terça-feira, 30 de agosto de 2016

OS NOVOS LUSÍADAS
(tentativa de continuação de «Os Lusíadas», de Camões)
 
Por Joaquim A. Rocha
 
desenho de Rui Nunes
 
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Escorbuto, malária, mil doenças,
      Atingem nossos nautas ferozmente…
          Rezam-se missas, reforçam-se crenças,
     Mas cada dia falece mais gente...
          Os que restam já sonham gordas tenças.
        O rei, no seu trono, está contente... 
            E antes que a parca a todos mate
               Tocam-se os grandes sinos a rebate.


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Perderam-se as naus, muitas caravelas,
Os marinheiros que as pilotavam;
Por sua alma queimam-se tantas velas!
Choram-se as pessoas que se amavam...
Crentes oram nas igrejas… capelas,
Viúvas de dor e raiva gritavam.
O astro-luz do ar desaparece…
O povo lança-se ao chão numa prece.

 
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E assim o bei ganhou eterna fama
À custa dessas vidas por cumprir;
Morreram no alto mar, longe da cama,
Em sofrimento atroz… a rugir.
E quantos tombaram na suja lama,
Para o anjo da morte bem nutrir.
Os deuses assistiram à matança,
Mas ficaram na casa em segurança.

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