domingo, 29 de agosto de 2021

 



                                                        // continuação de 13/03/2021.




12

 

E para quê, senhores, tanto castigo…

Que mal fizera aquela pobre gente?

Naquele sítio não havia mendigo,

Nenhum ser maltratado ou indigente;

Todos tinham sopa e persigo,

Um sorriso nos lábios de contente.

Para quê destruir quase uma nação,

Tratá-la, como fatal maldição?

 

13

 

Mais tarde vieram os jesuítas,

No alforge a evangelização;

Gente fanática, vis parasitas,

Esmagando virtude, sã razão.

Por palavras, cem mil vezes reditas,

Impuseram nova superstição.

E pra que a coisa parecesse digna

Tornaram a fé dos outros maligna!

 

14

 

E assim se foi criando um país,

Dezenas de vilas, grandes cidades;

Mil capelas, a igreja matriz,

Grossas riquezas, e cem mil maldades.

Explorou-se com ganas e perfis,

O café tornou-se rei das vaidades.

Muitas escolas, e até colégios,

Surgiram, e os muitos privilégios.  

 

15

 

Pra produzir açúcar, engenhos mil,

De África levaram os escravos;

Gente da Europa foi para o Brasil

Em busca de ouro, rosas e cravos.

De todo o lado, jovem, ou senil,

Queria pertencer ao grupo dos nababos.

Por fim, a descoberta da borracha,

Criou ricos, alguns só por laracha.

 

16

 

O tabaco passou a dar dinheiro,

Luís Goes trouxe até nós a planta;

Foi ele aqui de facto o primeiro,

Mas em Espanha já ninguém se espanta.

Espalhou-se pelo mundo inteiro,

A todos agrada, muitos encanta.

Em Lisboa, a Farmácia Real,

Cultivava-o pra nosso bem e mal.

 

17

 

Tornou-se numa coisa milagrosa,

Curava tudo, até enxaquecas;

Não se dava conta quão perigosa

Era a planta dos maias e astecas…

O cheiro, o fumo, pose vistosa,

Criaram templos, crentes, novas mecas.

Desenvolveu-se a praga, o vício,

Atingindo o próprio deus Lício.


18

 

Fuma pobre, rico, remediado,

O dono das terras e seu caseiro;

Fuma patrão, esposa, e criado,

O alfaiate e o sapateiro…

Na tasca, loja, em todo o lado,

Sorvo fumo como tripa em fumeiro.

Cachimbo, rapé, ou o vil cigarro,

Provocam o aflitivo catarro.

 

19

 

Pelo sertão entraram garimpeiros,

Famintos de vis metais preciosos;

Malta sem trabalho, aventureiros,

Todos eles rudes, gananciosos.

Vendiam a alma por trinta dinheiros,

Terríveis mentes, olhos capciosos.

Ai que corja aquela, tão matreira,

Mais feroz do que a fera verdadeira!

 

20

 

E para que serviu tanto metal,

Tanto ódio, tanta vil matança?

Riqueza sem controlo é letal,

Rói em todos nós a doce esperança.

O bem sucumbe perante o mal,

A justiça falece na balança.

E não há céu que tal obra suporte,

Por isso, por sentença dá a morte.


21

 

Gigantesco Brasil, terra ubérrima,

Donde mana toda a fertilidade;

Trepidante, mais doce do que acérrima,

Terra da florescente cristandade.

Gente suave, mais do que aspérrima,

Melhorando com o tempo, a idade.

Ai quem me dera cantar-te em verso,

A ti, que és maior do que o universo.

 

22

 

Esqueçamos o alegre Brasil,

Percorramos cem terras, novos mundos,

Vamos à caça da pimenta e anil,

Doutros sonhos mais nobres e fecundos.

Comprar bugigangas por um ceitil,

Enfrentar aqueles rostos iracundos.

Mostrar-lhes que a nação portuguesa

É tenaz em guerra, meiga na justeza.

// continua...







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