quinta-feira, 8 de agosto de 2024

POEMAS DO VENTO

Por Joaquim A. Rocha


// continuação de 26/04/2024.

 



73

 

EM VERSALHES ACONTECEU

 

Numa humilde barraca, dormindo,

um bebé de três meses se encontrava,

quando a morte, traiçoeira, fingindo,

o pobre, em suas garras levava!

 

Bem pior do que nos selvagens matos,

na nobre Versalhes aconteceu:

ao ser mordido por terríveis ratos

o frágil bebé português morreu!

 

No trabalho, não longe dali, estavam

os pais, coitados, do infeliz bebé;

quando a má nova souberam, pensaram

ser tudo brincadeira de má fé.

 

A mãe do rapaz, infeliz Felícia,

a vida, o mundo, tudo esqueceu,

ao confirmar a sinistra notícia

de que seu filho a vida perdeu.

 

Pobre Felícia, triste Manuel,

seu filho, “le petit” Jorge, partiu;

voou, como papagaio de papel,

e num planeta distante caiu! 

 

74

 

A VOZ DA SABEDORIA

 

Esta noite, a sonhar,

ouvi uma voz dizer:

«quando a feia te levar

a minha alma vai sofrer.

 

Tu és em mim hospedeiro,

eu sou a sabedoria;

sou caminho verdadeiro

que percorres dia a dia.

 

Não queiras de mim fugir,

segue o trilho que traçaste;

não te deixes iludir,

pão bom só o qu’amassaste!»

 

 75

 

OLHOS CASTANHOS

 

Esses teus olhos castanhos,

fascinadores, ciganos,

atrevidos, violentos…

são a sede dos enganos,

 põem corações em tormentos!

São vida, são alegria,

um mundo de fantasia,

que a todos faz invejar;

também invejo sua sorte,

mas antes prefiro o norte

do que ter de sacrificar

por eles minha solidão;

sei que tudo é ilusão,

não me quero enganar. 

  

76

 

PODEREI ESQUECER?

 

Poderei esquecer

aqueles momentos

em que, confiante,

em meu peito descansavas

 murmurando palavras d’amor?

A mim te entregaste

sem fingimentos;

e eu, num momento,

tudo deitei a perder!

Poderei esquecer

as horas felizes

que contigo passei,

os beijos que te dei,

os sonhos que, juntos,

construímos?

Aqueles momentos

em que, submersos,

em nossos pensamentos

o pensamento se cruzava?

Jamais poderei esquecer!


// continua...

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