quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

FERREIRA DA SILVA (...)  



// CONTINUAÇÃO DE 3/09/2023.


     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1524, de 23/8/1964: «EMPRÉSTIMO MUNICIPAL. // Por despacho recente de Sua Excelência o Ministro das Finanças, foi autorizada a Câmara Municipal deste concelho a contratar com a CGDCP o empréstimo de quatrocentos e cinquenta contos de réis destinado ao abastecimento de águas e rede de esgotos da nossa Vila. Finalmente a nossa Câmara terá à sua disposição uma verba relativamente volumosa para iniciar as obras daqueles importantes e urgentes melhoramentos, pelos quais nos vimos batendo com denodo e com fé e que consideramos fundamentais à saúde da população. O montante do empréstimo concedido, aumentado da verba de trezentos contos de réis, oferecida por S. Ex.ª o Ministro das Obras Públicas na sua última visita ao nosso concelho, elevado ao dobro pela comparticipação oficial, atingirá o valor de mil e quinhentos contos, verba que permitirá ordenar os trabalhos e a execução das obras em grande extensão. O resto virá por acréscimo do produto de dádivas e comparticipações sucessivas na medida em que estes grandes melhoramentos se concretizem nos seus elementos essenciais de execução. Não há que recear quanto à falta de verba para o acabamento total desta obra importantíssima, visto que outras autarquias se viram em idênticos embaraços e que saibamos nenhuma delas deixou de as completar. Torna-se preciso, isso sim, iniciar imediatamente as obras e dar-lhe andamento consecutivo até ao esgotamento total da verba arrecadada, certos de que o empreendimento não ficará a meio e acabará por se concretizar objetivamente em toda a sua conceção e projeto. Não é de mais relembrar o que tantas vezes temos dito e de novo insistimos quanto à atualização do estudo e projeto elaborado em tempos e existente no arquivo municipal relativo ao saneamento da Vila. É natural ou mais propriamente, é quase certo, que o estudo e projeto referidos tenham de sofrer alterações, mais ou menos profundas, quanto à conceção, localização, custo, programa de trabalhos e prazo de realização. Por isto mesmo nós lembramos e voltamos a insistir, pela necessidade de chamar os técnicos a fim de que, novamente, se pronunciem sobre os trabalhos de gabinete e externos correspondente adaptação aos locais de execução. Temos de considerar que na rua do Rio do Porto já existe uma conduta central de despejo a qual terá de ser prolongada até às câmaras de decantação e acética, a construir em sítio apropriado do regato; os ramais individuais das casas de habitação e de uma forma geral dos prédios urbanos da citada rua terão de obedecer à situação da conduta existente e à circunstância desta vir a ser um nó do coletor dos despejos das moradias implantado desde a estrada e do bairro do Rio do Porto. O nosso propósito neste caso, como no de tantos outros, é incitar as autoridades responsáveis a andarem depressa, a abandonar o imobilismo que tanto tem prejudicado a nossa terra e os seus interesses, que lhes cumpre respeitar e defender. Não devemos ficar à espera de milagres; há que agir e agir, enérgica e diligentemente, em ordem a resolver os pequenos problemas iniciais dos melhoramentos a realizar: elaboração técnica de estudos e projetos, sua aprovação pelas estações (deve ser repartições) oficiais competentes, sua discussão e aclaração quanto à localização e programa de trabalhos, prazos de execução, resistência, qualidade e caraterísticas dos materiais a empregar, mapa das redes, locais de visita e ligação, etc. Há um sem número de estudos prévios a fazer antes do início dos trabalhos e, por agora, é a eles que nos queremos referir e pretendemos ver efetuados. Sem a sua resolução não é possível começar as obras, e tudo quanto represente retardamento refletir-se-á na execução, acabamento e concretização do saneamento e consequentemente na eliminação dos asquerosos cheiros e emanações pestilentas das ruas da Vila.» // F.S. 

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1525, de 6/9/1964: «CORTEJO ETNOGRÁFICO. // Enquadrado na castiça e tradicional festa da Senhora da Agonia realizou-se na linda princesa do Lima, capital do nosso distrito, o cortejo etnográfico do povo das bacias hidrográficas dos rios Lima e Minho. As festas de Viana sempre se impuseram pela grandiosidade, afluência de forasteiros e caráter estritamente minhoto, e no seu enquadramento destacam-se a tourada (!), representação etnográfica e festa do traje, que constituem grandes atrativos e brilhantes números do respetivo programa. Neste ano alguns dos números do seu cartaz decorreram com o habitual brilhantismo, especialmente a Festa do Traje, espetáculo sensacional e único, só possível em Viana, e do fogo-de-artifício, variado, feérico e numeroso, a projetar-se nas águas remansosas do rio Lima. O certame da Festa do Traje realizado a meio da tarde com extraordinária concorrência de (forasteiros), nacionais e estrangeiros, recebeu uma grande ovação de apreço e justificada admiração, à medida que as freguesias desfilavam chamadas por ordem alfabética de nomes. Bem merecidos foram os aplausos da assistência perante a riqueza, policromia e colorido do traje à (…), com as modalidades introduzidas nas diferentes aldeias em obediência aos atos em que são representados – mordomas, noivas e trabalhos rurais. Este número das festas, possivelmente o mais belo e sumptuoso, é sempre um acontecimento atraente e causador de admiração geral, tanto quanto ao traje como quanto à exposição de objetos de ouro: cordões, medalhas e outras joias de valor real, ostentadas galhardamente pelas lindas moçoilas em seus bustos constelados. A serenata e fogo-de-artifício no rio Lima constituiu um número de grande atração pelo seu ineditismo e pela profusão, beleza e artifício das suas peças, colorido, e efeitos de luz sobretudo, nos numerosos bouquets queimados e da apoteose final. Não diremos o mesmo quanto ao cortejo etnográfico que continua a merecer os nossos reparos quanto à abertura carnavalesca dos gigantones, cabeçudos, Zés Pereiras, e gaitas-de-foles, mais próprios de números das caraterísticas folionas do carnaval do que de uma representação séria e curiosa das atividades do povo do distrito. Na verdade, a abertura do cortejo provoca a mais desagradável impressão e reduz o interesse que deveria merecer, justamente, a vasta e admirável representação etnográfica da linda e afanosa região de entre Lima e Minho. Depois de um carro da cidade, representativo de uma nau dos velhos e gloriosos navegadores (com canhões indevidamente colocados abaixo da linha de flutuação) seguiram-se vários carros representativos das atividades rurais das freguesias, servidos por figurantes que bastas vezes usaram de propósitos e atitudes apalhaçadas que reputamos menos próprias da austeridade de um cortejo etnográfico mas que, no fim e ao cabo, estiveram em perfeita correspondência e ao nível da censurável abertura carnavalesca dos gigantones e cabeçudos. Após os carros, entremeados por bandas de música, seguiam representações de costumes e trajes das freguesias representadas, oferecendo um motivo curioso e dando uma nota muito interessante e agradável. Desejaríamos que os nossos ligeiros comentários chegassem aos ouvidos dos promotores de futuros cortejos etnográficos a fim de eliminar tudo quanto nele constitui ramboiada e folia carnavalesca e de substituí-las por representações sérias e dignas de serem mostradas e admiradas pela assistência.» // F.S.      

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1526, de 13/9/1964: «PERIGO DE INCÊNDIO. // Sob o título Soldados da Paz dissemos em artigo de fundo no número 1488 deste semanário, de 20 de Outubro, do ano findo: “O que neste concelho está a passar-se em matéria de prevenção e extinção de perigo de incêndio revela uma imprevidência criminosa, da qual só daremos conta quando tivermos de enfrentar um sinistro sério e extenso. Será, então, tarde; não conseguiremos debelar o inevitável”. O problema da prevenção e extinção de incêndios continua na ordem do dia a apresentar-se como uma ameaça terrível sobre as propriedades urbanas melgacenses, completamente expostas ao perigo de fogo, sem possibilidades de auxílio e de meios técnicos quanto à sua extinção. Neste capítulo das necessidades preventivas de Melgaço, estamos em piores condições do que as existentes há meio século pois que, naquele recuado período, não havia meios técnicos mas não faltava dedicação e heroísmo em caso de sinistro ou de incêndio declarado. Os tempos eram outros, os prédios primavam pela construção em sólidas paredes de alvenaria exterior e interiormente, e os perigos de incêndio restringiam-se ao chão das lareiras e de simples combustão na fuligem das chaminés. Os melgacenses mais enraizados ao seu cortiço, e não contaminados pela corrente emigratória, acorriam prontamente, à compita, para debelar os sinistros, num admirável espírito de compreensão, de solidariedade e de humanidade. Presentemente os utensílios domésticos de transporte de água não constituem meios eficientes para debelar e extinguir fogos; os prédios estão mais sujeitos em virtude das matérias comburentes das tintas e plásticos, dos perigos de curtos-circuitos e outros, e do êxodo resultante da emigração, que arrastou para longe a população ativa e válida ou criou hábitos egoístas e sedentários, em que a solidariedade e a humanidade parecem não ter lugar. Temos um edifício que, ao que se diz, é a sede social dos BVM mas que na realidade está adaptado à realização de bailaricos, exposições e a garagem de particulares. Bombeiros voluntários de Melgaço?! // Onde estão os bombeiros?!

 

     Porventura alguém trata ou já tratou da organização de um corpo ativo que reacenda a chama da ética do bombeiro, criando-lhe o espírito de sacrifício, de abnegação e humanidade? Não! Em Melgaço não há bombeiros e, como não há bombeiros, é evidente que não há material de ataque a incêndios; não há escadas, não há manga, não há bombas, não há… nada! É, ou não, isto, verdade?! Imaginemos um incêndio na vila, de certo vulto, em prédio apalaçado ou de andar nobre. Na primeira fase do incêndio, e na melhor das hipóteses, assistiremos à gritaria barulhenta de algumas mulheres de boa vontade que, a par de impressionantes gritos de socorro, se prestam a ser aguadeiras, transportando diligentemente a água em cântaros e em baldes de uso doméstico. Quem despeja os baldes nos andares superiores sem meios de acesso? O fogo continua a destruir edifícios e recheios até que alguém se lembre de pedir, telefonicamente, auxílio aos soldados da paz da vizinha vila de Monção. Os monçanenses acorrem com o seu material e quando chegam ficam paralisados perante as ruínas fumegantes que um percurso de 24 quilómetros, demoras e paliativos não puderam evitar! Limitam-se a auxiliar a remoção do triste rescaldo da destruição total causada pelo sinistro que um pequeno corpo de bombeiros local poderia evitar. Ainda há dias no lugar dos Bouços, da freguesia de Prado, ardeu totalmente um edifício pertencente ao guarda-rios Manuel Augusto Gonçalves, cujo incêndio foi provocado por uma caseira ocupada na imprudente desinfeção de um poleiro de galináceos por meio do fogo! Salvo o gado, não se recuperou mais nada! Arderam todos os cereais, vinho e outros produtos da colheita. O edifício era de andar e a água não chegou à parte superior. Entretanto, da muralha da avenida que circunda a vila, grande multidão assistiu, curiosa, ao desenvolvimento do fogo! Lembra-nos o episódio do incêndio da velha Roma, provocado propositadamente pelos escravos do feroz tirano que passou à história com o nome de Nero, para que este sanguinário imperador (matricida?), assassino cruel, e ao que consta marido de todas as mulheres e mulher de todos os maridos, pudesse deleitar-se com o espetáculo inédito, e imponente, de ver uma cidade transformada em braseiro e os seus habitantes em fuga louca com medo de serem calcinados.» // F.S.        

        

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1527, de 20/9/1964: «ESTRADAS SECUNDÁRIAS. // A par das estradas nacionais, cuja retificação e conservação estão a cargo da Junta Autónoma das Estradas ou de (…) de menor importância e classificação, sob a imediata fiscalização dos mesmos Serviços Públicos, muitas outras estradas de menor categoria, ou secundárias, estão a cargo e sob a fiscalização e conservação das Câmaras Municipais, Juntas de Freguesia, Comissões de Turismo, etc. // Como é evidente, os organismos oficiais que superintendem nas estradas, têm por dever vigiar a sua conservação e de prevenir tudo quanto seja necessário a fim de assegurar, em boas condições, o trânsito rodoviário e os fins para que foram construídas. No nosso concelho foi construída uma pitoresca e útil estrada que liga a estância termal do Peso e a E.N. Monção-Melgaço, o Posto Fiscal de São Marcos e a margem do Rio Minho, mesmo em frente à estação ferroviária espanhola de Arbo. Ali funciona uma barca destinada ao tráfego entre as duas margens do Minho: nacional e espanhola. O trânsito de passageiros por aquela barca é relativamente importante, tanto da parte de visitantes que desejam conhecer a curiosa povoação de Arbo, como dos nossos conterrâneos que, vindos de França, se aproveitam do caminho-de-ferro para regressarem definitiva ou transitoriamente a Melgaço, sua terra natal. O tráfego rodoviário pela referida estrada, sobretudo nos meses de Julho a Novembro, é muito intensivo e a estrada, ao que nos informam, está completamente deteriorada, tornando incómodo, se não impossível, o trânsito de automóvel, e de outros veículos motorizados, ou não, e até de peões! Esta estrada tem um troço de cerca de duzentos metros, desde a margem do rio até ao quartel da Guarda-Fiscal de São Marcos, que está a cargo da Direção Geral dos Serviços Hidráulicos e que se encontra muito bem conservada e com pavimento a paralelepípedos; a partir deste troço, o que se segue até à estrada nacional, cerca de oitocentos metros, pertence e está sob a fiscalização e conservação da Junta de Turismo da Estância Hidrológica das Águas Mineromedicinais do Peso, e é precisamente este troço que se encontra completamente deteriorado, tornando impossível o trânsito. Porque será que a Comissão de Turismo local não providencia quanto à reparação desta estrada, sob a sua fiscalização e responsabilidade, deixando-a chegar ao estado lastimoso atual a ponto de se tornar intransitável?! A Comissão de Turismo do Peso tem receitas próprias cuja cobrança faz regularmente, constituídas por percentagens sobre o produto das contas dos hotéis, pensões e casas de pasto da estância, alugueres de imobiliários, etc., que se destinam a melhorar, aformosear e a revestir de condições aceitáveis e agradáveis todo o recinto da estância hidrológica, com exceção do que constitui domínio particular da Empresa, bem como da zona que legalmente foi atribuída ao seu cuidado, embelezamento e fiscalização. Acresce que, quando por deficiência ou irregularidade da cobrança das receitas que lhe compete fiscalizar e receber nos prazos estabelecidos, o Secretariado Nacional de Informação (SNI), quando solicitado a tempo, no período de organização do seu orçamento, costuma prover a insuficiência das receitas das comissões de turismo por meio de subsídios substanciais. Claro é que, os subsídios, terão de ser pedidos e devidamente justificados, em momento oportuno, em relatório minucioso e esclarecedor das obras a realizar pelas comissões locais de turismo, no qual se destacarão, com o indispensável relevo, as dificuldades financeiras destes organismos, os motivos e razões do facto e do mais que convirá e se torne necessário esclarecer, a fim de facilitar uma boa apreciação da urgência e necessidade dos melhoramentos que, totalmente, não possam ser custeados pelas dotações orçamentais da Comissão. Não sabem isto os membros da atual Comissão de Turismo local?! Ou enveredaram pelos princípios nada recomendáveis da confraria do “não te rales”? E que fazem às receitas?! Têm prestado contas das cobranças? E justificado a sua irregularidade? E, bem assim documentado, devidamente, as despesas distribuídas por capítulos e ordem de prioridade? Que faz a Comissão de Turismo? Ignora o que se passa na estrada sob a sua responsabilidade? Se não querem servir com dedicação e amor, não será preferível passar os respetivos poderes a melhores mãos, mais ágeis e conscienciosas na atuação individual e cumprimento dos deveres que lhes incumbe?!» // F.S. 

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1528, de 27/9/1964: «SIMPÓSIO ADMINISTRATIVO. // Em continuação da louvável iniciativa da autoria do ilustre Governador Civil, Dr. Alfredo Eduardo Pinto, celebrou-se no salão nobre da Câmara Municipal deste concelho um colóquio dos presidentes das Câmaras Municipais do nosso distrito com a assistência da imprensa do norte do país, diária e hebdomadária. Estas reuniões periódicas (esta foi a 5.ª realizada) da iniciativa do 1.º magistrado do distrito, têm sido efetuadas com excelentes resultados nas sedes dos municípios, a convite dos respetivos presidentes, em dias previamente fixados, e visam ao contacto das autoridades administrativas em ordem a uma troca geral de impressões sobre os problemas mais instantes do concelho anfitrião e, por acréscimo, sobre os assuntos mais urgentes e mais prementes no quadro do progresso dos municípios e do engrandecimento das terras do distrito. A par destas úteis sessões de trabalhos municipalistas visam também a contribuir para um melhor conhecimento pessoal entre os presidentes das Câmaras do distrito e destes com o Governador Civil, bem como a apertar os laços de união e amizade entre as autoridades responsáveis pela administração municipal, em saudável espírito de confraternização e de admirável desejo de bem servir. Não há dúvida que estes colóquios constituem uma louvável novidade, lançada pelo dinâmico e bairrista Dr. Alfredo Pinto, de modo a viver os problemas dos concelhos do distrito e a discuti-los, com plena e total liberdade de opiniões e conceitos realizadores. Doutrinariamente estas reuniões assentam em uma base de pura democracia, pela livre expressão dos diálogos e do movimento de opiniões, dentro da tolerância, da ordem, do estudo e do espírito de bem servir dos comparticipantes e ainda da unidade entre o chefe do distrito e dos seus imediatos colaboradores. E para que as conclusões não fiquem encerradas em uma caixa de marfim, inacessíveis ao conhecimento e apreciação do povo do Alto Minho, nelas, conclusões, interessado, a assistência dos representantes da imprensa garante, com toda a verdade e seriedade, a publicidade da discussão e da estrutura dos temas apresentados e das soluções preconizadas. Neste 5.º colóquio, sob a presidência do ilustre chefe do distrito, ladeado pelos presidentes das câmaras de Melgaço e Viana do Castelo, professor Manuel José Rodrigues e Dr. Sequeira de Campos, também estiveram presentes os presidentes das câmaras de Monção, Valença, Cerveira, Caminha, Ponte do Lima, Arcos, [Ponte da Barca] e Paredes de Coura, senhores Joaquim Santiago, Dr. Matos Lima, Guilherme Romeu, Francisco Presa, Dr. Vieira de Araújo, José Carneiro Borges, Dr. António Gonçalves Correia, e José Joaquim Gomes de Almeida; a imprensa esteve representada pelos jornais Comércio do Porto, Primeiro de Janeiro, Jornal de Notícias, Diário de Notícias, Notícias de Viana, Aurora do Lima, Povo da Barca, Notícias dos Arcos, A Voz de Melgaço e Notícias de Melgaço, e pelos jornalistas Severino Costa, José de Freitas, António Paço, Maurício Teixeira, reverendo Alberto Faria, Mário Pinto, reverendo Carlos Vaz, e Ferreira da Silva. // Aberta a sessão, o senhor presidente Dr. Alfredo Pinto salientou a vantagem destas reuniões de camaradagem, de confraternização e de amizade, agradeceu a colaboração que lhe foi dada na homenagem promovida à chegada a Lisboa do Venerando Chefe do Estado, de regresso da viagem triunfal à nossa província ultramarina de Moçambique, e a assistência ao jantar que lhe foi oferecido no Hotel de Santa Luzia, em comemoração do 1.º aniversário da investidura do seu cargo, saudou a imprensa e convidou os presentes a usar da palavra e a exporem os problemas mais instantes, em especial do concelho de Melgaço. Abriu-se debate sobre os estudos turísticos elaborados há tempos por uma Comissão e entregues superiormente, tendo prestado largos esclarecimentos o senhor Presidente Dr. Alfredo Pinto, e o senhor Dr. Matos Lima, presidente da Câmara de Valença que também ventilou o caso do horário de abertura e encerramento da fronteira o qual, durante todo o ano, deveria confinar-se ao período desde as oito horas do dia anterior às duas horas do dia seguinte. O presidente da nossa Câmara, senhor Manuel Rodrigues, tratou da eletrificação rural do nosso concelho e das taxas excessivas do Grémio da Lavoura por virtude da correção dos rendimentos coletáveis da propriedade rústica, nos termos do novo código da contribuição predial, base da incidência das referidas taxas; do problema das estradas e caminhos municipais, escolas, abastecimento de água potável e de rega, saneamento, pavimentações e arruamentos, edifícios públicos projetados e outros assuntos de oportuna realização. Todos os assuntos foram demoradamente apreciados e sobre eles o ilustre Governador Civil tomou apontamento para, dentro do possível, e do razoável escalonamento, os encomendar nas instâncias oficiais competentes. Encerrado o colóquio, a todos os participantes e assistentes foi oferecido pela Câmara de Melgaço, no Hotel Ranhada, da estância hidrológica do Peso, um bem servido almoço que decorreu com animação, tendo o senhor Dr. Alfredo Pinto renovado e completado muitas das suas afirmações, incitando os presidentes das câmaras, seus colaboradores, a insistirem nos seus patrióticos esforços no sentido de realizarem os melhoramentos estudados e planeados, em ordem ao progresso e engrandecimento dos seus respetivos concelhos; saudou de novo a imprensa e agradeceu o auxílio que lhe foi dado para bem desempenhar o seu difícil cargo, e terminou por saudar Sua Excelência o senhor Ministro do Interior e dar-lhe, telegraficamente, notícia do êxito desta reunião. Em agradecimento e retribuição dos brindes do senhor Governador Civil, agradeceram, pelos participantes do colóquio, o presidente anfitrião, senhor Manuel José Rodrigues, e pela imprensa o diretor do nosso jornal. Terminado o almoço, os participantes do colóquio e a imprensa percorreram a estrada Calçada-Fiães-Carpinteira, e visitaram o novo edifício escolar, os velhos Paços do Concelho e outros locais e edifícios que requerem conhecimento do seu atual estado. Concluindo: registamos com prazer o interesse e o valor destas reuniões, pelos resultados práticos a que conduzem e pelo seu espírito realista e salutarmente objetivo e democrático.» // F.S.          

         

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1529, de 11/10/1964: «O CINCO DE OUTUBRO. // Vão passados 54 anos sobre a data do movimento glorioso da implantação da República em Portugal. Movimento popular, idealista, (…) e patriótico, transbordou numa onda incontida de entusiasmo e de fé ardente, apeando, quase sem luta, um regime com sete séculos de existência, desacreditado pelos seus maus servidores, (…), de há muito ultrapassado por novas doutrinas e outras crenças. Revolução política que depôs o insustentável e velho trono dos Braganças, o sentimento profundo que a estruturou e tornou possível foi, sobretudo, um (…) social e uma inquietação popular, idênticas às que precederam as grandes revoluções mundiais que a história regista. A conquista das liberdades institucionais políticas essenciais à condição humana do povo, a férrea pressão exercida pelos poderes do Estado, com todas as violências que comprometem ou (…) e a demência própria de quem, tendo perdido a autoridade moral e a força material, pretende impor-se de qualquer maneira, forçando o impossível, levaram ao arranque heroico dos combatentes da Rotunda, à eclosão do movimento revolucionário do 5 de Outubro de 1910 e consequente impulso popular que proclamou a República. Enquanto nós nos ufanamos de sermos dos primeiros na Europa a abraçar as instituições republicanas, só depois da 1.ª Grande Guerra mundial os regimes monárquicos europeus soçobraram, uns atrás dos outros, qual castelo de cartas de jogar e, atualmente, salvo alguns países de feição governativa acentuadamente socialista e verdadeiramente democrática: Suécia, Noruega, Dinamarca, Holanda, Inglaterra, Bélgica e Grécia, todos os restantes se regem pelo figurino das instituições republicanas, de liberal e pura democracia. A carta política europeia revela aquelas seis monarquias para vinte e cinco repúblicas! Esta simples anotação ensina que os povos situados geograficamente dentro das nossas coordenadas adotaram, desembaraçadamente, os regimes republicanos e democráticos como sendo os melhores, os mais justos, os mais liberais, os mais humanos, e os mais sérios sistemas políticos de governação. Em Portugal, os dirigentes republicanos vindos da propaganda, mesclados das meias tintas odiosas da praga dos adesivos, politicamente quase analfabetos, cheios de boa-fé e amor fraternal, confiados, bondosos, tolerantes e humanitários, não pensaram na defesa das instituições republicanas proclamadas pelo povo e, num imprudente espírito de paz e de conciliação geral, não se aperceberam do enfraquecimento do poder que impediu o avanço progressivo da República e gerou as tragédias cruciantes a eles próprios devidas e, por eles, amargamente vividas. Vale a pena recordar algumas: conspirações e incursões monárquicas, campanhas religiosas, propaganda caluniosa dos organismos económicos e dos seus jornais, insurreições armadas, movimentos de Pimenta de Castro, Sidónio Pais, Juntas Militares, Monsanto, monarquia do norte, 18 de Abril e outros, perturbadores da ordem pública, do não cumprimento dos nossos deveres na comunidade europeia, do esforço financeiro para o equilíbrio orçamental e regularização das contas públicas e da defesa da integridade dos nossos domínios ultramarinos, pela intervenção armada nos campos de batalha de Angola, Moçambique e da Flandres, ao lado da nossa fiel aliada – Inglaterra – contra a barbárie e desacatos do boche. As forças reacionárias, animadas por sucessivas amnistias gerais que a generosidade republicana decretou, sem pensar um só momento no perigo do passado recente e criminoso, dos atentados armados e ataques políticos contra as instituições continuaram a poluir e a enganar a Nação, por via das suas organizações e de odiosas campanhas, pela palavra e pela escrita, de infames insinuações, em ordem ao descrédito e às difamações dos homens e República, em que o dinheiro e a traição desempenharam papel primacial. Pois, passados cinquenta e quatro anos, os homens que serviram a República, em altos ou pequenos cargos, sentem-se orgulhosos de terem, leal e honestamente, cumprido o seu dever, de mãos limpas, sem atos vergonhosos ou indignos, fortes no seu querer e fiéis às suas convicções. Em contraste, os monárquicos, sobretudo os ultras, neste longo intervalo, mostraram que a monarquia não os interessa como regime, mas sim pelo estômago. Não lhes perturbem a digestão. Viva a República.» // F.S.       

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1530, de 18/10/1964: «MAIS COMBOIOS E MELHORES HORÁRIOS. // «O distinto jornalista Cruz Cerqueira (CECE), (…) e bom amigo de quem escreve estas linhas, na sua habitual crónica sobre as necessidades e justos anseios do nosso distrito, publicou no considerado diário do Porto, O Primeiro de Janeiro, de 27 de Setembro último, um interessante e (…) estudo sobre as ligações ferroviárias da linha do Alto Minho, número de comboios e respetivos horários. No seu elucidativo artigo refere que, não obstante a densidade populacional e valor económico, a (…) do Alto Minho, desde o limite do distrito (…) de Barroselas à estação término de Monção com, apenas, cerca de oitenta quilómetros e que, não se compreende, nem se justifica, o abandono do projeto de prosseguir de Monção a Melgaço com o caminho-de-ferro, servindo rica região produtiva, com estâncias termais e propícia ao turismo. Acrescentamos que, além da estância termal (…) do Peso, existe entre os dois concelhos, quase a meio caminho um do outro, uma rica e abundante nascente de águas minerais na freguesia de Valadares, vizinha da estrada nacional, com variedades terapêuticas excecionais e aconselhadas no tratamento das doenças renais, da bexiga (…) e outras, consideradas únicas no género e na matéria de resultados excelentes. A exploração destas águas magníficas, de agradável bebida, leves, gasosas e de grandes virtudes (…), praticamente está abandonada! Por outro lado, como já referimos em um outro lugar, a (…) é ladeada de vinhedos e milharais, de tufos de verdura e de pomares, de onde sobressaem numerosos casais, floridos e alegres lugarejos, afogados (?) em vegetação luxuriante e projetados sobre mancha verde escura dos pinhais. A partir da junção das águas do rio Mouro com as do Minho os nossos olhos podem contemplar, maravilhados, um rosário de ermidas, oragos e casas solarengas, apalaçadas ou acasteladas, e classificadas monumentos nacionais, igrejas românicas, solares de estilo barroco por toda a parte e edifícios de bela arquitetura, mostrando reminiscências medievais, manuelinas e renascentistas. O prolongamento da linha férrea pela ribeira do Minho, servindo uma região de grande densidade populacional, atualmente próspera e economicamente independente, mercê da canalização de fartos cabedais dos emigrantes, de privilegiados horizontes e lindos panoramas turísticos, em ordem a propiciar, atrair e satisfazer turistas; e viria, de futuro, a ligar por caminho-de-ferro o país vizinho, entroncando-a com a linha Vigo-Ourense-Medina-Madrid. // A economia do troço ferroviário por construir (Monção-Melgaço), é importante e asseguraria largo tráfego pois que as águas de Valadares e do Peso, os produtos agrícola-pecuários, sobretudo o excelente vinho da região, em qualidade e quantidade, do melhor que a província produz, a par de numerosos passageiros permanentemente em trânsito, justifica plenamente o custo da construção. Por várias vezes e em outros artigos temos ventilado este momentoso assunto que, agora, Cruz Cerqueira, pela sua pena brilhante, subscreve com denodo e conhecimento perfeito encarnando a aspiração máxima dos melgacenses. Será de perguntar, novamente, se a gente de Melgaço, autoridades, funcionários, comerciantes, proprietários, etc., nados ou residentes, unidos na mesma fé e aquecidos pela chama do mesmo impulso, resolve ou não a organizar-se e a representar, coletivamente, junto do poder central, a justa aspiração de prosseguir na construção da linha férrea até à sede do concelho. Ouvimos por mais de uma vez a desculpa de que o caminho-de-ferro está ultrapassado, ao contrário do que pensamos e do que CECE escreve com justeza e verdade quando afirma: “que a importância total de deterioração das estradas pelas viaturas automóveis ligeiras e pesadas, o custo dos combustíveis e o valor do prejuízo de desgaste de material dos mesmos veículos, daria, nas zonas a que deveria estender-se a rede ferroviária para a construção de novas linhas.” E as receitas da camionagem garantiriam a exploração; “a linha férrea da Ribeira do Minho torna-se preferida à estrada por muitos turistas, alguns dos quais deixam os seus automóveis para seguir no comboio, porque têm assim ensejo de melhor apreciar as belezas da paisagem.” Não há dúvida que as viagens por caminho-de-ferro são mais cómodas, menos sujeitas a acidentes de viação, mais propícias a apreciar a paisagem, mais baratas e que em melhores condições de segurança, de ordem e de peso, transporta bagagens e mercadorias: é tudo uma questão de estudo e regularização de horários. O que está é que não pode continuar quanto ao serviço ferroviário do Minho: poucos comboios, material insuficiente e obsoleto, horários mal estudados ou inconvenientes, velocidades incontroladas e consequentes atrasos nos percursos, etc. // Assim mesmo, oxalá Melgaço pudesse queixar-se desses males que, como é evidente, serão regularizados. A propósito cabe aqui fazer uma reclamação referente à chegada e distribuição do correio, cuja entrega aos destinatários é feita entre as 16 e 17 horas e nesta quadra, pelo escuro da noite! Poderá isto continuar? Este assunto, porém, ficará para ser tratado com mais demora e apreciado em toda a sua extensão e defeitos. Não encerraremos estes ligeiros comentários sem agradecer a CECE a sua achega na campa do prosseguimento da linha férrea do Alto Minho, em que Melgaço está empenhado e de em nome de todos os melgacenses lhe apresentar as homenagens de seu grande apreço e do seu melhor e mais vivo agradecimento.» // F.S.     

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1531, de 25/10/1964: «NOVO EDIFÍCIO ESCOLAR. // Não há em Melgaço uma única pessoa, consciente, que não estivesse convencida da inauguração da abertura à população escolar da vila, no começo do atual ano letivo, do novo edifício escolar. Afinal as crianças em idade escolar de ambos os sexos, matriculadas nas classes do ensino primário oficial, continuam a frequentar as espeluncas onde as aulas são ministradas, com evidente prejuízo da aplicação dos alunos, da saúde, da higiene, e do ambiente moral dos pequeninos estudantes e dos respetivos professores. É simplesmente espantoso que as entidades responsáveis, seja qual for o departamento e ministério a que pertençam, se conservem abúlicas e indiferentes a tão grande atentado, verdadeiramente criminoso, à integridade física e moral das criancinhas melgacenses e dos seus mestres. Não bastará as circunstâncias deficientes e mais do que deficientes lamentáveis, da forma como o ensino primário é ministrado, em turmas numericamente exageradas, carecidas de material didático e mobiliário limpo e decente, com professores miseravelmente retribuídos, aos quais se exige sempre e mais competência profissional e sacrifícios que excedem os justos limites do esforço e da resistência humana! Em todo o mundo civilizado a instrução pública é objeto do mais cuidadoso estudo e do mais carinhoso interesse da parte dos orientadores e dos dirigentes da mocidade estudantil, com vista ao devir, ao dia de amanhã, aos homens do futuro que formarão a pátria, redimida dos erros do passado. As nações progressivas consideram o capital- instrução como o maior e mais produtivo capital colocado (dentro?) das sociedades e, por isso, não se poupam a sacrifícios monetários, nem ao estudo e elaboração de programas racionais e inteligentes, à formação de um ambiente apropriado e desejável e à escolha de um corpo docente de grande preparação pedagógica, bem instruído profissionalmente e decentemente pago, em ordem à execução da alta missão que lhe cabe. Na nossa peregrinação por alguns países civilizados temos notado, com infinito prazer, o minucioso cuidado que as crianças merecem aos seus educadores, a admirável organização dos programas, a quantidade e variedade do material de ensino, a limpeza dos edifícios escolares e decência do seu mobiliário, dos parques de recreio e de diversões, e o respeito e consideração de que gozam os professores de qualquer grau de ensino. Pois, entre nós, aparte a velha pecha de fazermos dos professores personagens de revista, apresentando-os em papéis ridículos ou deprimentes, num cenário pífio de carência de tudo quanto o homem necessita para fazer uma vida digna e suficiente à sua condição, as crianças, os edifícios, os programas, as facilidades escolares em livros e material de ensino, o mobiliário, os recreios, o carinho e tudo o mais que serve de atrativo aos alunos, é simples miragem e hipotética promessa escrita, nunca materializada nem sequer iniciada nos estabelecimentos de ensino. Veja-se e pasme-se do que está a suceder com o edifício das novas escolas, implantado nas costas da vila, hermeticamente fechado e vazio, não obstante terem terminado os trabalhos de construção civil e de acabamentos há muito e de se encontrar concluído e pronto a funcionar! Não funciona, porquê?! Porque neste longo período de tempo da construção ninguém se lembrou, ou lembrou-se tarde, de que as salas escolares, sem mobiliário, não podem receber e educar os alunos! E como as salas de aula continuam vazias, a inauguração do edifício foi adiada para as calendas gregas e a mocidade escolar melgacense foi outra vez recambiada para os chiqueiros, sem luz e sem ar, autênticas lixeiras, onde provisoriamente se ministra o ensino. Por outro lado, também se não vê ainda indício ou sinal da rua ou caminho de acesso ao referido edifício, de sorte que quando for mobilado as crianças manter-se-ão impedidas de o utilizar por falta de acesso! Com franqueza, isto brada aos céus, é inadmissível e vergonhoso! O que se passa não pode classificar-se no quadro da incúria e do desinteresse, é um crime para o qual não pode haver perdão. Seremos só nós a bradar: “Vox clamantis in deserto.”» (*) // F.S. /// (*) Uma voz clamando no deserto. // continua...      

 

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