segunda-feira, 15 de maio de 2017

OS NOVOS LUSÍADAS
(tentativa de continuação de OS LUSÍADAS de Camões)
 
Por Joaquim A. Rocha 






67

 

Os que se converteram a Jesus

Serão designados de cristãos novos; 

Carregarão nos ombros outra cruz,

Ficam presos, tal galinhas nos covos.

Os seus olhos jamais verão a luz,

Tudo parecerá negro de corvos.

Esquecerão o Alá e Javé,

Agora têm outro credo e fé.

 

68

 

Ai que coisa esta das religiões

Que transforma os humanos em reféns,

Ficam cegos, entram em mil prisões,

  Em busca de céus, de divinos bens;

Perdem-se em miríades de ilusões,

Tornam-se vis escravos, zés-ninguém!

Buscam para os seus males uma cura,

Pròs tormentos uma dor menos dura.

 

69

 

Seguem - na senda do desconhecido -

Caminhando além, de olhos vendados,

Buscando milagres, algo par’cido,

E no fim todos se sentem frustrados;

Na pia o menino é benzido,

Levado pelos trilhos já traçados.

Prometem-lhe a cura da sua alma

Lugar no doce céu, com paz e calma!

 

70

 

Grande farsa, conversa de crianças,

Tudo que há está dentro do universo,

Fora existe nada, falsas esp’ranças,

Cabendo tudo num vazio verso;

Os deuses executam lindas danças

Mostrando, da medalha, o anverso.

Humanos devem crer na natureza,

Nossa madre, que nos serve à mesa.

 

71

 

Voltemos a esses reis prepotentes,

Beis do mundo, senhores absolutos,

Donos de mil burgos, das suas gentes,

Ágeis, cruéis, velhacos e astutos,

Sempre irritadiços, descontentes,

Horríveis, sanguinários, brutos.

Deram-lhes bons cognomes os cronistas

A fim de iludir o povo, suas vistas.

 

72

 

Dom João, inspirado, genial,

Olhando as mil riquezas da terra,

Subido tesouro, manancial,

Abandona o mar, deixa a guerra,

Torna o casto Brasil colossal,

Uma fase da história encerra.

Divide tudo  em capitanias,

Tomé de Sousa foi vero Elias.

 

73

 

Distribuiu as terras por colonos,

Todos eles de origem portuguesa,

Tornando-se assim verdadeiros donos,

Descobrindo ouro, criando riqueza;

Vendo belos pássaros, feios monos,

Esquecendo mares da incerteza.

Ganhando à terra terno amor,

Cultivando-a com ganas e suor.

 

74

 

Pagavam à coroa certos direitos,

Dinheiro que enchia cofres do Estado,

Fazendo crescer os fortes peitos

De fidalgos e rei mal amado;

Erros crassos e enganos desfeitos,

Tudo pertencia agora ao passado.

Fundou-se a cidade São Salvador

Em honra do Santíssimo Senhor.

 

75

 

O Brasil cresceu como um gigante,

Transformando-se quase continente;

E se do rei era mulher-amante

 Era querido de imensa gente.

Por isso, de repente, num instante,

Criou asas, tornou-se independente.

Pulmão do mundo, mil rios, floresta,

Alimenta todo um povo em festa.

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