sábado, 10 de outubro de 2020

Ex.ma Senhora D. Maria Elisabete Ribeiro e Castro: não tendo outro meio para lhe transmitir as informações que me solicitou, envio-lhas, utilizando o meu blogue. Espero que corresponda às suas expectativas. Caso detete algum erro, agradeço que mo transmita. // Obrigado. J.A.R.  

 

 

BIOGRAFIAS

 

 

CASTRO, Lourenço José. Filho de Jerónimo José Ribeiro Codesso Soares de Figueiredo e Costa e de Margarida Clementina de Lima Azevedo de Sousa e Castro, proprietários. Nasceu na Portela de Paderne a 17/3/1824 e foi batizado na igreja do mosteiro. Padrinhos: os seus avós maternos. // Foi cavaleiro da Ordem de Nossa Senhora da Conceição, juiz ordinário do civil e crime na vila de Valadares, e por extinção daquele cargo passou a 1.º substituto do juiz de direito da comarca de Melgaço, lugar que desempenhou cerca de trinta anos (ver Diário do Governo n.º 117, de 24/5/1884). Foi também presidente da Câmara Municipal de Melgaço, em cujo mandato (1850 e tal) se construiu a atual Praça da República. // Viveu muitos anos solteiro, mas a 8/10/1897 decidiu casar com a sua antiga empregada, e mãe dos filhos, Maria Joaquina Mendes, nascida no lugar dos Casais, Cristóval, a 25/7/1833. O casamento religioso aconteceu na igreja matriz da Vila de Melgaço. // Morreu cego, na sua Casa da Portela, a 6/2/1900, apenas com o sacramento da extrema-unção, com 76 anos de idade, no estado de casado, sem testamento, com filhos, e foi sepultado no cemitério público da vila de Melgaço. // A sua viúva finou-se na mesma Casa da Portela a 27/2/1913, com oitenta e quatro anos de idade (Correio de Melgaço n.º 39, de 2/3/1913).   

 

FILHOS:

CASTRO, António Xavier. Filho de Lourenço José Ribeiro Codesso de Figueiredo e Castro, solteiro (*), natural de Paderne, e da sua governanta, Maria Joaquina Mendes, solteira, natural de Cristóval. Neto paterno de Jerónimo José Ribeiro Codesso Soares de Figueiredo e Costa e de Margarida Clementina de Lima Azevedo de Sousa e Castro; neto materno de Ana Luísa Mendes, solteira, natural de Cristóval. Nasceu na Portela de Paderne a 24/1/1873 e foi batizado na igreja a 28 desse mês e ano pelo cura Elias José Marques. Padrinhos: António Xavier, solteiro, e Joaquina Falcão. // Seu pai perfilhou-o a 21/8/1884. // Fez alguns estudos (em 1892 ainda era estudante – > nesse ano foi padrinho de seu sobrinho, António Xavier Esteves, nascido no Peso a 11/10/1892). // A 8/5/1897, na igreja do mosteiro, foi padrinho de António Xavier Nunes, nascido no lugar da Várzea seis dias antes. // Ocupou algumas vezes o cargo de secretário da Câmara Municipal de Melgaço até à chegada da República. No “Jornal de Melgaço” n.º 752, de 24/9/1908, logo na 1.ª página, pode ler-se: «no acórdão do Supremo Tribunal Administrativo de 7/11/1901, e publicado no Diário do Governo n.º 253 desse ano, vê-se que AXRFC foi inibido de exercer empregos públicos por não satisfazer às condições exigidas por lei…» A gente do Jornal de Melgaço estava contra a nomeação. O jornalista escrevia: «foram afastados cinco concorrentes, alguns com bacharelato!» Um dos vereadores da Câmara, Manuel José Fernandes, votou contra essa nomeação e tencionava levar o recurso às instâncias superiores. // Em 1917 era comerciante. // Em 1918, na época sidonista, fez parte de uma comissão de censura, juntamente com Amadeu Carlos José Ribeiro Lima, este da Vila (JM 1208, de 1/6/1918). // Ainda nesse ano de 1918, na igreja, quando o padre pediu aos homens que estavam à entrada, entre eles o António Xavier, para avançarem, pois havia lugares na frente, este responde ao sacerdote: «…continue com a missa; cada um está onde quer e lhe convém; você não é quem para designar aqui lugares.» O padre interrompe a celebração e retira-se para a sacristia. Face a isto, a irmã do Xavier, de seu nome Rosa, vai ter com o pároco e diz-lhe: «continue, senhor prior; não faça caso desse ladrão que já está amaldiçoado por Deus e pelos santos, pois bateu em meu pai e minha mãe; não faça caso desse que é a vergonha da nossa família» (JM 1225, de 5/10/1918). // No número seguinte, 1226, de 15/11/1918, o correspondente de Paderne volta à carga. Referindo-se à irmã do Xavier, põe-na frente ao povo católico, pedindo-lhes, como se de uma ordem se tratasse: «ponham esse fariseu fora da porta, senão vou eu lá!» // Lê-se no Jornal de Melgaço n.º 1304, de 12/9/1920: «Um filho do Xavier de Paderne, quando há dias sentiu umas dores no ventre, supondo serem provenientes das lombrigas, tomou uns pós que julgava serem de santonina e eram de estricnina, de sorte que três horas e meia depois a pobre criança, de nome António, tendo padecido horrivelmente, era cadáver.» // A 4/8/1929, no lugar de Ferreiros, envolveu-se em desordem com o professor da escola primária de Paderne, havendo entre os dois uma cena de pugilato, a qual, se não fossem várias pessoas que apareceram no local, teria graves consequências; o caso foi entregue à administração do concelho para investigar sobre o assunto. // Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 219, de 14/1/1934: «Faço saber que António Xavier Ribeiro de Figueiredo e Castro requereu licença para instalar um forno de padaria, incluído na 3.ª classe, no lugar da Portela, Paderne (…). Porto e Secretaria da 1.ª Circunscrição Industrial, em 28/12/1933. O engenheiro chefe Manuel Jacinto Eloi Moniz Junior.» // Teve a alcunha de “Furrica”, dada pelos regeneradores; ele militava no Partido Progressista. // Morreu na freguesia de Paderne a 9/2/1954, no estado de solteiro, mas com geração ilegítima (ver Elvira de Castro). /// (*) Lourenço José casou com a sua companheira a 8/10/1897.   

 

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CASTRO, Claudino José. Filho de Lourenço José Ribeiro Codesso de Figueiredo e Castro, solteiro, natural de Paderne, e de Maria Joaquina Mendes, solteira, natural de Cristóval, empregada doméstica em casa do pai da criança. Nasceu a 7 ou 11/5/1859, e foi exposto na Roda de Barbeita, Monção. O assento de batismo tem a data de 11 daquele mês e ano, ficando como filho de pais incógnitos. // Como seus pais casaram a 8/10/1897, ele foi reconhecido. // Casou em Viana do Castelo a --/9/1895 com Rosa da Rocha Parente. // Em Outubro de 1897 morava na Rua da Picota, Viana, e era ourives. // Anos depois separou-se da esposa. // Recolheu-se, doente do sistema nervoso, à casa paterna, onde faleceu a 23/9/1926. // Sem geração.      

 

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CASTRO, Eleutério da Glória. Filho de Lourenço José Ribeiro Codesso de Figueiredo e Castro, solteiro, e de Maria Joaquina Mendes, solteira (*), empregada doméstica do pai da criança. Nasceu na Portela de Paderne a 20/9/1857 e foi batizado na igreja do convento no dia seguinte. Padrinhos: padre Manuel Inácio Rodrigues, do lugar de Midão, e Joaquina Clara Falcão. // Foi perfilhado por seu pai a 21/8/1884. // Primeiro foi empregado comercial em Coimbra e depois comerciante na Covilhã (em 1889 já estava estabelecido). // Casou em Pico de Regalados, a --/7/1895, com Carolina de Brito Ferreira. // Em Outubro de 1897 residia na Rua da Picota, Viana do Castelo. // Morou também no Porto, onde morreu. // Sem geração. /// (*) Casou com o pai de seus filhos a 8/10/1897.    

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CASTRO, Elvira. Filha de Lourenço José Ribeiro Codesso de Figueiredo e Castro, solteiro, da Casa da Portela de Paderne, e da sua governanta (*), Maria Joaquina Mendes, solteira, do lugar dos Casais, freguesia de Cristóval. Neta paterna de Jerónimo José Ribeiro Codesso Soares de Figueiredo e Costa e de Margarida Clementina de Lima Azevedo de Sousa e Castro; neta materna de Ana Luísa Mendes. Nasceu na casa do seu progenitor a 12/11/1875 e foi batizada dois dias depois na igreja do mosteiro. Padrinhos: António Xavier Palhares, solteiro, e Joaquina Clara de Meneses, proprietária. // Faleceu no estado de solteira, sem geração, na casa onde nascera, a 24/8/1958. /// (*) O padre atribuiu-lhe a profissão de costureira!

 

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CASTRO, Jerónimo. Filho de Lourenço José Ribeiro Codesso de Figueiredo e Castro, solteiro, proprietário, da Portela de Paderne, e da sua governanta, Maria Joaquina Mendes, solteira, dos Casais, Cristóval (*). Neto paterno de Jerónimo José Ribeiro Codesso Soares de Figueiredo e Costa, fidalgo da Casa Real, e de Margarida Clementina de Lima Azevedo de Sousa e Castro, da Casa da Cordeira, Rouças; neto materno de Ana Luísa Mendes, natural de Cristóval. Nasceu na Portela de Paderne a 23/1/1869 e foi batizado a 25 desse mês e ano. Padrinhos: padre MADC (Manuel António Domingues da Costa) e Joaquina Clara, irmã do batizando. // O seu pai pagou-lhe os estudos. Tentou tirar o Curso de Farmácia, mas a morte veio primeiro. // Morreu no estado de solteiro, em casa do seu progenitor, a 10/4/1892, quase no final do dito Curso, e foi sepultado dentro da igreja. // Segundo o jornal “Espada do Norte” ele foi talentoso colaborador do “Eco de Mafra”. /// (*) Casaram a 8/10/1897, cerca de três anos antes do pai da criança morrer.  

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CASTRO, Joaquim António. Filho de Lourenço José Ribeiro Codesso de Figueiredo e Castro e de Maria Joaquina Mendes, solteiros (*). Nasceu no lugar da Portela de Paderne a 23/4/1863 e foi batizado no dia seguinte na igreja do mosteiro. Padrinhos de batismo: padre Francisco António Soares Coutinho, de Monção, prior da igreja de Paderne, e Joaquina Rosa Clara, da Casa Armoreada da Portela de Paderne. // Em 1889 era o chefe do Posto de Despacho na Vila de Melgaço. // Em Outubro de 1897 estava solteiro, era 2.º aspirante, e depois foi 1.º aspirante na Alfândega do Porto, cidade onde morreu no ano de 1919 (Jornal de Melgaço n.º 1242, de 13/4/1919). // Sem geração. /// (*) Casaram posteriormente. 

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CASTRO, Joaquina Clara. Filha de Lourenço José Ribeiro Codesso de Figueiredo e Castro, solteiro, da Portela de Paderne, e de Maria Joaquina Mendes, solteira, natural de Cristóval. Neta paterna de Jerónimo José Ribeiro Codesso Soares de Figueiredo e Costa e de Margarida Clementina de Lima Azevedo de Sousa e Castro; neta materna de Ana Mendes. Nasceu em Paderne a 18/12/1854 e foi batizada na igreja do mosteiro no dia seguinte. Padrinhos: José António de Sousa Meneses e sua mãe, Joaquina Clara, da Casa armoriada da Portela de Paderne. // Aprendeu a arte da costura. // Casou na igreja de Remoães a 13/3/1876 com Manuel José Esteves, nascido nessa freguesia havia trinta e dois anos, filho de Manuel Bernardo Esteves e de Mariana de Jesus Araújo (!), negociantes no lugar da Folia. // O casal teve comércio no Peso. // Em 1932 morava no lugar da Folia; estando ao lume pegou-lhe fogo na roupa, sofrendo graves queimaduras; foi tratada por seu irmão, Dr. Vitoriano, mas acabou por falecer nesse lugar de Remoães a 12/3/1932 (NM 143, de 20/3/1932). // Mãe de Eleutério, na altura residente no Rio de Janeiro, Brasil, entre outros. 

 

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CASTRO, Maria Eleutéria. Filha de Lourenço José Ribeiro Codesso de Figueiredo e Castro, solteiro, e de Maria Joaquina Mendes, solteira. Nasceu por volta de 1855. «Foi exposta à porta de Joaquim Afonso, do lugar do Castelo, em 2/2/1856, e batizada na respetiva igreja de Longos Vales. Em 1897 vivia em Viana com seu irmão Eleutério» (O Meu Livro das Gerações Melgacenses, de ACE, vol. I, p. 495). // Faleceu na Casa da Quinta da Portela, Paderne, a 12/5/1937, com um ataque de gripe, com 83 anos de idade, solteira e sem geração (NM 354, de 23/5/1937).

 

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CASTRO, Miguel Alberto. Filho de Lourenço José Ribeiro Codesso de Figueiredo e Castro, solteiro, da Portela de Paderne, e da sua governanta Maria Joaquina Mendes, solteira, do lugar dos Casais, Cristóval. Neto paterno de Jerónimo José Ribeiro Codesso Soares de Figueiredo e Costa e de Margarida Clementina de Lima Azevedo de Sousa e Castro; neto materno de Ana Mendes. Nasceu na Portela de Paderne a 28/10/1870, e foi batizado a 31 desse mês e ano. Padrinhos: Eleutério da Glória e Maria Eleutéria, irmãos do batizando. // Morreu a 18/11/1871.

   

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CASTRO, Rosa da Conceição. Filha de Lourenço José Ribeiro Codesso de Figueiredo e Castro e de Maria Joaquina Mendes, solteiros. Nasceu em Paderne a --/--/18-- e foi batizada na igreja do mosteiro. // Viveu sempre em casa dos pais, pois era «mentecapta». // Faleceu no estado de solteira e sem geração.

 

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CASTRO, Salvador Augusto. Filho de Lourenço José Ribeiro Codesso de Figueiredo e Castro, solteiro, e da sua governanta, Maria Joaquina Mendes, solteira, moradores na Portela de Paderne, Melgaço. Neto paterno de Jerónimo José Ribeiro Codesso Soares de Figueiredo e Costa e de Margarida Clementina de Lima Azevedo de Sousa e Castro; neto materno de Ana Mendes. Nasceu no dito lugar, Portela de Paderne, a 23/4/1867, e foi batizado no dia seguinte. Padrinho: o padre batizante, João António de Castro. // Emigrou para o Brasil, onde foi comerciante no Rio de Janeiro; era sócio da Casa Pinto, Costa & C.ª (ver Correio de Melgaço n.º 35, de 2/2/1913); ali casou com Elvira Moreira. // A sua esposa morreu em Minas Gerais a 13/12/1906, dez meses depois de se terem casado! // A 1/7/1912, juntamente com Rodrigo de Carvalho Torres, chegou a Paderne de visita (Correio de Melgaço n.º 5). // Casou em segundas núpcias no Rio de Janeiro, a 10/5/1914, com Maria Adelaide Gonçalves Ribeiro, natural de Guimarães (Correio de Melgaço n.º 105, de 30/6/1914). // Em 1920 esteve em Melgaço (Jornal de Melgaço n.º 1312, de 21/11/1920). // NOTA: Os seus pais casaram a 8/10/1897 (ver “O Meu Livro das Gerações Melgacenses”, volume I, página 493).

   

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CASTRO, Vitoriano da Glória (Dr.) Filho de Lourenço José Ribeiro Codesso de Figueiredo e Castro e de Maria Joaquina Mendes. Neto paterno de Jerónimo José Codesso Soares de Figueiredo e Costa e de Margarida Clementina de Lima Azevedo de Sousa e Castro (ele da Casa da Portela de Paderne e ela da Casa da Cordeira, Rouças); neto materno de Ana Luísa Mendes, natural de Cevide, Cristóval. Nasceu na Portela de Paderne a 27/8/1860 e foi batizado na igreja a 6 de Setembro desse mesmo ano. // Fez exame da 4.ª classe em 1872, depois foi para o Liceu de Viana do Castelo. Ingressou em 1890 na Universidade de Coimbra onde, em Julho de 1895, se formou em Medicina. Fixou a sua residência em Alvaredo antes de 1904 pelo facto de a esposa ter herdado a Quinta da Carvalheira. Para iluminar a casa comprou a João Batista dos Reis, famoso latoeiro, o gasómetro a carbureto “Sem Rival”, inventado pelo dito João. // Era solteiro, estudante, morava no lugar da Portela de Paderne, quando casou na igreja de Penso a 21/9/1891 com Joaquina da Boa Memória da Rocha Queirós, de dezassete anos de idade, solteira, proprietária, natural de Penso, residente no lugar de Bairro Grande, filha de Francisco José da Rocha, proprietário, natural da vila de Monção, e de Maria da Conceição Queirós, proprietária, natural de Penso, Melgaço, comerciantes na Vila de Monção e em Penso. A mãe da noiva, já viúva, deu consentimento à filha para ela se poder casar, em virtude de ser menor. Testemunhas presentes: o padre Manuel José Domingues e António Manuel da Rocha, casado, caixeiro. // Em Outubro de 1897 ainda morava em Penso. // Pertenceu ao Partido Progressista no regime monárquico. Depois de 1910 aderiu à República, mas, aborrecido com esta, em 1916 já se dizia simpatizante da monarquia. // Logo que terminou o curso abriu consultório em Melgaço, na «Farmácia Nova», de Domingos Ferreira de Araújo, sendo nomeado pouco depois médico municipal, tendo a Câmara criado o 3.º partido médico. // É uma das figuras mais carismáticas do concelho. Tudo lhe acontecia! O Correio de Melgaço n.º 41, de 1913, traz uma notícia surpreendente: «Manuel Barrenhas, de Cousso, homem – ao que dizem – de alguns haveres, tem ido diversas vezes a casa do Dr. Vitoriano, em São Martinho [de Alvaredo], fazendo diabruras. A última, porém, foi de consequências más, dando ao nosso amigo médico não pequeno prejuízo, arrancando-lhe parte do arame que lhe cerca a propriedade, e inutilizando o tejadilho e respectivos varais do seu carro. Além destas proezas, outras o homem tem feito, sem que até hoje alguém a elas ponha cobro. A família do nosso digno amigo e vizinhança vive em sobressalto, pois que o doido tem ideias incendiárias. O Dr. Vitoriano já fez queixa à autoridade administrativa, que imediatamente deu as necessárias providências.» // Outra má notícia aparece-nos no Correio de Melgaço n.º 120, de 13/10/1914: «Quando no sábado último se dirigia a esta Vila o Dr. Vitoriano, guiando o seu carro e trazendo nele Henrique de Sousa, do Porto, João Batista Reis e o pequenito Lourenço, ao chegar próximo do Rio do Porto o cavalo não susteve o peso do carro e precipitou-se na propriedade de Manuel Pires, a uns três metros abaixo da estrada. O carro virou-se sobre os passageiros que, devido a uma latada, amorteceu o choque – nada mais sofreram do que o susto.» // Outro caso menos agradável para ele foi quando a Câmara Municipal abriu concurso para um médico do 2.º partido, oferecendo 400$00/ano. O Dr. Vitoriano era detentor do 1.º partido e recebia 300$00. Candidatou-se; os outros candidatos eram o Dr. Manuel Pinto Magalhães e Dr. Joaquim Pereira (Correio de Melgaço n.º 173, de 7/11/1915). Foi escolhido o Dr. Magalhães. Uma injustiça, segundo a opinião dos colaboradores do “Correio de Melgaço”. Vingança! – acusavam os seus correligionários. O lugar já estava destinado ao Dr. Magalhães, segundo os do Correio de Melgaço: «O que revolta e indigna é que o Dr. Vitoriano, credor de todas as deferências e com uma larga folha de serviços prestados durante vinte anos, fique a perceber menos 100$00/ano! Isso não pode ser! Contra isso protestamos ardentemente e gritaremos sempre: abaixo a iniquidade!» (Correio de Melgaço n.º 175, de 21/11/1915). «Ó céus! – porque não baixais à terra num momento dado e por intermédio de um planeta limpais dela esses homens, elevando-os para essas regiões onde não mais fossem vistos do povo?» (CM 176, de 28/11/1915). Os do “Jornal de Melgaço”, do partido político oposto, aplaudiam. Os vereadores argumentavam: «para ele concorrer teria que se demitir de médico municipal.» Logo contra argumentaram os do Correio de Melgaço: «onde está a lei que manda que o médico se demita do lugar que ocupa para concorrer a outro qualquer lugar, quer fora quer dentro do concelho?!»  

     Vendo bem as coisas, de facto existia alguma animosidade, tendo em conta que ele era o subdelegado de saúde – não devia ganhar menos do que o seu colega. Por esta e outras coisas, é que mais tarde passou a ser tudo controlado por Lisboa. Também o acusaram, aquando da epidemia da febre tifoide em Castro Laboreiro, iniciada em Agosto de 1913, de não ir lá com regularidade, e até de se fazer passar por doente para não ir. Lê-se no Correio de Melgaço n.º 92, de 22/3/1914: «O subdelegado de saúde de Melgaço nas suas visitas a Castro Laboreiro, desde que ali se encontra pessoal da Cruz Vermelha, tem sido por este delicada e atenciosamente recebido, acompanhando-o um dos seus enfermeiros na visita aos doentes, como pela mesma autoridade sanitária é confirmado, ao mesmo tempo que reconhece os bons serviços, admirável dedicação e comprovado zelo do referido pessoal…» Foi também publicado, no “Aurora do Lima”, um desmentido acerca de um suposto conflito entre ele e o pessoal da Cruz Vermelha destacado em Castro. Mas nem tudo era negativo. O Dr. Augusto César Esteves, na altura notário e advogado em Monção, num agradecimento por morte de seu pai, ocorrida em Setembro, escreveu a 3/11/1914: «… Aproveito também a ocasião para novamente patentear aos Ex.mos Dr.s Vitoriano Ribeiro de Figueiredo e Castro e Bernardo Salgueiro e Cunha, distintos facultativos, os sentimentos da minha eterna gratidão pela forma carinhosa e desvelada como trataram, durante a doença, meu saudoso pai, e pelos esforços que envidaram para debelar o mal que deste mundo dos vivos fez riscar mais um nome» (Correio de Melgaço n.º 123). Para se ficar com uma ideia dos seus ideais políticos, transcrevo uma entrevista que ele concedeu ao Correio de Melgaço n.º 221, de 22/10/1916, aquando da campanha para as eleições de 5 de Novembro:

     «Na árdua faina duma clínica enorme, fomos encontrar o ilustre médico municipal e subdelegado de saúde, Dr. Vitoriano, que a correr nos diz sobre a nossa pergunta acerca da lista do concelho e eleições próximas:

    - A lista do concelho, meu caro, é, como vê, formada pelos nomes mais em evidência e que melhor garantia nos dão de que Melgaço prosperará sob a sua administração. Não preciso de especializar para demonstrar a competência, honestidade e sensatez dos indivíduos que sobre si tomaram o honroso mas difícil encargo de gerir os negócios municipais. Custou ainda decidir alguns, mas perante o descalabro em que Melgaço andava, as dificuldades desaparecem, abateram-se as bandeiras partidárias e formou-se esse núcleo forte de homens decididos e enérgicos, dispostos a defender os interesses do povo, contra as arremetidas dos que só têm procurado aumentar os impostos, sugar o pobre até ao último ceitil.

     - Ora, isso há-de acabar.

     - Com o projecto do meu amigo Dr. Durães, de colectar em dois centavos as garrafas de água que são exportadas para o Porto, Lisboa, e mais partes, cria-se uma receita que deve orçar entre seis e sete contos por ano. Se essa receita não servir para outros planos grandiosos, que ele já apontou, servirá para melhorar as condições péssimas de vida em que se encontra a maior parte das freguesias do concelho. E supondo que a receita líquida é só de seis contos anuais verá que, no fim do triénio por que a vereação é eleita, somará a bonita quantia de dezoito contos, que distribuidos pelas dezoito freguesias dará um conto de réis para cada uma.

      - E os católicos? – (…) Não concorrem à urna com os senhores?

      - Em vista da constituição da lista, tendo a representá-los quatro sacerdotes dos mais dignos e considerados, julgo que nenhum católico, que seja crente sincero, deixará de votar connosco. Demais, a lista contrária não lhes dá nenhuma garantia de consideração, antes pelo contrário, segundo é voz geral e corrente, fazem parte dela indivíduos que estão metidos na seita maçónica, que como sabe é inimiga figadal da Igreja.

     - Contudo…

     - Sim, contudo talvez haja católicos, e quem sabe se até ministros da própria religião, que votarão contra nós, contra os seus colegas e a favor dos maçónicos. Mas com certeza esses católicos só o são de nome; e se não o forem, o seu remorso será o maior castigo que podem ter. Os sacerdotes ficarão sempre com a mácula de se terem unido aos maçónicos, e os outros… mas não creio que haja um único católico – e muito menos um sacerdote – que vote contra a religião, que vote a favor da maçonaria. Seria um crime de lesa-religião, seria a maior baixeza, seria o maior vilipêndio

    Estavam representados três partidos nessa lista: Democrático (Afonso Costa), Evolucionista (António José de Almeida) e Católico (não republicanos): clero, nobreza e povo. Faltava a União Republicana (de Manuel Brito Camacho), por não ter expressão no concelho de Melgaço. À cabeça da lista estavam o padre Francisco Leandro Álvares de Magalhães, reitor de Alvaredo, e o advogado, Dr. António Augusto Durães. A lista contrária era chefiada pelo capitalista João Pires Teixeira. Por ironia do destino, e devido à agitação que pairava na capital, essas eleições foram adiadas sine die… // O Governador Civil, a 19/3/1918, visitou o concelho. Foi acompanhado pelo Dr. Vitoriano, Dr. Antonio Durães, e pelos partidários deste: Luís Vicente Rodrigues, José Barbosa Martins, padre Francisco Leandro e António Xavier de Castro, irmão do médico. «Como se vê, compareceram somente os chefes monárquicos e o antigo chefe democrático, que nesta qualidade tão falado foi; (…) lembramos que foram aqueles senhores que o acompanharam quem – aliados ao chefe democrático – puseram este concelho em estado de sítio.» Isto lê-se no Jornal de Melgaço n.º 1200, de 23/3/1918. // E não havia de cair a 1.ª República! // Os seus adversários não lhe davam tréguas. No Jornal de Melgaço n.º 1226, de 15/11/1918, pode ler-se: «… informado o delegado de saúde do distrito de que em Castro grassava a epidemia (influenza pneumónica), envia um ofício para o subdelegado deste concelho, encarregando-o de mandar um médico para aquela freguesia; mas o ofício – não sei por que arte mágica – em vez de ser entregue ao Dr. Salvador (a substituir o Dr. Vitoriano por este estar doente) que exercia as funções de subdelegado, vai parar às mãos do Dr. Vitoriano que, por estar doente, e por isso arredado do serviço, nada devia subdelegar; a mania, porém, do mando faz que a sua doença desapareça, e imediatamente entra em exercício para mandar o Dr. Salvador para Castro Laboreiro…» - Mas o médico não vai! Escreveu o professor Dâmaso, que assinava “Grilo”: «Pobre doutor! Querem forçar S. Ex.ª a sofrer o duro inverno em Castro! Para aquela freguesia seria uma felicidade, mas a S. Ex.ª - que pode dizer-se afoitamente foi quem debelou a epidemia nesta Vila e freguesias limítrofes – seria justo dar como prémio um inverno [na serra?!] Maldito prémio! Altercam um pouco na Praça da República, o Dr. Vitoriano reentra em exercício como subdelegado, e quer então que o Dr. Salvador seja desterrado para [a montanha]; e como na actualidade o Dr. Vitoriano politicamente vale alguma coisa leva o caso para o Governo Civil, sendo dada ao Dr. Salvador ordem de marcha para Valença. Mas Sua Ex.ª lá foi para Valença e continuam dezassete freguesias deste concelho entregues, exclusivamente, ao Dr. Vitoriano, o que representa o regresso e alastramento da epidemia e daí a morte de centenas de pessoas…» (Jornal de Melgaço n.º 1226, de 15/11/1918). Mas não foi assim: para substituir o Dr. Salvador veio para Melgaço o Dr. Manuel Dias Moreira «que no ano passado tão bons serviços prestou a este município quando grassou por aqui a pneumónica» (Jornal de Melgaço n.º 1262, de 14/9/1919). Na Vila de Melgaço encontrava-se na altura um grupo de oito elementos da Cruz Vermelha, não havendo, entre eles, nenhum médico; no entanto fizeram o que estava ao seu alcance, dando luta sem tréguas à maldita epidemia. // No mesmo número daquele jornal (Jornal de Melgaço n.º 1226) ainda lemos: «Faleceu esta rapariga (Maria José) tendo-se-lhe talvez podido evitar a morte se o Dr. Vitoriano tivesse cumprido melhor os preceitos da caridade. É certo que este doutor (…) tem tido bastante que fazer; apesar disso, porém, estando Sua Senhoria na farmácia do compadre, onde a mãe da finada lhe pede por três vezes que vá ver sua filha que se encontrava com muita febre, a todos esses pedidos responde: - «não vou lá.» Mas o amor de mãe que – quando vê sua filha em perigo – em nenhuma coisa pensa que não seja procurar descobrir o meio de conseguir que o doutor vá ver sua filha, lá se lembra de pedir a um terceiro, e desta maneira consegue que o médico vá ver a agonizante. Vai, mas tanto valeu como nada, porque, mesmo sabendo do seu ofício, com tanta demora a doença lá foi caminhando, de sorte que [a moça] lá está no cemitério. Um abalizado [clínico], que nesta epidemia tem prestado a este concelho relevantes serviços, diz que está admiradíssimo da benignidade da moléstia nesta região. Diz mais que – tratados os doentes convenientemente – poderia morrer uma em cada cem pessoas atacadas. Não [podia] ser Maria José uma das noventa e nove? Mais caridade, pois, que nem todas as pessoas terão a feliz ideia de recorrer a uma terceira, e assim das cem pessoas atacadas irão noventa e nove para o cemitério, salvando-se apenas uma!» // Esta acusação é deveras grave, no entanto, e a ser verdade, até certo ponto compreende-se a atitude do médico. Provavelmente já tinha visto a paciente e chegado à triste conclusão de que nada havia a fazer. A maldita epidemia, talvez devido à guerra, atingiu forte o concelho de Melgaço – dias houve que muitos mortos iam para o cemitério embrulhados em lençóis, pois já não chegavam as urnas! Mesmo com a ajuda da Cruz Vermelha o Dr. Vitoriano não tinha mãos a medir; a sua força, a sua resistência, estavam a ressentir-se de tanto trabalho e sobretudo de tanto sofrimento. Criticar é fácil, mas é necessário estar no terreno, ver morrer crianças e adultos nos braços, sem nada poder remediar, pois os medicamentos também escasseavam. Por incrível que pareça, até o Dr. Manuel Pinto Magalhães, que exercia a sua actividade de médico em Melgaço, faleceu, devido à terrível febre, em 1918! Contudo, houve casos de sucesso, por exemplo a família de José Augusto Domingues “Cabanal”. // Uma carta de Penso, escrita por um tal “João do Cabo” e publicada no Jornal de Melgaço n.º 1229, de 6/12/1918, é aviltante! O ódio, um ódio cego e bruto, tenta perfurar, destruir, a imagem de um homem, que era – apenas – um ser humano como outro qualquer. Leia-se: [Na epidemia bronco-pneumónica «que grassava com uma intensidade assustadora» o Dr. Vitoriano lembrou-se do velho adágio – «vale mais burro vivo do que sábio morto» – fingindo-se doente e conservando-se em casa, com as fendas bem calafetadas, a caldos de galinha. Nem uma mulher parida, coitado! Não me admiraria muito que (…) se recusasse a prestar os seus serviços clínicos àqueles que não lêem pela sua cartilha de velho talassa; mas, aos que solicitamente o acompanham quando ele aspira ao mando, não me admira, somente espantei-me e até cheguei a proferir estas palavras: «é o homem mais ingrato e pulha que eu tenho conhecido.» Mas tudo isto estaria muito bem se esse filantropo de mísera fama pudesse assim proceder com este ou aquele indivíduo que mais, ou menos, simpatias lhe merecesse. O seu dever não é restrito e por consequência tem de estender-se a todos os que, com urgência, dos seus serviços carecem, demais a mais quando de lágrimas nos olhos se suplicam. Ora dar respostas como esta: «vale mais a vida de um médico do que a de vinte ou trinta doentes que morram sem a minha assistência.» É duro, é horripilante! E quantos morreriam mesmo com ela?!]

     Ter receio da morte é próprio do ser inteligente, não é sinónimo de cobardia. O médico arrisca a vida, mas não cegamente. Quando há uma epidemia, sem os meios adequados para a combater, não há médicos que nos valham. Os medicamentos, as condições higiénicas, etc., são fundamentais para debelar a doença. Em uma terra do fim do mundo, sem transportes, sem estradas para as diversas freguesias, isoladas pela neve e pelo frio, como Castro Laboreiro, que havia de fazer o médico? O Dr. Vitoriano viu morrer o seu colega, Dr. Magalhães, a 19/10/1918, atacado pela febre pneumómica; era jovem, e viera para Melgaço havia pouco mais de um ano. Era generoso, entrava em todas as casas onde havia doentes com a epidemia, não se acautelou, e assim terminaram os seus dias numa cama do hospital, vítima da doença que tentara combater. O seu corpo foi levado para Felgueiras, em cujo cemitério jaz, em jazigo de família. Para o substituir veio o Dr. Manuel Dias Moreira, que continuou a luta contra essa febre maldita. O Dr. Vitoriano foi uma espécie de bode expiatório para todos os males que surgiram no concelho nessa época – os colaboradores do Jornal de Melgaço até o acusaram, a ele e ao irmão António Xavier, a quem deram a alcunha de “Furrica”, de «amancebias e escândalos públicos!» E puseram-no a ridículo, no dito jornal, quando publicaram a quadra, inspirada, segundo eles, num conselho do Xavier ao irmão: «Mano, querido mano,/escuta o que eu te digo:/mano, vai para um convento/não esperes pior castigo.» // Em sessão da Câmara Municipal de Melgaço de 6/3/1919 leu-se um seu requerimento, o qual teve a seguinte resposta: «sobre o requerimento apresentado pelo senhor Dr. Vitoriano da Glória Ribeiro de Figueiredo e Castro, concorrente ao 1.º lugar do 1.º partido deste município, foi deliberado, por proposta do vogal Nóvoas, ficar para se resolver na próxima sessão.» // Em 1920 a gente do Jornal de Melgaço voltou a incomodá-lo: «A enterite, que há já bastante tempo grassa neste concelho, em vez de decrescer tende infelizmente a alastrar, ouvindo-se diariamente dobrar a finados em várias freguesias. Visto o subdelegado de saúde parecer esquecer-se ou desconhecer a existência da epidemia, lembramos à digna autoridade administrativa e Câmara Municipal deste concelho a conveniência na requisição dum destacamento da Cruz Vermelha e dois médicos, por ser impossível aos dois facultativos municipais atender às necessidades de todos os doentes, visto a epidemia ter-se alastrado quase por todo o concelho» (Jornal de Melgaço n.º 1303, de 29/8/1920). // Por ter atingido o limite de idade foi aposentado em 1930. Era médico municipal e subinspetor de saúde. Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 75, de 31/8/1930: «No dia 27 do corrente realizou-se no Hotel Ranhada um banquete de homenagem ao ilustre clínico, senhor Dr. Vitoriano Ribeiro de Figueiredo e Castro, que tantos e tão grandes serviços tem prestado a este concelho. Foram convivas: os senhores Dr. Augusto César Ribeiro Lima, Hermenegildo José Solheiro, Duarte de Magalhães, João Fernandes Braga, António José da Costa, Dr. José Joaquim de Abreu, Dr. António Esteves, Dr. Cândido da Rocha e Sá, Dr. Henrique Fernandes Pinto, tenente José Louro de Oliveira, Jorge Lobato, Aurélio de Araújo Azevedo, José Maria Pereira, António Mendes, Bernardo Cunha, Gregório Ferreira, José de Carvalho, Cícero Cândido Solheiro e Nicomedes Pereira. O banquete decorreu, sempre, no meio da maior animação. Aos brindes usaram da palavra os senhores Hermenegildo José Solheiro e Dr. Henrique Fernandes Pinto, que enalteceram as belas qualidades e excelentes dotes de coração que exornam o homenageado. Foi uma manifestação justíssima, pois raros são os habitantes deste concelho que não lhe devem atenções, mormente os pobres. Terminado o repasto, muitas pessoas que a ele não tinham assistido, foram abraçar Sua Excelência, manifestando-lhe assim o grande apreço e estima em que o têm. A seguir todos os presentes foram acompanhar o senhor Dr. Vitoriano Ribeiro a sua casa

     Pelo Presidente da República foi-lhe concedido o grau de oficial da Ordem de Benemerência, que recebeu das mãos do Governador do distrito, José Ornelas Monteiro, a 10/10/1948. Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 876, de 17/10/1948, página 2: «E depois de lhe atar ao pescoço a linda comenda comovidamente o abraçou. O Sr. Dr. Vitoriano, visivelmente comovido, não teve palavras de agradecimento; todo o seu sentimento estava concentrado nos olhos e apenas palavras soltas lhe caíam dos lábios, enquanto todos enchiam o recinto de palmas e de vivas.» // Morreu na sua casa da Carvalheira a 6/8/1951. Em A Voz de Melgaço de 15/8/1951 o correspondente escreveu: «... – O seu funeral, que se realizou no dia oito, foi grande manifestação de pesar, e nele vimos a quase totalidade das pessoas de maior representação no nosso meio, bem como um grande número de autoridades civis e militares. O “féretro” foi acompanhado por três irmandades, duas da Vila e uma de Alvaredo, e para pegar às borlas foram constituídos seis turnos: - do 1.º faziam parte o Dr. Carlos Luís da Rocha e professor Manuel Pinho Gonçalves, respetivamente Presidente e Vice-Presidente da Câmara Municipal de Melgaço, Dr. Sérgio Saavedra … e Herculano Arsénio Gomes Pinheiro, chefe da secretaria da Câmara; do 2.º o Dr. António Cândido Esteves, Tenentes Fernando José Lopes e Jacinto Freitas, e José Maria Pereira; do 3.º o agente da polícia Sousa, e Luís Abreu, presidente da Junta de Freguesia, Manuel da Rocha e Oceano Atlântico Ribeiro; o 4.º, Armando Solheiro, Carlos Ribeiro Lima e José Esteves, funcionários da Câmara Municipal de Melgaço, e António P. Lima, vogal do Conselho Municipal; do 5.º o Dr. Augusto Esteves, José Figueiroa, Dr. João Barros Durães e professor António Pinho Gonçalves; e do 6.º Mário Ranhada, Artur Teixeira, Dr. José Joaquim Abreu e Constantino Silva. A chave da urna foi conduzida por Valeriano G. Bessa... Após a missa e ofícios de corpo presente, foi a urna depositada em jazigo para esse fim por ele próprio mandado construir no cemitério de Alvaredo…» // E no Notícias de Melgaço n.º 989, de 12/8/1951, pode ler-se: «Naquela tarde, na tarde do dia 6 do corrente, cedo se espalhou pela Vila a triste notícia do falecimento do Sr. Dr. VGRFC. E entretanto em nenhum rosto se espalhou a surpresa de facto inesperado; mas a voz de muitos, a voz de todos, mostrou a pena no acento dolorido do comentário e deixou ver qualquer coisa que lhes chocara o coração, o que os olhos manifestaram também. Efetivamente quem há por aí que, tendo coração, não o faça reviver a seus olhos, não evoque aquele roble ainda há pouco bem esbelto e não recorde o caminheiro infatigável e constante, percorrendo todas as nossas freguesias, só para levar aos seus doentes, quase sempre gratuitamente, uma esperança, uma alegria, um pouco de conforto moral ou a mitigação das dores? Visita diária da Vila, por vontade própria nunca faltou à tardinha na sua “Domus Caritatis” para confrontar os seus doentes e entravar e bater com as suas receitas, quantas e quantas vezes maravilhosas, a marcha das moléstias que lhes consumiam os corpos. Magro, mas de construção física resistente, só uma vez a doença atirou com ele para o leito. E como a moléstia o retivesse bastantes dias privado do convívio dos amigos, foram-no visitar nessa oportunidade e tiveram o prazer de apreciar mais uma vez a sua alma bem formada: - Qualquer dia vou à Vila – lhes disse ele – porque eu não posso estar doente; ainda faço falta ao hospital e à cabeceira dos meus doentes. Na sua boca isto não significava apego à vida; era tão-somente o devotamento da sua alma à causa dos que sofriam. É que no Homem havia a verdadeira vocação de médico e no clínico pulsava sempre um coração nobre, bondoso e humanitário. A sua formação intelectual vinha dos velhos tempos da monarquia e, porque era inteligente, nunca se prendeu com os aplausos do mundo, embora se deixasse cativar pela simpatia dos seus amigos a quem sempre procurou ser prestável. Por causa desta faceta do seu caráter, foi ele também professor particular de algumas pessoas desta terra, a quem deu numas férias grandes, entre outras, algumas lições de matemática e de álgebra, que muito lhes aproveitaram depois. Ali estava ele como peixe na água, mas quem o quisesse ver contente, e cavaqueador, era falar-lhe da sua vida de estudante. A sua memória evocava então as sebentas que fez para alguns cursos da Universidade. As explicações que deu a tantos dos seus condiscípulos e contemporâneos, e quantas vezes não falou com elogio das relações com o Sr. Dr. Afonso Costa e com o grande tribuno Sr. Dr. António José d’Almeida, seus amigos e companheiros na cidade de Coimbra. Ora estes louvores e gabos não eram mentirosos, porque o finado militou sempre no campo político oposto ao destes grandes vultos da República. A sua crença era monárquica. Velhinho de 94 anos bem contados, o Sr. Dr. Vitoriano de Castro faleceu agora na sua casa d’Alvaredo. Como a chama da luz se apaga quando o azeite se gasta de todo em qualquer lâmpada, assim se extinguiu a vida do benemérito médico que toda a gente conhecia e respeitavam pela sua dedicação ao doente e desprendimento de pecúnia. O seu funeral realizou-se no dia 8 do corrente e – pela muita gente que rodeou o féretro nessa ocasião, constituiu uma grande manifestação de respeito e de pesar…»    

     No livro “Padre Júlio Vaz apresenta Mário”, nas páginas 93-94, lê-se: «… abnegado, prestigioso e sempre lembrado médico que fez do seu munus um verdadeiro sacerdócio.» E a seguir: «Fosse onde fosse, fizesse o tempo que fizesse, nunca ninguém, rico ou pobre, remediado ou não, adoeceu que não tivesse à cabeceira a assistência pronta do Dr. Vitoriano. E caso notável: desapegado como era dos bens deste mundo, mormente dos necessitados, jamais recebeu pelos seus serviços clínicos tanto como um ceitil cortado ao meio.» // A sua viúva deixou este mundo a 19/2/1955: «a ilustre extinta era a bondade personificada», lê-se em A Voz de Melgaço de 1/3/1955. // Ainda em nossos dias há quem se lembre dele, sobretudo quando se deslocava na sua charrete, puxada por um garboso cavalo. Certo dia aconteceu-lhe mais um percalço. Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 463, de 24/9/1939: «Na passada sexta-feira, à tarde, quando do Peso vinha para esta Vila o Sr. Dr. Vitoriano no seu carro de cavalos, junto da Ponte da Cividade, uma pobre mulher, já de idade, que pela mão trazia uma cabra, teve a infelicidade de ser arrastada pelo animal que se assustou, caindo a pobre velha da ponte abaixo. Ferida, na cabeça, foi retirada do leito do regato por Manuel Cristina Pereira, agente da polícia internacional, e a seguir conduzida ao hospital da Misericórdia, desta Vila, onde foi internada.» // Apesar de ter sido um homem generoso e uma figura grandiosa, como homem político arranjou alguns inimigos! // Com geração. // Nota: antes de ser perfilhado, era conhecido por Vitoriano Augusto Ribeiro; no assento de casamento ainda surge como filho natural de Maria Joaquina Mendes, solteira.

2 comentários:

  1. Bom dia, Joaquim A. Rocha, sou Juliana, filha da Maria Elizabeth Ribeiro e Castro, muito obrigada pelas informações que você nos enviou. É possível ter acesso às edições do Correio de Melgaço, que te referes na biografia?

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  2. Senhor Joaquim A. Rocha, somente hoje vi sua mensagem. Uma verdadeira pesquisa! Fico muito grata por sua gentileza e peço desculpas pela demora em responder.

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