breve vai ser dirigida uma consulta geral aos viticultores que desejem agrupar-se em sociedade, em ordem a que a ideia em marcha obtenha concretização e se torne em realidade. Já por mais de uma vez dissemos que o estabelecimento de uma adega cooperativa traria aos viticultores concelhios relativa tranquilidade e segurança na venda das suas colheitas a preços compensadores, libertando-os ainda dos complicados problemas de seleção, envasilhamento e conservação dos seus vinhos, bem como da trabalhosa faina das vindimas, nesta época em que a mão-de-obra falha e encarece o produto. Se em anexo à adega cooperativa as instalações de destilação e aproveitamento de subprodutos forem acrescidas de uma instalação de queima para os vinhos de baixo teor alcoólico ou deteriorados, a situação vinícola do nosso concelho ficaria praticamente resolvida e os nossos viticultores libertos de dores de cabeça e de aflições. Seria interessante que os maiores produtores encarassem desde já este assunto, com olhos de ver e auxiliassem com a melhor boa vontade esta iniciativa, de modo a possibilitarem a sua realização; os outros, os de menor produção, aderirão por acréscimo visto que dos seus próprios interesses se trata. Voltaremos ao assunto com maior desenvolvimento.» // F.S.  

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1578, de 5/12/1965: «COMEMORAÇÕES VICENTINAS. // «Decorreram em todo o país de 29 de Novembro a 1 do mês corrente os atos comemorativos do Dia de Gil Vicente, com a colaboração do Ministério da Educação Nacional e em todos os estabelecimentos do ensino, inclusive nas escolas de ensino primário, palestras alusivas à vida e obra de Gil Vicente e recitais e representações de peças vicentinas pelos respetivos alunos. Pode afirmar-se que as comemorações do V centenário de Gil Vicente propiciaram uma comunhão (…) do fundador do nosso teatro com o povo português. O professor Vitorino Nemésio, presidente da Comissão Nacional das Comemorações Vicentinas salientou a importância, a todos os títulos notável, do que revestiu para o panorama cultural do nosso país a consagração do fundador do teatro português, a qual não poderia aliás de ser promovida (…) por dizer diretamente respeito a um figura que exige estudo atento por parte da nossa juventude, suscetível de através dela se poderem traçar perspetivas de inegável importância para a boa compreensão das coordenadas do nosso tempo. Nada menos de seis companhias tiveram a seu cargo o desempenho de récitas teatrais: a do Teatro Nacional, a do Teatro Nacional da Câmara de Madrid (!), a do Teatro Universitário do Porto, a Companhia Nacional de Teatro, o Grupo de Teatro do (…) Cultural do Algarve, e o Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra. A memória gloriosa de Gil Vicente foi condignamente consagrada e perdurará ainda através do selo comemorativo emitido pelos CTT, pela medalha mandada cunhar pelo Ministério da Educação Nacional, da autoria do escultor Vasco Pereira da Conceição, da edição definitiva das suas obras e de sua completa biografia do maior interesse e utilidade para os estudiosos das Letras Pátrias. O célebre poeta português que parece ter vivido de 1465 a 1537 nasceu, segundo a maioria, em Guimarães, foi o fundador do Teatro Nacional e segundo Henrique Perdigão, um dos mais brilhantes engenhos das letras pátrias, a quem justamente cognominaram o Plauto português. É de 44 o número de peças escritas no período de 34 anos, que tal foi o da sua atividade literária e destas peças 16 são em português: Auto de Mofina Mendes, Pastoril Português, Feira, Alma, Barca do Inferno, Barca do Purgatório, História de Deus, Ressurreição, Cananeia, Exortação da Guerra, Cortes de Júpiter, Serra da Estrela, Romagem de Agravados, Velha da Horta, Almocreve, Celorico da Beira. Foram escritas 11 em espanhol e 17 nas duas línguas (bilingues). Quase todas estas peças tinham a designação de autos e nelas se faziam alusões e referências aos homens e costumes do tempo, não poupando a sátira mordaz e cáustica do autor, nem os grandes potentados. Génio verdadeiramente criador, cheio de originalidade e de admirável visão crítica, Gil Vicente não foi só conhecido e admirado dentro do nosso país, mas também no estrangeiro, chegando mesmo a afirmar-se haver “Erasmo” aprendido de propósito o português só para poder apreciar as poesias do nosso Molière, a quem deu um dos primeiros lugares entre os poetas cómicos. Tendo-lhe sido dado o mote: “mais quero asno que me leve que cavalo que me derrube” compôs uma das suas melhores obras, a primeira comédia regular do teatro português – A Farsa de Inês Pereira. Há quem afirme que o poeta G.V. e Gil Vicente, ourives, autor da célebre custódia de Belém, são uma e a mesma pessoa, parecendo, no entanto, que das investigações feitas, não há identidade entre o poeta e o ourives da rainha D. Leonor. Nestas comemorações do V centenário vicentino, através de conferências, espetáculos e outras manifestações culturais, tanto em Portugal como no estrangeiro, cujos centros de cultura se associaram às homenagens prestadas a G.V. que, depois de Camões, é talvez o maior das letras nacionais e foi, no seu tempo, o mais notável autor dramático da Europa. A título de modesto contributo damos aos nossos leitores a visão da imensa figura do fundador do teatro português e um dos nossos maiores poetas.» // F.S.      

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1579, de 12/12/1965: «ESTACIONAMENTO PERIGOSO. // Temos a convicção de que por mais de uma vez revelamos o perigo que representa a falta de uma nova e consequente sinalização em ordem a estabelecer obrigatoriamente o sentido único do trânsito de veículos de qualquer espécie na rua do Rio do Porto, pelo menos no troço compreendido entre a intersecção da artéria que se dirige aos Paços do Concelho e a que se dirige à zona dos cafés da Vila. O que se passa nessa rua, sobretudo frente aos (…) constitui perigo permanente para os veículos que demandam a Vila por esse lado, por impedimento constante de ambos os lados da faixa de rodagem nos dois sentidos, com veículos automóveis, motociclos, cociolos e bicicletas, a ponto de tanto o eixo da rua como os próprios passeios dificultarem, e até impedirem, a condução e o trânsito, inclusive de peões! Ao longo dos passeios, uma fila contínua de veículos, motorizados ou não, apoiados nas respetivas (…) projetam os guiadores para além da metade do pavimento destinado ao trânsito dos peões; por sua vez, impedindo o trânsito e ao longo da faixa de rodagem, veículos automóveis, por via de regra mal arrumados, nos dois sentidos e paralelos, reduzem de tal forma o exíguo espaço reservado à passagem que os condutores só com grande perícia conseguem passar quando não são compelidos a (esperar?) o seu descongestionamento ou mudança dos veículos que tomam a rua na quase totalidade e (assim?) impedem o trânsito. Temos assistido a manobras difíceis e perigosas com veículos que pela mesma rua transitam e a em- (…) laterais entre estes e os que ali estão estacionados e vedam ou dificultam a sua passagem. Daqui resultam prejuízos e demoras para os que (…) e questões com os estacionados, o que transforma aquela artéria, das mais movimentadas da Vila, numa feira de barulhentas discussões, reclamações e de incidentes que já têm terminado em agressões pessoais. Parece que o assunto se resolveria com vantagem, e a contento de todos, por via de uma postura que estabelecesse um único sentido de trânsito, pelo menos no troço já mencionado, seguido da indispensável sinalização nos dois extremos e de uma fiscalização eficiente pela G.N.R., de modo a vigiar rigorosamente o estacionamento dos veículos no lado correspondente ao sentido de trânsito permitido e ainda da sua conveniente arrumação. Assim, como está, não pode continuar: estacionamento em ambos os sentidos do trânsito de veículos paralelos e mal arrumados, tomando quase toda a faixa de rodagem da rua e respetivos passeios, a ponto de impedirem a passagem dos veículos pesados e dos próprios peões. As ruas dos aglomerados urbanos destinam-se ao livre-trânsito das pessoas, ou veículos, que por elas tenham de passar e não podem substituir os parques de estacionamento nem devem, em qualquer caso, permitir o estacionamento demorado nos dois sentidos e em filas paralelas, dos veículos ali colocados a esmo, com prejuízo daqueles que por elas tenham necessidade de transitar e estes são o maior número e que mais pagam para a sua conservação. Em perfeito rigor a nossa edilidade poderia estudar com prudente atenção e objetividade as normas de trânsito que se impõem, tanto no que respeita às entradas e saídas da Vila como relativamente ao percurso nos seus arruamentos. Este problema tem merecido o maior e melhor exame de quase todos os municípios do país em relação às suas cidades, vilas, e até às povoações de certo movimento com vista a resolver, dentro do possível e do razoável, as necessidades cada vez mais imperiosas do trânsito. Na nossa Vila o problema é instante e premente em virtude do avultado número de veículos automóveis pesados e ligeiros que nas suas ruas circulam, propriedade de comerciantes, industriais e particulares, sobretudo de matrícula francesa, sendo certo que, quantos a estes últimos, o trânsito intenso revela o propósito evidente de manifestações de ordem sumptuária, e não a necessidade de deslocação por motivo de atividade comercial ou pessoal visível. E se o número de veículos existentes neste concelho demonstra um índice de vida desafogada, de alto nível, o seu uso pode e deve ser condicionado às elementares regras de trânsito e às legítimas comodidades e direitos da população a não ser atropelada e de passar livremente pelas ruas sem diminuição ou lesão da sua atividade normal.» // F.S.

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1580, de 19/12/1965: «COMEMORAÇÃO NATALÍCIA.» // NOTA: este artigo debruça-se sobre um tema genérico, não focando o concelho de Melgaço em especial, daí não figurar neste livro.

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1581, de 26/12/1965: «OCASO E ALVORADA.» // NOTA: este artigo foge na sua quase totalidade a tudo que diz respeito ao concelho melgacense, pelo que se resolveu não inseri-lo no livro. 

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1582, de 2/1/1966: «PAVIMENTAÇÃO DAS RUAS. // «Quem por necessidade tenha de percorrer a rua Direita da nossa vila, dentro das suas vetustas muralhas, no fim da qual se situa o salão do Cine Melgacense (***), dificilmente se adapta e sofre a irregularidade do seu pavimento, que data dos primórdios da fundação da praça-forte de Melgaço. Foi esta rua aberta na parte central da cintura de muralhas interiores que fechavam e defendiam o acesso ao nosso burgo, onde residiam os seus moradores e ainda moram os habitantes da vila, sob as vistas da altaneira torre de menagem, mais conhecida entre nós por castelo. O seu pavimento é constituído em calçada de granito à portuguesa, como era habitual nas antigas construções, quando os senhorios dos domínios urbanos não optavam, por motivos de ordem económica, pelo lajeado ou lajedo que vemos cobrir as ruas das velhas vilas e cidades de certa importância. A ação destruidora do tempo, sobretudo das chuvas e o movimento dos habitantes e dos seus instrumentos de transporte e respetivos animais de tiro e sela, não só provocaram o desgaste das pedras da calcetaria, mas também compeliram o terreno à cedência ou abaixamento da calçada nos sítios em que a sua estrutura revela fundações mais fracas ou menos cuidadas por deficiência de enchimento ou defeito de constituição da terra que preenche os vazios da rocha onde foi implantada. Desta sorte, a calcetaria apresenta-se irregularíssima, aos altos e baixos, traduzindo-se por formas agudas e arestas vivas e em certos pontos por cotas de desníveis mais próprios do empoçamento de águas do que da utilização pessoal dos transitários. O pavimento assim desnivelado dificulta penosamente a marcha dos peões, ameaça a suspensão dos veículos que por ele transitam, atormenta e magoa os pés dos caminhantes e conspurca de lama, ou de poeira, pessoas, carros e animais, segundo as estações do ano, determinadas pelos equinócios e solstícios de verão e de inverno. Não exageramos afirmando que a rua principal da vila, cognominada de direita, para melhor significar que é torta, onde vive, aglomerada em colmeia, a maioria da população e onde existem edifícios caraterísticos de valor histórico, está pura e simplesmente intransitável. E se deste modo se apresenta a rua principal da vila intramuralhas, as ruas transversais e as que delimitam a parte baixa, à ilharga da nova avenida de circunvalação, talvez secundárias mas onde foram construídos monumentos valiosos, pertença da Misericórdia, nem é bom falar, com os seus pavimentos praticamente destruídos e matizados de autênticas crateras que no inverno exigem embarcações para serem atravessadas. Sabemos bem que a nossa Câmara não está em condições financeiras de remediar, de repente e de uma só vez, os inconvenientes que deixamos apontados. Porém, por etapas de seguidas empreitadas, e com o auxílio das comparticipações do Estado, o problema oferece solução viável fácil e breve. Apreciemos em primeiro plano o caso da espinha dorsal do velho burgo, a chamada Rua Direita ou, com mais propriedade, Rua Torta, que da igreja matriz se prolonga até à porta sul da vila, ostentando uma inscrição vandalicamente deteriorada da reconstrução da muralha, centrada pelo antigo edifício da Domus Municipalis e pela bela Torre de Menagem. Como reparar imediatamente o pavimento desta caraterística artéria, face às possibilidades financeiras do nosso município? Em nossa modesta e desvaliosa opinião, parece-nos que poderia começar-se pelo levantamento da calçada e nivelamento do terreno e, seguidamente, recolocar a mesma calcetaria depois de normalizada a estrutura do pavimento. Realizada esta primeira operação, passados um ou dois anos da regularização, ou seja, o tempo necessário para a consolidação das fundações, e reparados os desnivelamentos verificados, proceder-se-ia à betuminização do pavimento, asfaltando-o, ou alcatroando-o, a fim de estabelecer a necessária coesão da calçada pela aderência dos seus elementos de constituição. A rua ficaria nivelada e o piso suave e duradouro. Os gastos da reconstrução limitar-se-iam, inicialmente ao levantamento da atual calcetaria, ao enchimento do respetivo leito com uma razoável camada de areia e à recolocação das pedras, obedecendo às regras usuais de nivelamento. Decorrido o tempo indispensável à consolidação, o pavimento tornar-se-ia numa placa maciça e indivisível por meio da aplicação do aglomerado aconselhável ou de simples betuminização. Quem ousará afirmar que a nossa Câmara não está em condições de realizar este melhoramento? Nós, não! Outros que o digam, se são capazes…» F.S. //… continua.



 


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