sábado, 16 de julho de 2022

QUADRAS AO DEUS DARÁ

Por Joaquim A. Rocha


 

101

 

Amizade é mais que amor,

E pelo tempo perdura;

Não causa ódio, nem dor,

É sentimento, ternura.

 

102

 

Amizade não tem preço,

Não se compra com dinheiro;

Tem-na o rico e o pobre,

Existe no mundo inteiro.

 

103

 

Se a amizade se comprasse,

Era somente dos ricos;

O pobre que odiasse…

Cambada de mafarricos.

 

104

 

A amizade e o amor

São sentimento profundo;

A diferença… é a dor

Que o amor traz ao mundo.


105

 

A amizade é como o vinho:

Consome-se devagar.

Como a seda, e o linho,

Foi feita para durar.

 

106

 

A amizade nunca morre:

É como a velha esperança.

E se o tempo foge, corre,

Ela no tempo descansa.

 

107

 

A amizade é como o vento:

Ecoa em todo o lado;

Umas vezes é mais forte,

Por vezes é triste fado.

 

108

 

Não sei porque se tolera

Tamanha agressividade;

Aquela gente virou fera,

Sem qualquer humanidade.

 

109

 

Não sou menino de colo

Para me tratares assim;

Os anos já se passaram,

Não tenhas pena de mim.


110

 

Tenho uma mulher que dorme

Como um justo, inocente;

Diz-me a razão me conforme,

Os olhos que me contente.

 

111

 

Podes dormir descansada

Que eu vigio teu dormir.

Não tenhas medo de nada:

Do passado, ou do devir.

 

112

 

Deram-me um cravo vermelho,

Chamado «revolução»;

O cravo já está velho,

Mas a sua essência não.

 

113

 

O papa Paulo segundo

Foi quase abatido a tiro;

A nova foi dada ao mundo

Pelos guinchos do vampiro.

 

114

 

Tenho um fulano “amigo”

Em certas ocasiões;

Se estou bem, está comigo,

Estou mal, dá-me empurrões.


115

 

Por que me chamas, loucura,

Mesmo contra meu desejo;

Não vês que seria tortura

Dar-te na boca um beijo!

 

116

 

Não ando muito contente,

Nada há que me alegre;

Eu sou como aquela gente

Que só canta quando bebe.

 

117

 

Toda a gente tem direito

À sua cara-metade;

Seja belo, ou mal feito,

Com muita ou pouca idade.

 

118

 

O Cabaço foi cortado

Por Barroso duro e fero;

Levando o pobre coitado

Ao mais puro desespero.

 

119

 

O Cabaço dá pedrinhas,

O carvalho dá bolotas;

Rico vinho dão as vinhas,

O palhaço cambalhotas.


120

 

Pela prenda que me deu,

Obrigadinho ó Barata;

Agora vou-lhe dar eu

Uma prendinha de lata.

 

121

 

O Barata “sabe” muito,

Mais do que os sabichões;

Quando for prò outro mundo

Manda de lá as lições.

 

122

 

O Cabaço é uma pedreira,

Dá pedra como borralho;

Vai passar a vida inteira

A transformá-la em cascalho.

 

123

 

O Cabaço só tem pedras,

Até as tem no toutiço;

Talvez por comer as hedras

Em lugar de bom chouriço.

 

124

 

O Cabaço tem dinheiro,

Mas passa mal, o chumiço;

Tem pedras no mealheiro,

Até as tem no toutiço!

125

 

Ser artista é ter bem mais

Do que um talento disperso;

É sonho, quimera, arrais,

Da nau chamada universo.

 

126

 

Olhou pra mim e sorriu,

Tal Mona Lisa de agora;

Eu sei que me confundiu,

Por isso se foi embora.

 

127

 

Falei com a natureza

Em uma noite de luar;

Inda lhe resta beleza,

Mas em vias de findar.

 

128

 

Falei com a natureza,

Achei-a muito doente;

Olhou pra mim com tristeza,

Fugiu assim de repente.

 

129

 

Eu sou assim como sou,

Não podia deixar de o ser;

Não sei quem me modelou,

Se o fez com algum prazer.


130

 

Meu coração anda triste

De tanta injustiça ver;

Não sei se o pobre resiste,

Ou se vai tudo esquecer.


// continua...

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