quinta-feira, 4 de julho de 2024

FERREIRA DA SILVA (...)

Por Joaquim A. Rocha 





         Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1542, de 24/1/1965: «PISTA DA MORTE. // Já em tempos abordamos o problema do excesso de velocidade dos veículos motorizados que utilizam a faixa de rodagem da Rua do Rio do Porto como autêntica pista de corridas e de provas desportivas as quais, cedo ou tarde, terminarão por gravíssimos desastres de viação e, possivelmente, com a morte dos atropelados. Não há dúvida de que a Rua do Rio do Porto, sobretudo no troço que vai da pensão do senhor Manuel Alves até à estrada nacional, depois de um forte declive entra numa curva perigosa, sem visibilidade e estreita, que se presta aos mais inesperados acidentes e não permite velocidade superior àquela que o Código das Estradas estabelece para os veículos em trânsito dentro das povoações. Os veículos que esta artéria utilizam: caminhões, caminhetas, autos ligeiros, motos, “cociolos” (lambretas), bicicletas, etc., entram na rampa com grande velocidade que a inclinação da própria ladeira aumenta, parecendo levar tudo na sua frente, sem o mínimo cuidado e respeito pela segurança alheia, de peões e dos que caminham em sentido contrário. Sucede até que os autores destas criminosas e loucas correrias, não raras vezes, encontram estacionados no começo da curva, junto à oficina de ferreiro que ali está estabelecida, um ou mais veículos que vedam ou estreitam, demasiadamente, a faixa de rodagem, tornando perigosíssimas as manobras da ultrapassagem. Só por estranho acaso, ou pela vigilância e proteção de Deus, não se registaram ainda desastres graves, tanto resultantes de colisão entre os veículos mecanizados como de atropelamento de peões, sobretudo das crianças que normalmente passam na referida rua a caminho das suas casas, vindas da escola, ou de qualquer recado ou missão de que as mães as encarregam. Porém, Deus não está sempre atrás da porta a velar pela segurança alheia e o acaso, é… o acaso e, por isso mesmo, meramente acidental. Temos a impressão, até mesmo o pressentimento, de que alguns acontecimentos lutuosos estarão para suceder, agora que o trânsito aumentou desmedidamente com os carros ligeiros guiados por rapazes nossos conterrâneos regressados de França, com deficiente prática de condução, e por furgonetes e outros veículos de feirantes e proprietários inexperientes, com cartas de fresca data. Não é por injustificado receio que damos este alarme, mas com a plena convicção de que se torna urgente remediar os perigos apontados, adotando as medidas preventivas e repressivas legais que estão em uso nas outras povoações, com bons ou, pelo menos, satisfatórios resultados. À Câmara e à G.N.R. compete aprovar e pôr em execução as necessárias providências. À primeira, aprovando a indispensável postura municipal sobre a sinalização das vias públicas em referência, com caráter permanente, por forma bem visível e a distância que permita evitar qualquer acidente e no qual se indique o sentido do percurso e a velocidade máxima, de harmonia com a intensidade do tráfego e do que dispõe sobre o assunto o Código da Estrada. À segunda, é das suas atribuições e competência a fiscalização da referida postura e o levantamento dos autos para punição dos infratores. Para este assunto que reputamos urgentíssimo resolver, chamamos a boa atenção do senhor Presidente da Câmara e antecipadamente lhe prestamos os nossos agradecimentos em nome da população da Rua do Rio do Porto e dos melgacenses que normalmente ou acidentalmente por ela transitam. É preciso [e absolutamente indispensável], que aquela artéria deixe de ser pista de corridas de velocidade, de correrias de loucos sem noção de responsabilidades, de exibições espetaculares e estúpidas, de incapazes armados em ases do volante e, talvez, em pista da morte para quem por ali passar pacificamente a tratar da sua vida.» // F.S.   

   

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1543, de 31/1/1965: «MORTE DO GIGANTE. (Winston Churchill). // NOTA: em virtude de este artigo, embora interessante, não tratar de assuntos do concelho de Melgaço, resolvi não o inserir neste livro.   

                  

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1544, de 7/2/1965: «SUBORDINAÇÃO OU INDEPENDÊNCIA?! // O egoísmo dos responsáveis pelas atividades comerciais de Melgaço, a sua desconfiança da vida coletiva, e o horror à disciplina, à unidade e à orientação comum, criaram no mais importante setor da vida económica uma situação subordinada e, na verdade, muito estranha e deprimente, à qual julgamos que é tempo de pôr termo. Não sabemos como, nem porquê, compreendeu-se no âmbito do Grémio do Comércio do vizinho concelho de Monção a disciplina das atividades comerciais do nosso concelho, isto, ao que parece, em virtude dos comerciantes não se terem agrupado e requerido, como seria lógico, a constituição do seu Grémio concelhio. Em resultado desta desprestigiante subordinação o setor comercial do nosso concelho foi obrigatoriamente agremiado no Grémio do Comércio de Monção que processa e cobra os respetivos recibos em nome do “Grémio do Comércio de Monção e Melgaço”, em quanto que a placa indicativa da respetiva sede social menciona, ostensivamente, “Grémio do Comércio de Monção”. Quer dizer: para receber as quotas dos associados, ou agremiados, o grémio é de ambos os concelhos, em quanto que para assinalar o edifício da sede social é apenas e tão-somente dos nossos vizinhos! Está isto certo? Parece que sim, visto que Melgaço se manteve à margem da organização corporativa do seu comércio e se deixou integrar, sem protesto ou reparo, no Grémio de Monção! Nos termos do decreto-lei n.º 24715, de 3/12/1934, que institui o regime jurídico da organização facultativa das atividades comerciais, a organização corporativa destas, quando não se efetue ao abrigo do disposto no decreto-lei n.º 13049 (?), de 23/9/1933, pode realizar-se por iniciativa dos interessados que exerçam a sua atividade no mesmo ramo de comércio, desde que se agrupem em termos de reunir, pelo menos, 30% (?) do número total das formas existentes no seu concelho e representem 50% pelo menos do valor médio das transações dos respetivos ramos na área concelhia. A constituição do Grémio é requerida a S. Ex.ª o Ministro das Corporações por intermédio do Instituto Nacional do Trabalho e Previdência Social, usará a denominação de Grémio Concelhio do ramo respetivo e o valor médio das transações será calculado pelos quantitativos fixados nas Secções de Finanças para fins de tributação fiscal nos últimos dois anos. A sede do Grémio será instalada na sede do concelho em edifício arrendado para tal fim, que reúna as necessárias condições. Estes grémios são considerados como elementos primários da Organização Corporativa da Nação, instituída no Estatuto do Trabalho Nacional e na Constituição Política da Nação, gozarão de personalidade jurídica, representam todos os elementos do mesmo ramo de comércio, estejam ou não inscritos, ajustam os contratos coletivos de trabalho, tutelam os interesses que representam e no que respeita a ação técnica e económica, devem observar a orientação traçada pelo Governo ou dos vários Ministérios aos quais incumbe ordenar superiormente as atividades económicas. Os estatutos, depois de aprovados, serão publicados no Boletim do Instituto Nacional do Trabalho e conterão, obrigatoriamente, as disposições estabelecidas no cap. IV do art.º 14.º do decreto-lei n.º 24715, já citado, sendo a direção eleita em Assembleia Geral dos agremiados eleitores até fins de Janeiro do ano em que a eleição se deva realizar. Temos para nós por indispensável e urgente terminar com mais esta anómala subordinação de Melgaço ao concelho de Monção, por a considerarmos incongruente, desprestigiante e fora de toda a razão. Já que os melgacenses tem por norma, ou não tratar ou tratar tardiamente dos assuntos do seu interesse individual ou concelhio, os elementos constitutivos do setor comercial, como sócios fundadores, em número e importância económica legalmente suficiente, acompanhados dos meios de prova necessários e de dois exemplares dos estatutos, em papel selado, deveriam pedir a constituição do seu Grémio e adquirir a independência que a importância, o progresso e o valor do seu comércio justificam. Ao tratarmos deste magno problema de indiscutível interesse local mantemo-nos, como sempre, na primeira fila dos defensores de tudo quanto é de direito e legitimamente interessa ao concelho, e não deixaremos sem reparo e sem protesto esta triste sina da falta de bairrismo pelo que é nosso que conduz em linha reta aos interesses e prestígio dos nossos previdentes vizinhos. Diga-se de passagem que Monção não tem culpa: a culpa, a verdadeira responsabilidade, cabe aos melgacenses.» // F.S.   

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1545, de 17/2/1965: «36.º ANIVERSÁRIO. // «Hoje, 17 de Fevereiro, o Notícias de Melgaço celebra o seu trigésimo sexto aniversário. É com grande júbilo que saudamos a nova alvorada e celebramos, festivamente, mais um ano de existência. Na vida de um jornal três dúzias de anos pouco ou nada representam, porém, se fizermos um balanço consciencioso à sua atuação bairrista e à sua ação doutrinal nesse período, encontramos um longo percurso de total devoção por tudo quanto interessa e legitimamente pertence a Melgaço e merece ser destacado das virtudes dos melgacenses; no campo doutrinal marcamos uma posição firme e digna, fiel aos princípios que perfilhamos, dentro do conceito inalterável da verdade, do idealismo e da razão pura que nos move. O nosso jornal, como expressão concreta dos objetivos patrióticos: regionais, nacionalistas, morais, sociais e democráticos, que se propôs defender, tem-se revelado um órgão sério e verdadeiramente integrado nos puros moldes da opinião livre do pensamento alheio que aceitamos e respeitamos sinceramente. Temo-nos esforçado por demonstrar os mais fervorosos sentimentos de amizade, de correção e de tolerância, de lealdade e de solidariedade, com aqueles que nos precederam e lançaram as bases e os fundamentos dos altos ideais de paz, de concórdia e de justiça entre os melgacenses. Neste dia jubiloso de aniversário sentimos a maior alegria em exprimir ardentes votos pelas prosperidades de todos quantos têm prestado e continuam a prestar a Melgaço, às suas belezas panorâmicas, aos seus monumentos, à sua riqueza económica, ao seu engrandecimento moral e turístico, e aos seus ilustres antepassados, a homenagem do seu culto e da sua respeitosa lembrança. Vão passados três anos que nesta segunda fase mantemos em nossas mãos o bastão do mando e a responsabilidade da publicação deste semanário. É natural, é quase certo que a nossa orientação não satisfaça e, antes pelo contrário, provoque a discordância de vários e a divergência de muitos. A verdade é que, em plena consciência, temos procurado agradar aos que, como nós, se sentem aquecidos por igual chama de amor bairrista e nos têm dispensado algum incitamento nesta campanha meritória de defender o que é nosso e de engrandecer o que, sendo igualmente nosso, a Melgaço pertence e dá lustre. A este nosso 36.º aniversário outros se seguirão, sob a nossa orientação ou sob a orientação de outrem; em qualquer dos casos, certos estamos, com o mesmo ou idêntico fervor e com devoção afim, em prol da grandeza e da defesa da terra querida onde nascemos ou onde nos prendem fortes elos das forças do coração. A todos os nossos assinantes, leitores e colaboradores, e em especial aos melgacenses que vivem dentro e fora das coordenadas geográficas concelhias, dirigimos com a maior euforia as nossas homenagens de saudação e os nossos melhores desejos de em sucessivos aniversários, nesta mesma tribuna, lhes apetecermos todas as venturas e as melhores prosperidades. Para os nossos colegas da imprensa, diária ou hebdomadária, a quem tanto devemos, em exemplo e em imerecidas referências; para todos quantos nos jornais trabalham e lhes dão o seu valioso e inteligente esforço em ordem à sua regular e brilhante publicação, vai também o nosso abraço agradecido de reconhecimento e afetuosa saudação. Diremos, para terminar, que na vida jornalística não reconhecemos inimigos, e jamais tratamos os adversários de ideias menos leais ou corretamente; defendemos e pugnamos pelas ideias sem nos preocuparmos com os seus expositores, lutamos pelos seus aspetos doutrinais e sua aplicação nos campos da utilidade humana, pela sua adaptação às nossas instituições e à conformidade com o nosso pensamento e inteligência. A estrutura doutrinal afere-se pela utilidade, pela verdade e pela justiça. Pois dentro da verdade de cada um, neste dia do aniversário, o Notícias de Melgaço saúda todos os seus colegas e aperta-os fortemente num leal e grande abraço amigo.» // F.S. 

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1546, de 28/2/1965: «FESTAS DO CONCELHO. // Ainda estão profundamente impressas na nossa lembrança as impressões que nos ficaram do brilhantismo e da ordem irrepreensível que caraterizaram as festas celebradas no ano passado em honra de Nossa Senhora da Orada, veneranda padroeira de Melgaço. A inconstância do tempo, demasiadamente frio, ventoso e húmido, prejudicou a execução do programa organizado pela esforçada Comissão que meteu ombros à pesada tarefa de levar a bom termo os festejos da Ascensão, cujas tradições e devoções são notórias e determinaram a escolha do dia santificado para feriado do concelho. E pena foi que o mau tempo não conseguisse dar o justo relevo aos números do programa mais atraentes, especialmente às iluminações, concertos musicais e fogo-de-artifício, que o povo das freguesias não chegou a apreciar devidamente por a isso se opor a precipitação de chuvas intermitentes e do vento frio que enregelava os ossos dos assistentes. A recolha prematura dos romeiros rurais a suas casas, afugentados pela rigorosa invernia desses dias de Maio, que em vez de se apresentar florido e de cantar hinos à primavera se vestiu de péssimas roupagens a dar maior relevo ao seu mau cariz, prejudicou as festas mas, por outro lado, deu realce aos recursos dos membros da comissão de festas que tudo fizeram para bem cumprir e dar beleza aos números programados. Dizer que a comissão das festas para este ano é a mesma do ano passado, refrescada por mais alguns elementos de grande valor e dinamismo, é assegurar a certeza de que vamos assistir à execução de um programa mais brilhante e imponente, para cuja grandiosidade todos devemos contribuir. Neste ano, em razão do calendário, as festas concelhias realizar-se-ão nos dias 27, 28, 29 e 30 de Maio, isto é, terão início numa quinta-feira e encerrar-se-ão no domingo seguinte. Esta resolução permitirá a separação dos atos religiosos propriamente ditos, procissão e festas litúrgicas nos templos da capela da Orada e igreja matriz, das festas profanas: certames musicais, iluminações, arraial, concursos, exposições, fogos-de- artifício, etc. // Temos de confiar, inteiramente, no grupo de ativos melgacenses que se propõem realizar esta festa, continuando as suas largas e admiráveis tradições, dar-lhes o necessário apoio moral e financeiro e auxilia-los a resolver as suas dificuldades, que não serão poucas. O rendimento de alguns bailaricos que tiveram a sua realização no edifício dos bombeiros é um parco auxílio para o muito que se torna necessário, cumprindo ao comércio local, que é quem mais lucra, dar a maior contribuição. É evidente que o município, como é de uso, não deixará de ser generoso, votando uma verba substancial em ordem a dar às festas um relevo e importância capazes de atrair à nossa vila o maior número possível de nacionais e estrangeiros, pedindo-se para estes a abertura das fronteiras de Monção a São Gregório. Entendemos que têm a maior oportunidade as recomendações sugeridas no n.º 1511, de 10 de Maio do ano passado, sob o título “No Rescaldo das Festas”, sobre a criação e aplicação de vinhetas alegóricas das festas, a colar nas faturas das vendas a prazo e nas embalagens das vendas a dinheiro, bem como a organização de tômbolas e quermesses, agora que os “franceses” regressaram a França e os bailes pouco rendimento poderão dar. Lembramos ainda à Comissão a necessidade imperiosa de interessar nas nossas festas a radiodifusão de notícias através dos emissores de Vigo e da nossa televisão, de modo a que se torne efetiva uma propaganda que reputamos indispensável. Também achamos oportuno fazer a imediata ligação ao Grémio da Lavoura, quanto à possível organização do concurso pecuário e de uma exposição agrícola de instrumentos e ferramentas, pelas casas especializadas na sua construção. Por agora é o que se nos oferece dizer, mas não nos despedimos e reservamos para melhor oportunidade outras sugestões e soluções que nos parecem viáveis e contribuam para o bom êxito das festas.» // F.S.        

  

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1547, de 7/3/1965: «EXPORTAÇÃO DE VINHO. // «Transcrito de um jornal lemos uma correspondência de Aveiro que no encheu de regozijo e, de certo modo, nos alimenta de esperança quanto à solução, há tanto tempo esperada, da venda dos nossos vinhos de pasto. O caso, de há muito tempo preconizado, refere-se à exportação dos vinhos de consumo para o ultramar português em boas condições de acondicionamento e de preço, desonerado do custo do vasilhame e do respetivo transporte. A venda dos nossos vinhos nas províncias ultramarinas tem sido largamente tratada e ventilada por técnicos autorizados e estudiosos que, com justa razão e esclarecida visão do problema, consideram o mercado do ultramar como natural escoamento dos excessos de produção vinícola metropolitana. Bastará atender ao elevado número de portugueses que em sucessivas expedições se encontram naquelas distantes províncias em missão de soberania e em tenaz e heroica defesa daquilo que é nosso e nos cumpre conservar como sagrado património legado e conquistado com o sangue dos nossos maiores. Todos rapazes oriundos das regiões agrícolas, na sua maior parte, habituados a uma ração diária de vinho e que no saboroso e fortificante líquido encontram ânimo e consolação, tornando-os mais aptos a minorar as saudades da família e a enche-los de coragem e decisão para repelir as tentativas de infiltração de terroristas e de alguns maus portugueses a soldo da ambição estrangeira. Pois estes rapazes, portugueses de lei, só por si, seriam capazes de resolver a crise vinícola que nos assoberba, em matéria de escoamento e de preço acessível do excesso da nossa produção, com a vantagem de simultaneamente auxiliar os seus próprios parentes que da terra vivem e nela mourejam de sol a sol, compensando melhor o seu valiosíssimo contributo à economia doméstica e nacional. Sobre este aspeto do problema cremos que ninguém tem dúvidas e assim como a nação vive parcialmente dos invisíveis das diferenças cambiais dos salários dos nossos emigrantes, mais fartamente viveria com o aumento resultante do retorno dos valores em moeda e em produtos de exportação, dos equivalentes do vinho consumido e pela metrópole exportados. Temos como verdade aceite que a economia nacional e consequentemente o bem-estar e a propriedade dos familiares dos nossos soldados e dos nossos colonos, muito beneficiariam com a permuta dos géneros metropolitanos pelos géneros ultramarinos de qualquer espécie. Porém, por que não se tem agido nestes termos?! É que a exportação dos vinhos precisa de ser desonerada de certas despesas que encarecem, quando não tornam proibitivo, o produto no local do consumo. Por isso nos encheu de contentamento a notícia de que foi feito o primeiro carregamento de vinho a granel pelo porto de Aveiro, a nossa Veneza, para o nosso ultramar, em navios tanques, desta vez num italiano, no “LENEO”, que levou 543.000 litros (mil e oitenta e seis pipas) para Luanda, onde foram construídas e já existem instalações com capacidade bastante para o receber. E facto significativo: mercê das instalações que foram inauguradas na ilha da Mó do Meio, frente a São Jacinto, o carregamento fez-se no tempo recorde de 15 horas! Deve-se este importante melhoramento, de extraordinária projeção nacional, à Junta Autónoma do Porto de Aveiro, que tem em vista e espera exportar tanto para as nossas províncias ultramarinas como para o estrangeiro, dois milhões de litros (4.000 pipas) mensalmente. Parece que este acertado e oportuno empreendimento está em vias de grande desenvolvimento visto que há alguns pedidos de registo de licença para o estabelecimento de idênticas instalações de depósito e enchimento a granel junto dos cais de embarque convenientemente escolhidos. O escoamento dos nossos vinhos de pasto está condicionado apenas a instalações próprias nos locais de partida e de chegada, previamente estudados e escolhidos e de navios tanques para o transporte de vinhos, pois que os mercados - tanto nossos como internacionais - estão constituídos e preparados para receber toda a produção metropolitana, combatendo, e até evitando, o aviltamento de preços pagos aos produtores. Se economicamente há só que considerar o trinómio: produção, qualidade, mercado, por que não resolvemos o mais difícil – transporte e instalações portuárias? // F.S.

 

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         Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1548, de 14/3/1965: «LIXEIRA MUNICIPAL. // Já em tempos abordamos o problema da Câmara instalar urgentemente uma lixeira municipal em ordem a evitar que a população da vila continue a botar os despejos para locais inadequados, que causam nojo a quem por eles passa e constituem focos de infeção suscetíveis de prejudicar a saúde pública. Uma lixeira com capacidade suficiente para receber e tratar os lixos e despejos da vila, não só representaria uma obra de sanidade e de necessidade urbana como criaria uma receita municipal resultante da venda dos adubos nela – lixeira – curtidos, e que pagaria o custo dessa indispensável construção. A população melgacense utiliza os locais menos indicados e reputados impróprios para se desfazerem dos detritos e restos da sua faina doméstica ou de terras, lixos, varredoras, e coisas inúteis das construções e outras atividades. Assim, tudo lhes serve para vazadouro: as boeiras ou bocas dos passeios das calçadas, as tolas das águas de regadio, as canalizações das águas pluviais, os terrenos marginais dos muros de suporte da avenida, o regato a jusante da ponte do Rio do Porto, e até os recantos mais esconsos e esquinas dos arruamentos, não falando no terreno da malfadada e antiga escola Conde de Ferreira, hoje propriedade da CGDCP. Por toda a parte, montões de lixo, objetos inúteis e coisas nojentas, oferecem um espetáculo degradante que nos envergonha e produz náuseas a quem nos visita e a todos os que adquiriram hábitos de limpeza e de higiene. Isto vai de mal a pior e exige providências imediatas. Porém, o caso não se resolve com a proibição de efetuar despejos neste ou naquele local, torna-se preciso dar à população as indispensáveis facilidades de os remover para sítio e instalação determinada; e esse sítio e essa instalação só poderá fixar-se construindo uma lixeira municipal onde os despejos seriam obrigatoriamente efetuados. O que está a passar-se brada aos céus e as autoridades administrativas e de saúde têm obrigação de intervir enérgica e decisivamente. Nesta época do ano entram em período genésico toda a fauna de insetos transmissores das mais variadas e perigosas doenças, o que virá aumentar a miséria derivada da falta ou insuficiência de chuvas nas quadras próprias. Temos justificados receios de que após o surto de gripe que atacou a maior parte da população outros males tenhamos de combater, porventura de caráter epidémico, gerados nos monturos acumulados por toda a parte, cujos perigos não precisamos de exagerar. Em nome da saúde pública, da decência e do bom nome do nosso burgo aqui deixamos clamoroso brado de protesto e de aviso contra este deplorável estado de desleixo e de porcaria, pelo qual teremos de responsabilizar aqueles a quem compete oficialmente obviar e remediar os gravíssimos inconvenientes e perigos apontados. Diariamente assistimos ao abusivo costume de fazer do regato uma das lixeiras acidentais dos habitantes da parte baixa da vila, no qual cresce desmedidamente a montanha dos detritos ali despejados e que a reduzida corrente das águas não conseguiu e, já agora, não conseguirá remover dos baixios da ponte do Rio do Porto. A fiscalização das hidráulicas continuará cega e disposta a colaborar nesta enormidade vergonhosa e uso ilegal do curso do regato como lixeira?! Para o facto chamamos a atenção dos guarda-rios, aos quais o Estado confiou especial competência para impedir o inqualificável abuso de tornar o regato uma montureira nauseabunda e impeditiva do normal curso das respetivas águas. Quanto às outras abusivas lixeiras que por toda a parte se encontram na vila, em particular à das antigas escolas oficiais, à Câmara, autoridades policiais e sanitárias pertence providenciar. Ou não teremos um gesto de decência e de amor pela terra, que ponha termo a esta vergonha?» // F.S.                

 

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         Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1549, de 28/3/1965: «Foi a enterrar na passada quarta-feira, 24 do corrente, no cemitério de Campanhã, a saudosa Dona Maria do Nascimento da Silva Fernandes, professora oficial jubilada, de 75 anos de idade, mãe extremosa de Vítor e Carlos da Silva Fernandes, funcionários da Hidroelétrica do Cávado e chorada irmã do nosso Diretor, senhor Ernesto Ferreira da Silva. A falecida era muito apreciada pela sua extrema bondade e foi acompanhada à sua última morada, em longa fila de automóveis, pela sua família e inúmeras pessoas de sua convivência e amizade, constituindo o préstito uma triste manifestação de pesar. Aos seus filhos, irmãos e cunhadas, em especial ao nosso querido Diretor, apresentamos o nosso preito de sentida homenagem e fazemos votos para que a falecida descanse na paz do Senhor. Na sua residência foram recebidos muitos telegramas de condolências e profundo pesar pelo triste acontecimento.»   

 

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     Pode ler-se no Notícias de Melgaço n.º 1553, de 2/5/1965: «DIA DA MÃE. // NOTA: em virtude deste artigo não estar relacionado com os assuntos do concelho de Melgaço, não se publica aqui.

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1554, de 9/5/1965: «OBRAS MUNICIPAIS. // «Em execução do plano de fomento o nosso concelho foi dotado com valiosas comparticipações por parte do Estado, para a realização de obras públicas de certo relevo, em ordem a beneficiar a comodidade das populações rurais. Continua a progredir com notável regularidade a execução de empreendimentos de utilidade indiscutível à vida e utilidade do nosso povo e no esquema preambular é posto em evidência o problema das vias de ligação e de comunicação entre as freguesias rurais. Em conformidade com estudos e solicitações feitos pela nossa Câmara que, neste capítulo, muito se tem esforçado pela brevidade na execução de certas realizações tidas por inadiáveis e necessárias, o Governo já aprovou importantes dotações destinadas a estradas e caminhos municipais, e pôs à disposição do nosso município as verbas precisas para a construção imediata dos seguintes trabalhos que serão entregues aos melhores proponentes, com base na importância das respetivas licitações: a) construção da E. M. de Melgaço (E. N. – 30) a Alcobaça (E. N – 202-3) por Fiães (7.ª fase), sua pavimentação na extensão de mil metros e revestimento betuminoso na extensão de dois mil quatrocentos e quarenta metros, sendo a base de licitação de 361.335$00; b) construção do C. M. – 1140 da E. M. – 501 a Ervedal, por A-da-velha (1.ª fase), terraplanagem e obras de arte correntes na extensão 3.400 metros, sendo a base de licitação de 229.405$00; c) construção do C. M. entre a E. N. 202 (Pomares) e o lugar de Cousso (3.ª fase) e pavimentação na extensão de 2.100 metros, sendo a base de licitação de 272.280$00; d) arranjo e pavimentação do largo da capela em São Gregório, sendo a base de licitação de 33.000$00. // Para já é anunciado editalmente o concurso em carta fechada (uma para cada obra das acima indicadas), a entregar pelo empreiteiro ou empreiteiros até às 12 horas do dia 4 de Junho próximo, as quais serão abertas e lidas em sessão de 5 do mesmo mês e devidamente apreciadas, com reserva do direito de entrega pela Câmara Municipal. Se os empreiteiros aceitarem o concurso dentro das respetivas bases de licitação, e consequentemente arrematarem as obras anunciadas, dentro de um prazo relativamente curto teremos aquelas comunicações em situação de bem servirem os povos beneficiados. Os melhoramentos respeitantes às obras em referência não ficam por ali pois que, por outro lado, a Hidroelétrica do Coura, concessionária da distribuição de energia elétrica ao nosso concelho, já remeteu à Direção Geral dos Serviços Elétricos os projetos de eletrificação das freguesias de Penso e Alvaredo, tendo ainda em vias de conclusão o projeto da eletrificação da freguesia de Paderne. Neste capítulo da eletrificação a Câmara não se tem descuidado e, em consequência da realização deste importante melhoramento, pediu com a maior urgência o levantamento dos projetos de eletrificação das freguesias de Cristóval e Castro Laboreiro, obras estas a serem comparticipadas e realizadas conjuntamente, o que constituirá um notável empreendimento em ordem ao engrandecimento destas freguesias e das que ficam situadas ao longo do percurso do traçado da respetiva linha de transporte. Parece-nos, por isto, que as freguesias interessadas devem proceder, desde já, ao relacionamento dos necessários donativos para oportunamente custearem a distribuição em baixa tensão aos fogos nas mesmas existentes que pretendam a utilização da energia elétrica em iluminação e força motriz. Finalmente, está a ser tratado com a maior insistência o pedido de comparticipação destinado à construção da E. M. de São Paio, indispensável à fácil ligação e acesso desta rica e populosa freguesia. Registamos com o maior prazer estes melhoramentos cuja importância não precisamos de encarecer e muito desejaríamos que constituíssem o início de outra obras inadiáveis por nós apontadas e reclamadas neste semanário, cuja realização traduz o justo anseio e pretensão de todos os melgacenses. Não regatearemos louvores à Câmara pelo seu esforçado labor quanto à insistente e firme reclamação de patrocínio das instâncias competentes para a concretização das aspirações dos munícipes seus administrados, lembrando novamente a construção dos edifícios da agência da CGDCP e a casa dos magistrados. É preciso teimar e dispor de todas as influências para vencer.» // F.S.    

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1555, de 23/5/1965: «EXPLORAÇÃO FERROVIÁRIA DA LINHA DO ALTO MINHO. // NOTA: em virtude de ao concelho de Melgaço não ter chegado o comboio, apesar das várias tentativas, acho que este artigo não se enquadraria neste livro.

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1556, de 30/5/1965: «CULTO DA AMIZADE. // NOTA: - tendo em conta que este artigo, escrito por Ferreira da Silva, apesar da sua qualidade, se desvia dos temas relacionados com o concelho de Melgaço não o incluo neste livro.

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1557, de 6/6/1965: «FESTAS DE MELGAÇO. // «Durante os últimos seis dias de Maio findo Melgaço viveu quase unicamente na euforia das festividades em honra da padroeira que, neste ano, decorreram com imponência e brilho excecional. As cerimónias religiosas dentro da igreja matriz, lindamente decorada, com altares alegremente floridos, foram celebradas com respeitoso fervor e enriquecidas de inspirados sermões pregados pelo reverendo abade de Vila Praia de Âncora, a pitoresca estância balnear dos melgacenses; fora do templo as vistosas procissões da condução e regresso de Nossa Senhora da Orada, da sua românica capelinha até à matriz paroquial e depois pelas ruas da Vila, aquelas com miríades de luzes e impressionante acompanhamento de devotos e esta com variado e rico figurado, luzidia e impecável organização e numerosas representações das freguesias e irmandades com os respetivos estandartes, deram às festas um caráter de profunda religiosidade e concentração espiritual e uma nota polícroma de ordeira e majestosa disposição que consideramos magnífica e indescritível. Na parte tipicamente profana, o bem elaborado programa organizado pela Comissão das Festas desenvolveu-se em todos os números com inteira e absoluta fidelidade e esplendor e causou a admiração e os agradecimentos dos assistentes. A abrir o programa, sob o patrocínio do Grémio da Lavoura e das autoridades pecuárias distritais, realizou-se o concurso pecuário que se revelou excecionalmente soberbo em quantidade e qualidade de gado concorrente, nas diversas classes e raças, os quais depois de criteriosamente classificados foram distribuídos aos melhores espécimes valiosos prémios em dinheiro, taças, medalhões e sacos de adubo químico. Noutro lugar se indicam o valor e a qualidade desses prémios aos proprietários de gado apresentado e pena foi que os donos ou proprietários das terras altas, da parte montanhosa do concelho, não houvessem inscrito os seus exemplares. Consideramos de especial relevo a cerimónia da inauguração oficial e benzedura do belo edifício das escolas da Vila, o melhor do distrito, com a presença do Excelentíssimo Governador Civil, Presidente da Câmara, Diretor Escolar, autoridades judiciais e eclesiásticas, professorado, alunos e pessoas de representação concelhia, que deram ao ato um significado invulgar de alegre entusiasmo e de reconhecido agradecimento a quantos pugnaram pela construção do elegante e sumptuoso templo da instrução, velha e justíssima aspiração da população e dos corpos docentes e discentes do nosso formoso burgo. Na sessão solene foi dada a palavra ao distinto professor Ascensão Afonso que historiou eloquente e pormenorizadamente as dificuldades e o penoso caminho percorrido para se atingir a meta desta admirável e bendita realização, exaltando as boas vontades oficiais que à mesma ficarão perduravelmente ligadas. À notável peça oratória do professor Afonso seguiram-se os senhores Presidente da Câmara e Diretor Escolar que com grande entusiasmo e vibração salientaram o interesse e o valor da obra inaugurada, que atestará aos vindouros o merecimento de todos quantos afanosamente congregaram e despenderam esforços e influências em ordem a verem concretizada esta ardente aspiração concelhia. Encerrou a sessão o Excelentíssimo Governador Civil, que se mostrou inteiramente identificado com as dificuldades removidas, lembrando a atuação do falecido saudoso Dr. Júlio Esteves, do professor Manuel Rodrigues e do Governo ao qual, em última análise, se deve a transferência das escolas para o airoso edifício e libertação dos alunos e professores das infectas pocilgas onde o ensino foi ministrado durante longos anos. As decorações e iluminação das ruas podem classificar-se perfeitas e revelaram bom gosto e profusão de luz, especialmente na artéria central que da matriz vai à Calçada, constituindo um túnel feericamente iluminado e no termo do qual se distinguia o curioso reclame luminoso dos Vinhos do Porto Barros que aqui gozam da melhor reputação. O fogo-de-artifício desenhou no espaço um céu artificial de estrelas cadentes de variegadas cores e lindo efeito, concluindo por uma cascata luminosa na torre de menagem do nosso querido castelo de onde sobressaía em letras verdes a alegórica “VIVA MELGAÇO”. Em todos os dias festivos foram executados os concertos musicais pelas afamadas bandas da “Fábrica da Boa Nova”, de Vilela do Douro, de “Gueifães” da Maia, dos Bombeiros Voluntários de Arcos de Valdevez e da Polícia de Segurança Pública do Porto, que tocaram as melhores peças do seu vasto reportório e foram pelos apreciadores largamente aplaudidas. Curioso e de surpreendente garridice e descantes populares o festival folclórico, com a exibição dos ranchos das Lavradeiras de Oleiros – Ponte da Barca, de Cristelo Covo – Valença e de Educacion y Descanso, de Ourense, em autêntica confraternização luso-galaica, plenos de movimento e de alegres cantares, que atraíram uma mole imensa de povo assistente e lhes tributou os maiores aplausos. Também teve farta concorrência o baile ao ar livre, frente ao “Domus Municipalis”, com a orquestra “Montes”, de Pontevedra, que se prolongou até à madrugada com grande animação e numerosos pares dançantes. A Comissão das Festas está de parabéns, agiu com inteligência e não se poupou a sacrifícios para que tudo se realizasse dentro da melhor ordem e inteira obediência à execução dos números programados. Não há dúvida que se compõem de um grupo de esforçados e dinâmicos elementos que bem mereceu a sua recondução para organizar as festas do próximo ano e a gratidão de todos os melgacenses. Ousamos sugerir que o feriado municipal poderia ser transferido para um sábado a escolher dos meses de Junho ou Julho, no qual as festas profanas seriam realizadas, mantendo-se a celebração da festa religiosa na quinta-feira da Ascensão. Concluímos estas breves notas com um abraço amigo de felicitações a todos os membros da Comissão que levaram a efeito, com o maior brilhantismo e imponência as festas deste ano.» // F.S.

  


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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1558, de 13/6/1965: «É PRECISO TEIMAR. // Consta-nos que dentro em breve vai dar-se início à abertura de poços na margem do rio Minho destinados à captação de águas para o futuro abastecimento em quantidade da preciosa linfa à nossa vila e seu termo. Não pretendemos criticar a captação das águas do rio Minho e sua consequente elevação mecânica em ordem a suprir definitivamente as deficiências do abastecimento que se vem verificando por falta de caudal das nascentes e respetivo armazenamento, que tanto prejudicam os seus utentes. É assunto que foi tratado na última visita de Sua Excelência o Ministro das Obras Públicas a este concelho, como solução terminante e cabal do problema do fornecimento de água de que urgentemente carecemos. Porém, se a memória não nos atraiçoa, essa solução definitiva teria a sua oportunidade depois da tentativa de novas explorações das atuais fontes tendentes ao aumento dos seus caudais. É que o problema da captação e elevação das águas do rio exige trabalhos e obras caras e demoradas que não se compadecem com a necessidade de melhorar imediatamente a situação presente. Assim, arriscamo-nos a transferir para as calendas gregas o abastecimento das águas potáveis ao nosso burgo e seus limites, mantendo durante longos anos as deficiências com que nos debatemos. A simples abertura de poços nada resolve, uma vez que as obras complementares da estação elevatória, com o respetivo motor de sucção, linha elétrica, condutas, depósitos, etc., representam obras vultuosas cujo custo está fora, por largo espaço de tempo, das possibilidades financeiras do nosso município, que nelas terá de comparticipar. Parece que para já melhor seria iniciar-se a prospeção das jazidas das atuais fontes de abastecimento e a exploração de outras suas vizinhas certo como é que a encosta onde estão situadas oferecem possibilidades visíveis de exploração de caudais de magnífica água em pureza, sabor, fraca densidade, qualidade e quantidade. Isto sim, estaria ao alcance das disponibilidades municipais e de harmonia com a solução provisória também considerada pelo senhor engenheiro Arantes de Oliveira. Acresce que a exploração e abastecimento de água está intimamente ligada ao problema do saneamento que continua a ser o problema número um da nossa vila, ameaçada de um surto de caráter epidémico da maior gravidade para a saúde da população. Basta considerar a situação criada pela escassez de chuvas no ano em curso, originária dos mefíticos odores que já se vêm notando e que na quadra da estiagem se farão sentir com maior intensidade. A ligação ilegalíssima de fossas, cortes e cortelhos aos canos condutores das águas pluviais e acumulação de toda a espécie de detritos ao longo dessas ligações, neles depositados por falta de águas que os arrastem, transformaram os arruamentos da vila em fétidos focos de infeção e de nauseabundos odores que irritam a pituitária, causam nojo e provocam vómitos a quem passa. Bem sabemos e temos reclamado muitas vezes que tanto a Câmara como a Subdelegação de Saúde deveriam ser mais rigorosas e exigir energicamente a destruição das ligações sanitárias e das excrescências líquidas das cortes e cortelhos aos canos de condução das águas pluviais bem como do inconsciente e perigoso despejo de detritos nas tolas e bueiros das calçadas. Não temos sido ouvidos e não se tem prestado a devida atenção aos abusos dos habitantes e ao seu hábito nojento de transformar essas canalizações em depósito do lixo, restos de toda a espécie de e resíduos inúteis. Quem por necessidade quotidiana tem de percorrer a rua que da Praça da República se prolonga até ao regato do Rio do Porto, no início, no meio e no fim desta artéria, uma das melhores em pavimentação e de grande movimento não o poderá fazer sem tamponar o nariz com um lenço que o defenda do pestilencial fedor e lhes evite náuseas e vómitos. Desta sorte, impõe-se uma ação firme e enérgica por parte das autoridades administrativas em ordem a punir quem estiver fora da lei e da decência e a vigiar o seu comportamento quanto às suas obrigações legais e deveres relativos à defesa da saúde do próximo. A questão evidentemente está ligada ao saneamento e, por isso, o consideramos o problema mais urgente e de maior atualidade da vila. Há que enfrentar com decisão este problema a par do abastecimento da água em quantidade. São dois problemas ligados intimamente que urge enfrentar e que reputamos incompatíveis com a preferência dada à abertura dos poços na margem do rio, independentemente do projeto e financiamento das obras complementares cuja execução a largo prazo manterá inerte o atual estado de coisas com perigo eminente da nossa saúde.» // F.S.                    

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1559, de 20/6/1965, um artigo algo estranho, por si escrito, ao qual deu o título de DELITOS MORAIS: «No conturbado mundo em que vivemos é com a maior tristeza que notamos certos delitos morais, derivados (!) de indivíduos cuja deformação educacional faz sobressair os ruins instintos congénitos ou adquiridos em uma convivência nociva, com total alheamento dos sãos princípios em que deve fundamentar-se uma sociedade razoavelmente equilibrada. É difícil classificar e ordenar os vícios de consciência e os desvios da inteligência dos espécimes transviados da reta linha de conduta que constitui o fundamento e a base da organização social e das relações entre os seus elementos gregários. Na deambulação que nos propomos fazer através do que consideramos delitos morais, temos em vista a definição das regras gerais e dos preceitos estabelecidos pela experiência da vida coletiva, a partir da associação tribal e sua adaptação e afeiçoamento às sociedades bem constituídas em que a humanidade se reúne, auxilia, fraterniza, luta e trabalha com devoção e lealdade, sem soberba e sem atropelamento dos sentimentos e da estabilidade da ordem comunal. Ao enunciarmos algumas regras gerais, é evidente que repelimos a ideia de visar, intencionalmente, quem quer que possa ajustar a crítica às suas pessoas e, como se acentua nas representações da sétima arte, qualquer semelhança ou afinidade dos agentes de possíveis delitos deverá ser considerada mera coincidência. Portanto, ninguém deverá sentir-se individualmente atingido quando a carapuça lhe sirva ou se adapte perfeitamente à sua cabeça. Neste caso desejamos que a lição lhes aproveite e tenha a virtude de modificar o seu modo de ser ou de proceder, em ordem a ascender à estima, ao apreço, à consideração e à admiração dos seus concidadãos. Os nossos reparos e referências – de ordem genérica – são para todos e para ninguém. Para regular as relações sociais e estabelecer a harmonia e a paz entre os homens, as comunidades, por via dos seus órgãos representativos, fixaram nas leis um conjunto de preceitos morais e de defesa coletiva, concretizados em direitos e obrigações aos quais, obrigatoriamente, devemos respeito e acatamento. A execução dessas leis, baseadas na moral e defesa social, cabe aos representantes dos organismos para tal efeito criados, que incarnam os poderes do Estado e, em consequência, impõem a ordem, o respeito e a obediência da liberdade de crenças, da segurança e tranquilidade pública, dos desvios abusivos e prevaricações, da violência, resistência, violação e malfeitorias, da verdade, da decência, das convenções, dos atentados criminosos contra as pessoas e contra a propriedade, da manutenção da família dentro da ética de um ambiente de bons costumes, de honestidade e de moralidade. Nesta ligeira referência a alguns dos aspetos mais flagrantes enquadrados na vida social, não apresentamos muitos outros, de importância real, que não caberiam nos limites escassos e até ficariam deslocados no conteúdo de um pequeno artigo de jornal. O seu estudo e desenvolvimento tem sido objeto de longo e paciente trabalho dos tratadistas da especialidade, e enchem muitos e volumosos livros. O que enunciamos elementarmente na generalidade, basta para considerar que o homem não deve ser o lobo do homem e que, em matéria de família, a casa dos pais deve ser a escola dos filhos. Na realidade, os homens seriam felizes se cumprissem os seus deveres morais, concretizados nas leis e se, pela bondade, piedade, clemência, probidade, fraternidade, isenção e espiritualidade, contribuíssem, desinteressadamente, para o bem comum. As manifestações da soberba, da vaidade, da inveja, da ambição e do egocentrismo, conduzem aos erros criminosos que infelicitam as famílias e envenenam o convívio e a coexistência dos seus iguais. Não reconhecemos no homem um ente superior nas escalas zoológica, social e moral, em relação à sua companheira natural. Que interesse pode ter uma vida em comum se, da parte do mais forte, não houver o sentimento de amizade, de tolerância e de recíproco respeito a iluminar o lar (…) // E que exemplo é dado aos filhos, carne da nossa carne, se a sua conduta truculenta e intolerante impede a tranquilidade e a paz conjugal? Porque será que os homens destroem, por suas próprias mãos e atos, a coexistência pacífica dos seus irmãos e a felicidade do seu lar? E porque não haverão de resolver por bem os seus dissídios, respeitar as suas pessoas e fazenda e enriquecer o património em vez de o esbanjar? Quem não ama a paz; quem renega as obrigações correspondentes aos direitos e deveres alheios; quem se endeusa e despreza a fraternidade, tornando-se delator, egoísta, mau e intolerante, ou caminha para a casa de Orates (*), não merece, nem é digno de viver em sociedade.» // Ferreira da Silva. /// (*) Significa casa desgovernada, etc. 

     

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1560, de 4/7/1965. «ESTÂNCIA TERMAL. // «Com a abertura da estância termal do Peso, na qual brotam e abundante manancial maravilhosas águas minero medicinais mero-salinas bicarbonatadas cálcicas e mistas - únicas no nosso país e sem rivais no estrangeiro no tratamento da diabetes, a afluência de doentes começa a fazer-se sentir em número e em qualidade. Os hotéis recebem diariamente, por via postal, numerosos pedidos de marcação de quartos para os meses de Julho e Agosto, os de maior concorrência de aquistas e o problema do alojamento, agravado pelo encerramento do grande hotel da Quinta do Peso, oferece certas dificuldades e causa graves prejuízos à empresa concessionária e ao nosso concelho, no que respeita a inscrições e ao fornecimento e consumo de géneros alimentícios e outros de reconhecido valor económico. A questão hoteleira precisa de ser revista com atenção e inteligência. A modernização das atuais instalações, tornando-as habitáveis, asseadas e cómodas, em ordem a oferecer aos frequentadores de estância um mínimo de conforto e de comodidade constitui um capítulo a rever e como o velho haverá de ser sempre velho, impõe-se a construção de uma nova unidade, de linhas modernas, em local criteriosamente escolhido, bem arejado, com capacidade suficiente e acomodações de várias categorias, atraentes e satisfatórias, não olvidando as diversões que proporcionem aos hóspedes, e especialmente às suas famílias, um período agradável de tratamento, a par de um serviço bem estudado e perfeito que se imponha e recomende àqueles que aqui vêm procurar o alívio ou a cura dos seus males. Não é razoável, nem comercial, manter-se o estado de incúria e de desconforto atual, forçosamente aceite pelos fiéis frequentadores da estância, em anos sucessivos de repousante tratamento e consequentes benefícios das virtudes terapêuticas das nossas águas na regeneração das suas funções orgânicas. Os que procuram a nossa estância vêm animados da crença na ação curativa da milagrosa linfa e do bem ganho repouso ao fim de um ano de afanoso labor, mas não abdicam do conforto e asseio a que estão habituados e de passatempos que os ajudem a quebrar a monotonia do quase isolamento que o uso das águas lhes impõem. Temos incontestavelmente e em abundante caudal as mais ricas águas bicarbonatadas cálcicas portuguesas, mas não devemos confiar unicamente às suas virtudes terapêuticas no tratamento da diabetes, artritismo, doenças do aparelho digestivo, génito urinário e até do sistema nervoso, a exclusividade da propaganda e do chamariz dos seus numerosos crentes que fielmente as procuram, a despeito da carência de comodidades basilares. Além do moderno hotel a que já aludimos, a existência de uma piscina e da organização metódica de excursões aos monumentos e a tudo quanto existe em Melgaço digno de ver-se, no intervalo entre o uso das águas e as refeições, inclusive o estudo dos costumes, folclore e vistas panorâmicas. Presentemente, devido à carolice e autêntica devoção do atual fiscal, nosso conterrâneo Martins Lourenço, e boa vontade e generosa compreensão da administração da empresa concessionária, o lindo parque que circunda as nascentes oferece sombras magníficas e calmantes, belos exemplares de arvoredo de porte alto, o colorido de plantas de verdura refrescante de policromo florido, arruamentos e avenidas bem delineadas com as suas típicas pontes sobre os regatos, tudo bem ordenado, limpo, regado e varrido, constitui motivo de atração e de bem-estar nos curtos passeios dos usuários das águas entre as nascentes e os hotéis. De realçar é ainda a urbanidade e diligência do pessoal das “buvettes” (fontes) e do balneário que, disciplinarmente, com a maior rapidez e delicadeza a todos atende e serve com impecável compreensão dos seus deveres. Neste capítulo não receamos confrontos das outras estâncias que conhecemos ou visitamos e por isso não lhe regateamos os nossos louvores. A nossa estância termal, com mais alguns esforços e carinhosa defesa, pode ser um dos elementos de maior projeção de Melgaço e um procurado centro de turismo.» // F.S.   

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1561, de 11/7/1965. «INCONSCIÊNCIA PERIGOSA. // «Já em tempos abordamos nas colunas deste semanário a questão da imperiosa necessidade de se organizar, nesta vila, o corpo ativo dos soldados da paz. Foi construído a expensas de alguns beneméritos o edifício destinado ao quartel dos bombeiros voluntários e nele continuam arrecadados os restos de um inadequado e mísero material de incêndios que o tempo e o desleixo coletivo condenaram à sucata.

      O esforço que então se despendeu resultou em pura perda e tudo o que resta constitui um triste espólio sem préstimo e sem nenhuma utilidade. Em razão desta lamentável incúria e criminoso abandono, tem-se perdido os subsídios distribuídos pela inspeção dos serviços de incêndios, custeados pelo produto das taxas que incidem sobre os seguros contra fogo, pagas anualmente pelos proprietários dos prédios segurados. Como é do conhecimento geral, as verbas distribuídas às corporações dos bombeiros voluntários destinam-se à aquisição do material inerente ao serviço de incêndios: motobombas, manga, absor (…), agulhetas, escadas de ganchos e de lanços, (…), carros de transporte e ainda machadas, (…), capacetes, etc., dos respetivos alistados. Destinadas à beneficência a cargo da corporação, ainda são atribuídas verbas substanciais para a compra de ambulâncias e outras de maior ou menor necessidade ao fim beneficente imposto pela segurança e socorro das populações. É evidente que os subsídios de que se trata são distribuídos única e exclusivamente às associações humanitárias dos bombeiros quando mantenham um corpo ativo devidamente instruído e classificado nas escolas do batalhão de sapadores bombeiros, em ordem a constituir uma formação combatente de ataque e de segurança nos sinistros que infelizmente se verificam com frequência e pavorosa realidade. Não há dúvida de que as inspeções da Zona Norte e Sul distribuem o material ou as verbas para a sua compra, tão-somente quando se tenham constituído corpos ativos de pessoal especialista de socorro e de ataque, dos chamados soldados da paz, alistados, instruídos e comandados, como se tem demonstrado ser indispensável a um serviço eficiente. Enquanto não se organizar a corporação, o edifício construído para a sua sede está condenado à ruína por falta de conservação e de ocupantes e continuará a servir, impropriamente, a bailaricos e outros fins diversos daquele para que foi criado, com clara adulteração dos bons propósitos daqueles que contribuíram para a sua construção. Atente-se no que se passou há dias num incêndio deflagrado num prédio da freguesia de Chaviães que ficou totalmente destruído e onde foram consumidos os haveres do seu proprietário e família que, por acaso da sorte, não morreram devorados pelas chamas. De nada valeu o solícito socorro dos bombeiros voluntários de Monção que, como era de esperar, não chegaram a tempo de prestar qualquer auxílio ao prédio e à família sinistrada. Imagine-se o que seria um incêndio dentro da nossa Vila, cujos prédios, de construção antiquada e contíguos, seriam pasto fácil das chamas sem possibilidade de socorro eficiente por falta de bombeiros e de material de extinção; quando chegassem os socorros monçanenses e valencianos todo o nosso aglomerado não passaria de um montão fumegante, sem salvados e de rescaldo praticamente inútil. Não se diga que a organização de um corpo ativo de bombeiros não tem viabilidade na nossa Vila em razão do êxodo da população masculina de Melgaço. É preciso criar a ética dos bombeiros na nossa mocidade, em defesa dos nossos haveres e no seu próprio interesse. A educação humanitária dos nossos rapazes, numa (…) útil e meritória, afastá-los-ia dos vícios e das tentações reprováveis e da frequência dos estabelecimentos onde gastam os seus salários e passam as noites em orgias, dissipações do seu dinheiro e da sua saúde, sem proveito para eles nem para ninguém. Renovamos este apelo às boas energias dos melgacenses, não certos de que não se manterão inertes e se lembrem de Santa Bárbara apenas quando troveja.» // F.S. // Continua...

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