POEMAS DO VENTO
Por Joaquim A. Rocha
SEVERA
Morreu a bela Severa,
Ainda na flor da idade;
Ai quem me dera, me dera,
Dar-lhe voz, eternidade.
Ainda na flor da idade;
Ai quem me dera, me dera,
Dar-lhe voz, eternidade.
Sabia cantar o fado,
Cantava tal rouxinol;
Nas margens do rio Sado,
Nas tascas ao pôr do sol.
Cantou para o povinho,
E para gente mui nobre;
Por uma malga de vinho,
Por vil moeda de cobre.
Teve mais de cem amantes,
Uns pelintras, outros ricos;
Gozava a vida em instantes,
Nos braços dos mafarricos.
Não teve filhos, nem filhas,
Abortou vezes sem fim;
Percorreu as trinta milhas
Nas asas de um serafim.
Ai Severa, aciganada,
De uma beleza estranha;
Eras tudo, eras nada,
Entre a virtude e a manha.
A tua voz era mel,
Do mais puro, do mais fino;
Eras doce, eras fel,
Incerta como o destino.
A tua voz era ouro,
De genuíno quilate;
Mas veio da arena o touro
E logo fez xeque-mate.
Sorveste em forte dose,
A vida que era só tua;
Mas a vil tuberculose
Roubou-te a voz e a rua.
Agora choram por ti,
Pelo teu canto divinal…
Vem. Canta pra nós, sorri.
Fadista de Portugal.
Ai! Severa fadista
ResponderEliminarcanta lá um fadinho
que aqui o Joaquim
ia gostar disso!