quinta-feira, 10 de abril de 2025

SONETOS DO SOL E DA LUA

Por Joaquim A. Rocha



 

A Noiva

No Dia do Casamento

(172)

 


Acordara risonha, atrevida,

Cheia de esperança no futuro;

Sabia que tudo é claro-escuro,

Que algo pode acontecer na vida.

 

Naquela manhã, alegre, divertida,

O devir parecia estar seguro;

Não havia fronteira, qualquer muro,

Nenhuma tempestade escondida.

 

Junto ao espelho mirou o vestido,

Branco como a neve da serra;

Bem visível a flor de laranjeira…

 

De repente, num gesto comedido,

Posídon, vindo do Olimpo à Terra,

Tira-lhe o virgo, só por brincadeira.

 

 *

  

A MORTE DE JESUS

(173)

 

Vi erguer-se, com garra, no Calvário,

A cruz de madeira, ensanguentada,

Contendo o corpo d’uma alma penada,

Vítima de um feroz tumultuário!

 

Ali perto, abraçada ao sudário,

Chorava a amante desgraçada,

Ria-se a vil turba endiabrada,

Aquele povo bruto, sanguinário.

 

Aquela multidão louca, deicida,

Gritando: «morte ao chefe dos incréus,

  Mentiroso, falso rei dos judeus…»

 

Maria, que dera àquele ser a vida,

Sentia-se quase arrependida

 Por ter gerado um mártir, um deus!

 

  

E TUDO O TUFÃO LEVOU

(174)

  

Hoje o meu plectro está moribundo,

Jaz cansado de tanto imaginar;

A inspiração mergulhou no mar,

No oceano longínquo e profundo.

 

Não há mais nada neste triste mundo

Que eu possa ou queira amar;

Pôs-se o sol, não nasceu alvo luar,

O planeta ficou feio e rotundo.

 

A alegria deu lugar à tristeza,

Os dias simulam desilusão;

Sem a luz, feneceu minha sageza.

 

Ficou triste meu pobre coração.

Apagou-se em mim toda a beleza,

Meu estro foi sugado por tufão.


// continua...

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