quinta-feira, 6 de outubro de 2016

DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MELGAÇO
 
Por Joaquim A. Rocha
 


cartas de um castrejo
 
20.ª - «Senhor Redactor: inertes como uma pedra, paralisadas como um defunto, assistem as autoridades que superintendem na escola, às nossas justas reclamações. Baseados no princípio incontestável de que pugnamos pelo bem da nossa querida freguesia, firmes no propósito de fazer quanto esteja ao nosso alcance para que a dotação de escolas, neste meio, seja equitativa com a população escolar, não arrepiaremos caminho, ainda que seja preciso mandar vir um dos trons que escaparam em Aljubarrota, para despertar estes sonâmbulos. E, enquanto não nos chega a encomenda – único remédio seguro talvez, vamos tratar de outro assunto que, conquanto de somenos importância, pode ser um factor potente para o começo do nosso progresso, para o nosso engrandecimento. Os nossos ares, embalsamados do aroma salutar das flores da giesta, da urze e do tojo; as nossas águas filtradas através das mais finas rochas – (…) – e superiores às melhores águas, aconselhadas pela medicina, para facilitarem a digestão (…); os nossos montes, aqui plenos e escarpados, além com quedas abruptas e fantásticas, mais além com cristas que assemelham gigantes negros, à espreita do raiar do sol – a nossa Pena da Anamão, um bloco maciço de pedra, de onde dizem se avista Braga e Barcelos; o nosso castelo que (…) daria muito que estudar a doutos arqueólogos; a nossa igreja, que deveu ser um templo magnífico, de que conserva as insígnias; os nossos lugares dispersos; a nossa vila, que já foi sede de concelho; os nossos prados; as nossas searas; os nossos urzais e giestais; os nossos barbeitos de batatais, em flor; as nossas casas colmadas, a destacarem-se nas encostas pelo fumo das lareiras… tudo isto e o tipo natural do homem e da mulher castrejos, estudados no seu trajar e modalidades, e na sua psicologia particularíssima, dariam azo a um estudo demorado e lucrativo. Este misto de poesia e dureza, este feixe de encantos e desilusões, devia ser visitado por inúmeros “alpinistas”, para o admirarem na sua grandeza natural, para o estudarem no mais recôndito dos seus arcanos. Sei que não temos hotéis, nem mesmo as estalagens mais comezinhas para receber os visitantes; mas, se se estabelecesse uma corrente, que merece a pena, Castro Laboreiro tem energias e conseguiria proporcionar-lhes um bem-estar relativo, em harmonia com o meio. Enquanto… uma merenda ao ar livre … é um mimo. E junto dum regato rumorejante? E ao pé duma fonte que murmura? Quando a benemérita Sociedade de Propaganda de Portugal nos conhecer, estamos certos até de que o silvo da locomotiva, como já sonhamos, nos despertará, um dia, do nosso sono criminoso. // Amedrontaram-nos as últimas chuvas, pois nos lançaram por terra as searas prometedoras. O tempo, porém, melhorou e a colheita deve ser óptima. // Lavradores amigos, não se esqueçam de sulfatar os batatais. Um pulverizador pode servir um lugar ou mais. O sulfato está carinho, mas dá resultado no excesso da colheita. Não durmam, pois, se querem que a batata castreja não perca os seus foros de ser a melhor desta região. Castro Laboreiro, 22/6/1916.»           

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